12ª edição do GUIdance abraça a diferença e dança com ela
Festival Internacional de Dança Contemporânea apresenta-se em 2023 ao longo de onze espectáculos, conversas, debates, masterclasses, visitas às escolas, uma exposição e uma oficina para famílias, entre outras actividades paralelas.
E tudo acontece de 2 a 11 de Fevereiro, em Guimarães.
Nesta 12ª edição do GUIdance, que decorre de 2 a 11 de Fevereiro, a transformação em curso vai colocar-nos novos problemas e sugerir modos (mais) sensíveis de agarrar a felicidade que nos aguarda. Isto, ao longo de onze espectáculos – entre estes, quatro estreias nacionais, duas coproduções e três projectos seleccionados para a Aerowaves Twenty22 (rede europeia que A Oficina integra com a representação do Centro Cultural Vila Flor), três conversas pós-espectáculo, duas masterclasses, dois debates, visitas de embaixadores da dança a quatro escolas de Guimarães, uma exposição, uma oficina para famílias e ainda a exibição do registo integral do espectáculo “Endless”.
O programa deste ano destaca a Companhia Dançando com a Diferença com três obras e fecha com “Jungle Book reimagined” de Akram Khan, numa clara alusão à importância do humanismo e da relação com a Natureza. Os holofotes apontam igualmente para criadores portugueses e estrangeiros – como Gaya de Medeiros, Jesús Rubio Gamo, Marco da Silva Ferreira, Rui Horta, François Chaignaud, Tânia Carvalho, Jacopo Jenna, Alfredo Martins, Cassiel Gaube e Vânia Doutel Vaz – que desfilam nos palcos do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e do Teatro Jordão, ainda com actividades paralelas a estender-se até à Casa da Memória e escolas, para navegar em conjunto com o público pelos vários espaços da cidade de Guimarães.
Criado em 2011, na antecâmara de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, o GUIdance tem trazido a Guimarães algumas das mais conceituadas companhias e criadores nacionais e internacionais, que convivem num programa de duas semanas que celebra, acima de tudo, a dança contemporânea enquanto expressão artística capaz de despertar as mais diversas emoções. Continuando a apresentar-se como um estímulo à criação artística, integra numerosos espectáculos, bem como uma vertente de formação na área da dança, posicionando Guimarães no circuito internacional da dança contemporânea.
A propósito desta edição, o director artístico do festival, Rui Torrinha, refere que "sendo um lugar de especulação sobre o impossível, o GUIdance é ao mesmo tempo um lugar de transmissão e de transformação do ser.” E é nesse mesmo âmbito que “Esse sentido dos corpos ‘outros’ vai estar na linha da frente desta edição. Esses que fogem à norma seja ela qual for, porque a sua natureza está em permanentemente processo de superação.”
A edição de 2023 do festival dá o primeiro passo já a 2 de Fevereiro (quinta-feira), às 21h30, com uma celebração onde um colectivo de pessoas trans experimenta um ritual de afectos e fábulas. “BAqUE”, de Gaya de Medeiros, é um espectáculo-concerto coproduzido por A Oficina / Centro Cultural Vila Flor que procura responder à pergunta “e se o meu corpo não viesse antes de mim, eu falaria sobre o quê?”, propondo (re)narrar o mundo e as relações que nos conectam com a existência: falar de tudo o que nos vibra na vida e de tudo o que nos faz parar de vibrar nela.
Na noite de sexta-feira, 3 de Fevereiro, à mesma hora, o público depara-se com dois espectáculos em que a companhia Dançando com a Diferença se junta aos coreógrafos François Chaignaud e Tânia Carvalho para apresentar as peças “Blasons” e “Doesdicon”. Em “Blasons” (Brasões), de François Chaignaud, os artistas da Dançando com a Diferença comprometem-se a recuperar a dinâmica do brasão e a revertê-la. Os bailarinos não são mais os corpos estranhos, magníficos ou curiosos que passamos a observar e esquadrinhar – eles oferecem-se para nos mostrar a sua maneira de brasonar o mundo. Em “Doesdicon” (um anagrama da palavra ‘escondido’), peça concebida por Tânia Carvalho, os movimentos fixos são libertados. Criada em 2017, agora em remontagem no GUIdance, “Doesdicon” é uma criação enigmática, inspirada no corpo dos intérpretes, que procura mostrar o que muitas vezes está escondido.
