Edson Chagas inaugura "Factory of Disposable Feelings"

Edson Chagas inaugura "Factory of Disposable Feelings"
Fotografia: D.R.

O artista angolano Edson Chagas (Luanda, 1976) inaugura no Hangar - Centro de Investigação Artística, a 23 setembro, a exposição "Factory of Disposable Feelings".

Com curadoria de Ana Balona de Oliveira, esta exposição  apresenta uma das mais recentes séries fotográficas do artista, realizada no bairro do Cazenga em Luanda, entre 2017 e 2018. Tendo sido anteriormente apresentada a solo apenas na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2019, "Factory of Disposable Feelings" é apresentado agora pela primeira vez em Lisboa numa nova configuração, incluindo imagens inéditas.

Esta série dá continuidade às indagações que singularizam a obra de Chagas, nomeadamente a atenção às relações vivenciais e afetivas que os sujeitos estabelecem com objetos e espaços quotidianos, contrariando rápidos ritmos de consumo através de um olhar desacelerado que perscruta em proximidade matérias, formas e texturas descartadas. 

Contudo, a série marca simultaneamente uma espécie de viragem, na medida em que, ao contrário de séries anteriores realizadas em vários espaços públicos urbanos a Norte e a Sul, vagamente identificados (as ruas e praias de Luanda, Veneza, Londres e Newport, etc.), nesta série, pela primeira vez, o fotógrafo concentrou-se nos espaços interiores e exteriores de uma arquitetura específica. Trata-se da Fábrica Irmãos Carneiro no Cazenga, em Luanda, uma antiga fábrica têxtil fundada no período colonial, que, pertencendo a uma família luso-angolana, continuou a laborar após a independência de Angola e durante as várias fases da guerra civil (1975-2002), produzindo lençóis, fraldas e uniformes militares, etc. Mais recentemente, foi redirecionada para a produção de utensílios agrícolas, tendo sido parcialmente abandonada.

Através da sua própria experiência corpórea e afetiva do espaço e de conversas não só com os seus donos, mas principalmente com os seus antigos trabalhadores, muitos dos quais se tornaram seguranças do edifício após o encerramento da fábrica, Chagas compôs uma espécie de retrato em sequência aberta, simultaneamente íntimo e dialógico, de um espaço múltiplo: situado algures entre as particularidades desta arquitetura e as dinâmicas alargadas do bairro, da cidade e do país; entre a história coletiva e a memória individual; entre a objetividade concreta da matéria e da máquina (tanto a fabril como a fotográfica) e a subjetividade da experiência e do olhar. A intensidade das vivências partilhadas impregnou de memória os objetos e o espaço, que, embora evidenciando perda, se transmutaram em arquivos afetivos excedendo poeticamente os limites do visível e do documentável. Símbolo do próprio país em suspenso e dos vários projetos de suposta modernidade e modernização que atravessaram a sua história, a fábrica abandonada nunca deixou de ser reocupada, reapropriada e reativada por um ativo labor de memória e desejo, incluindo as futuridades passadas e presentes que falta cumprir.  

Esta exposição é de entrada livre e está patente do Hangar - Centro de Investigação Artística, em Lisboa, até ao dia 5 de novembro.