Há mais de um século a fazer história

Há mais de um século a fazer história
Fotografia: Ana Margarida Gomes e Tiago Canoso

Foi no início de 2013 que surgiu a Associação do Bairro Novo, com o objetivo de promover e dinamizar a zona. “Se os lojistas estiverem unidos numa associação que os represente é evidente que a sua forma de comunicar passa a ser melhor, consegue chegar aos organismos com outro impacto. A associação tornou-se num veículo de informação, desmistificando o que é abrir um estabelecimento comercial. As pessoas perderam o receio de criar o seu próprio negócio”, revela Rui Duarte, Secretá- rio da Junta de Freguesia de Buarcos.

Desde a criação da Associação que já surgiram mais de 20 lojas no Bairro Novo. “Começa a perceber-se uma situação muito engraçada, estes comércios que estão a abrir estão a implementar um ar moderno e a respeitar as histórias das populações”, refere Rui Duarte.

Neste momento o Bairro Novo já tem 104 associados, estando numa zona que engloba oito dos dez hotéis da Figueira da Foz, assim como o casino. “O casino é uma alavanca cultural bastante grande. O Bairro leva gente para o casino mas o casino também traz muita gente para o Bairro”, frisa Ana Machado, presidente da Associação do Bairro Novo.

Sendo uma zona de passagem, o Bairro é uma zona de encontro entre as pessoas e a praia. Atualmente do início do areal até ao mar são 1400 metros. “A praia está cada vez mais longe da Figueira e a Figueira está mais longe da praia. É preciso trazer as pessoas da praia ao Bairro Novo. Antes havia um grande fluxo de trânsito no Bairro, mas com as rotundas o trânsito foi desviado. O Bairro Novo é um bocadinho como a última estação de metro, onde só se vai se valer a pena. Deixou de ser um nó onde as pessoas se encontravam”, frisa João Damasceno, presidente da Associação comercial e industrial da Figueira da foz.

Em abril de 2014 foi suspenso o plano de pormenor que vigorava no Bairro Novo desde 2008. “O plano era extremamente castrador e estava desajustado. Se o bairro está a crescer e temos falta de estacionamento faz sentido que deixem alterar o rés do chão ou a cave. Mandar reconstruir o mais parecido possível mas com um laivo de modernidade e conceitos de habitação que não são os de antigamente. Sem alterar significativamente a estrutura do bairro, porque ele é realmente romântico, bonito e único na Figueira Foz”, frisa Ana Machado. João Damasceno acrescenta: ”Acho que é uma oportunidade para se refletir. A nossa posição tem sido que as ruas têm dois objetivos: são vias de comunicação e são pontos de encontro. No verão é importante privilegiar o convívio e a segurança das pessoas naquela zona, no inverno e fora das épocas festivas privilegiar o aspeto de via de comunicação”.

Quanto ao presidente da câmara da Figueira da Foz, João Ataíde, salienta: “O plano de pormenor condicionava muito o processo de requalificação do próprio Bairro, era extremamente exigente e muito ambicioso. Nós temos as medidas preventivas necessárias para que não haja um abuso de construção urbanística no espaço, tendo como critério principal a preservação do património arquitetónico existente em especial aquele que retrata a belle époque”. O presidente da câmara acrescenta estar preocupado com a atividade comercial. “Pode haver duas ou três lojas âncora, mas as outras têm que ser um produto diferenciado, pós-modernista e criativo. Não interessa lojas que não funcionem. No ano passado estiveram no Fusing empresas com apresentação de produtos de grande criatividade”. Relativamente à alteração das fachadas dos edifícios a Câmara está a desenvolver uma política pedagógica junto dos proprietários no sentido de estes se responsabilizarem. “Isso é o primeiro passo para entrarmos numa política de reabilitação, porque há uma beleza natural no espaço”, saliente João Ataíde.

O Bairro novo foi construído de raiz vocacionado para o turismo, acompanhando uma moda europeia. Tem uma configuração típica especial de verdadeiro lazer. Noa anos 80 e 90, com algumas intervenções, algumas casas foram deitadas abaixo. O processo de regeneração do forte de santa catarina gerou um espaço muito amplo à volta do próprio castelo. Também o mercado foi requalificado recentemente, estando pronto para receber alguns serviços como as águas da figueira. “Esperemos com isto que se consolide a regeneração do Bairro Novo com um espaço diferenciado”, refere João Ataíde. Houve pavimentação de quase todas as ruas do bairro Novo. “Estamos preocupados com uma solução para o edifício do trabalho, que é um elemento estranho metido numa zona nevrálgica do Bairro, uma obra que infelizmente foi licenciada nos anos 80 e hoje é de utilidade nula”, refere o presidente da Câmara.

Nas últimas autárquicas a junta de São Julião, à qual pertencia o bairro Novo, ficou junta com a de Buarcos. “Enquanto junta de freguesia tentamos minimizar o impacto, até porque mantemos abertos os dois espaços físicos de atendimento e tentamos ter uma presença no terreno, junto das pessoas. Agora é evidente que tratar de um espaço como o Bairro Novo é completamente diferente de Buarcos, que é uma zona mais popular, mais pitoresca, de onde a beleza vive exatamente disso. Aqui do galante para sul estamos a falar de uma zona muito mais urbana, com outro tipo de moldura, até temos um casino, é mais metrópole. A grande diferença é essa, nós também respeitarmos a identidade dos próprios espaços, temos que saber a identidade do espaço que existe e promove-lo. Acho que a grande riqueza desta freguesia é mesmo isso, a grande diversidade cultural que possui neste momento”, revela a Junta de freguesia.

 

Eventos a realizar

 

“Tenho tido muita preocupação em que as nossas coletividades participem ativamente e sejam o primeiro espetáculo de receção e identificação do próprio concelho”, frisa o presidente da Câmara. Vários eventos vão decorrer este verão no Bairro Novo. Até meados de setembro está a decorrer a esplanada viva, em que há amostras de artesanato, produtos da gastronomia local e música. Durante o verão, os próprios bares têm animação. Vai decorrer uma mega aula de zumba e o fusing, à semelhança do ano passado, o sunset rfm, o festival pirata e feiras de artesanato. “Todos os eventos que a associação tem organizado têm sido positivos, dão cor, alegria e uma energia positiva. O casino é absolutamente central. O casino é o Bairro Novo, o Bairro Novo é o casino. Uma critica às pessoas do Bairro Novo é que uma pessoa sai ao sábado de manhã para tomar o pequeno almoço e não há nada aberto”, refere João Damasceno. “A dinâmica turística hoje é muito mais exigente e nós também temos a perceção e o meu grande objetivo encadear uma atividade ocupacional muito vocacionada para a prática desportiva, para um turismo mais exigente, birdwatching, circuitos pedonais, eventos associados ao desporto, ecobike, maratonas. No fundo é isto tudo que fortalece a atividade turística. E depois há a avenida maritima, com dez quilómetros de orla vocacionada para passeio”, revela o presidente da câmara.

“Não pode ser um bairro a viver dos anos 50 em que era considerado a rainha das praias de Portugal, nós não queremos viver do século passado. Não é nossa intenção reflorir o passado, queremos florir o futuro”, finaliza Ana Machado.