A Escola da Noite repõe “Cidade, Diálogos”, de Gonçalo M. Tavares

A Escola da Noite repõe “Cidade, Diálogos”, de Gonçalo M. Tavares

A Escola da Noite volta a apresentar em Coimbra, a partir de 14 de Abril, “Cidade, Diálogos”, com textos de Gonçalo M. Tavares. O espectáculo tem encenação de António Augusto Barros e está em cena no Teatro da Cerca de São Bernardo até ao fim do mês, de quinta a domingo, encerrando o ciclo “Trabalhos da Casa”.

“Cidade, Diálogos” é a 71.ª criação d'A Escola da Noite. Construída a partir de textos do livro “O Torcicologologista, Excelência”, de Gonçalo M. Tavares, conta com as interpretações de Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Paula Garcia, espaço cénico de António Augusto Barros e João Mendes Ribeiro, figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção, luz de Danilo Pinto, som de Zé Diogo e vídeo de Eduardo Pinto.

Estreou em Maio de 2021 e regressa agora ao palco do TCSB, no âmbito do ciclo “Trabalhos da Casa”, com o qual A Escola da Noite assinala o seu trigésimo aniversário. A nova temporada decorre entre 14 e 30 de Abril (excepto no dia de Páscoa), de quinta a domingo (quintas e sextas às 19h00, sábados às 21h30 e domingos às 16h00).

 

O Torcicologologista, Excelência

Publicado pela Editorial Caminho em 2015, “O Torcicologologista, Excelência” divide-se em duas partes: “Diálogos” e “Cidade”.

Na primeira, “duas excelências, dois senhores que se tratam com muito respeito vão falando sobre várias questões e acima de tudo sobre o absurdo da linguagem, tentando entender o mundo e tentando entender os buracos da linguagem”. “O diálogo – afirmou Gonçalo M. Tavares a propósito deste livro – obriga a aparecerem coisas que não apareceriam de outra maneira. O diálogo verdadeiramente diálogo é aquele que me obriga a dizer algo que eu não diria se não tivesse um interlocutor”.

Na segunda parte, um número indeterminado de humanos cumpre um ritual de voyeurismo cínico. Através de microscópicas visões das pequenas tragédias, gestos, afectos, paixões e equívocos dos observados, parecem perseguir a utopia de radiografar, apreender, a vida da cidade, o pulsar da sua humanidade. “É uma espécie de zoom por uma cidade, tentando pensar o que é uma cidade”, afirmou o autor.

Cidade, Diálogos

O espectáculo d'A Escola da Noite cruza as duas partes do livro e prossegue a “investigação sobre a linguagem” que o próprio escritor assumiu como característica da obra: quanto às relações entre as palavras e o movimento, o espaço e a música e quanto ao lugar do indivíduo nesse processo de relação com o outro – emissão/recepção; fala/escuta; poder/submissão; pontos, meios e focos de observação das cidades e do mundo em que habitamos.

A escolha da obra de Gonçalo M. Tavares insere-se numa das linhas de trabalho em que assentam o projecto e a linguagem artística d'A Escola da Noite: a transposição cénica de textos não especificamente teatrais – poesia, contos, parábolas –, caminho que levou já a companhia a autores como Thomas Bernhard, Kafka, Ruy Duarte de Carvalho, Javier Tomeo ou José Rubem Fonseca, entre outros.

 

Gonçalo M. Tavares

Gonçalo M. Tavares nasceu em Luanda em 1970. É autor de uma vasta obra que está a ser traduzida em cerca de cinquenta países. É considerado um dos mais inovadores escritores europeus, pela forma como rompe as habituais fronteiras entre géneros literários - “não há nenhum género literário puro, todos os géneros literários são impuros, mestiços, morenos, são géneros literários de infinitas raças simultâneas”, afirmou numa entrevista, em 2018. Foi distinguido com mais de vinte prémios literários, em Portugal e no estrangeiro.