Conhece a história das tascas?

Conhece a história das tascas?

O surgimento das tascas

É impossível falar da história das tascas portuguesas, ou de qualquer outro lugar semelhante, sem recuar ao tempo dos romanos. Sim romanos, aquele povo antigo que tão bem dominava as artes bélicas, como dominava claramente a arte de saber viver. As tabernas difundiram-se no seio deste povo, que valorizava o convívio e o debate de assuntos do quotidiano à boleia de uma taça de vinho.

Desde então, estes lugares nunca mais desapareceram. Na Idade Média proliferaram por toda a Europa, tendo sido sobretudo espaços de confraternização e também de albergue a viajantes, tal levou a que sobrevivessem a acontecimentos marcantes como a Peste Negra.  Durante a época moderna, marcada pelos regimes absolutistas, as tabernas pouco mudaram. A sua maior evolução aconteceu já em pleno seculo XX, devido à Revolução industrial e ao desenvolvimento das cidades.

Em Portugal, as primeiras tascas derivadas das antigas tabernas surgiram nas imediações das grandes cidades, ao ritmo da industrialização que por cá foi tardia, não tendo existido sequer nenhum cálculo da produção industrial para qualquer período anterior à segunda guerra mundial. A instabilidade política da primeira Républica e adopção dum modelo económico pouco assente na industrialização são apontados como os principais factores deste processo lento.

Termopólio de Pompeia

A ajuda dada pelo Estado Novo

Ironicamente, a crise que se viveu no mundo ao longo dos anos 30 vai contribuir para o aumento do número de tascas portuguesas.  Nesta época, o poder de compra de alguns dos principais mercados para os quais Portugal exportava vinho diminui, assim, o Estado Novo decidiu levar a cabo medidas que incentivassem ao consumo de vinho por parte da população, de modo a mitigar o impacto negativo provocada pela falta de procura por parte de países estrangeiros. O nosso país era à data bastante rural e a vitivinicultura garantia o sustento de muitos, Salazar levou a cabo várias campanhas de propaganda ao incentivo do consumo de vinho através de inúmeros meios, tendo então surgido a famosa frase “beber vinho é dar o pão a um milhão de portugueses.

É a partir da década de 50 que o país vê finalmente a indústria a ganhar força e as tascas começam então a multiplicar-se, nestes estabelecimentos os trabalhadores podiam aquecer sua própria comida, para tal apenas tinham que comprar na tasca o vinho e café. As tascas foram durante anos espaços de confraternização de operários, um mundo exclusivamente masculino onde nem mulheres nem crianças deveriam entrar. A carga negativa destes locais foi crescendo, durante o Estado Novo as tascas eram obrigadas possuir uma porta de vaivém por “razões de moralidade pública” conforme escrito na lei da época.

Cartaz do Estado Novo

Nos dias de hoje

Após o 25 de Abril de 1974 os tempos foram evoluindo, as mentalidades começaram a mudar e as tascas vão gradualmente perdendo a sua conotação negativa. Outrora mundos masculinos fechados, as tascas começam a abrir as suas portas a mulheres, especialmente em meios mais pequenos onde para além de bebidas passam também a ser espaços onde se podia comprar alguns bens essenciais e saber algumas novidades.

 Actualmente, são espaços de convívio, pautados por recordações nas suas paredes, adornos que remetem para acontecimentos importantes ou visitas de pessoas ilustres. Locais que conseguem aliar na perfeição convívio e tradições gastronómicas. Entrar numa tasca sem trocar umas palavras com quem nos serve uma bebida ao balcão ou nos leva um petisco à mesa é praticamente impossível. Frases como “- Gosta do molho? é caseiro!” ou então “- `Tá bom freguês? Quer mais um bocadinho?” são autênticos clássicos numa tasca.

 

As peculiares decorações

 

As decorações presentes nas tascas são dignas de realce, a ornamentação pode ser bastante variada, por norma, relaciona-se com as tradições geográficas. Junto ao litoral é comum encontrarmos as paredes forradas por objectos ligados à faina, por outro lado, no interior, a ornamentação remete para motivos agrícolas. O aspecto rústico é também uma das características mais marcantes destes espaços. Algumas tascas mostram ainda a ligação do povo ao futebol, sendo comum encontrar por lá diversos cachecóis de clubes, em certos casos chegam a ser autênticos santuários clubistas. O mobiliário é simples, conferindo por vezes aspecto austero aos espaços, que contrasta com o calor humano com que as tascas nos recebem.