No primeiro de dois fins de semana atravessados pelo festival, a tarde e a noite de sábado (4 Fevereiro) vestem-se com três espectáculos. Primeiramente, somos defrontados com dois projectos seleccionados para a Aerowaves Twenty22: às 18h30, o coreógrafo, performer e cineasta italiano Jacopo Jenna apresenta “Some Choreographies” em estreia nacional. Um diálogo entre a bailarina Ramona Caia e uma série de vídeos projectados (com a colaboração de Roberto Fassone) de diferentes estilos de dança e sequências de movimentos. A coreografia desdobra-se num processo mimético de uma multiplicidade de elementos retirados da história da dança e da performance contada pelo cinema e a internet; pelas 21h30, abre-se espaço para mais uma estreia nacional, desta feita trazida pelo coreógrafo espanhol Jesús Rubio Gamo. Dramático e extraordinariamente visceral, “Gran Bolero” traz-nos uma nova dimensão da famosa composição de Ravel. Nesta coreografia, seis bailarinos de Madrid e seis bailarinos de Barcelona juntam-se para revisitar a partitura composta por Maurice Ravel em 1928 como se tratasse de uma transcrição orquestral de uma dança tradicional espanhola. Pouco depois, esta noite termina com “Silent Disco” em palco (23h30), num espectáculo imersivo que acontece em discotecas, explorando o potencial da tecnologia das festas ‘silent disco’. Nesta peça de Alfredo Martins, o público forma uma comunidade temporária, guiada através de auscultadores pelo espaço vazio da discoteca, num trabalho que procura especular sobre a natureza do clubbing como um acto de resistência, capaz de reconfigurar formas de reflexividade, afectividade e corporalidade.
Recuperado o fôlego dos primeiros seis espectáculos, a segunda semana promete manter o ritmo e o entusiasmo com mais cinco criações. Na noite do dia 8 de Fevereiro (quarta-feira), às 21h30, o público encontra-se com a "Carcaça" do coreógrafo e bailarino português Marco da Silva Ferreira, uma peça onde um elenco de 10 performers forma um colectivo que pesquisa sobre a sua identidade colectiva num fluxo físico, intuitivo e despretensioso do corpo, da dança e de construção cultural. O dia seguinte (9 Fevereiro) mostra-nos “Beautiful People”, uma obra de Rui Horta com a companhia Dançando com a Diferença que torna mais visível a brutalidade e a injustiça com que a sociedade trata a pessoa com deficiência, não a escondendo nem a embrulhando em sentimentos de piedade. A semana prossegue às 21h30 de sexta-feira (10 Fevereiro) com a estreia nacional de mais um dos projectos seleccionados para a Aerowaves Twenty22 – “Soirée d'études”, uma peça que nasceu da paixão do coreógrafo e bailarino belga Cassiel Gaube pelo vocabulário da house dance. O último dia desta edição do GUIdance (11 Fevereiro) coloca-nos sobre a mesa dois espectáculos que prometem despertar-nos sobremaneira os sentidos com duas imponentes doses sensoriais. A criadora Vânia Doutel Vaz surpreende-nos às 18h30 com “O Elefante no Meio da Sala” – uma peça coproduzida pel’ A Oficina / CCVF que, à semelhança do título, não deve ser ignorada. Esta grande celebração das artes e da dança em particular encerra com a Akram Khan Company a estrear “Jungle Book reimagined” em Portugal (21h30), espectáculo dirigido e coreografado por Akram Khan que aqui reinventa a viagem de Mogli – a partir do clássico “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling – através dos olhos de um refugiado climático, tocando na necessidade intrínseca de nos relacionarmos uns com os outros e na importância de nos conectarmos e respeitarmos a natureza.
As habitualmente essenciais actividades paralelas surgem reforçadas nesta edição com diversos momentos que ao longo do festival interligam público e artistas para o surgimento de novas afinidades artísticas e humanas. Algo que acontece nas conversas pós-espectáculo com Henrique Amoedo, Marco da Silva Ferreira, Akram Khan Company, nas masterclasses com esta mesma companhia do Reino Unido e com Jesús Rubio Gamo, nos debates com o mote “Natureza, TRANSformação e outras praticas sensíveis: a felicidade que nos aguarda” moderados por Claudia Galhós, na acção promovida pela unidade de Educação e Mediação Cultural d’A Oficina Embaixadores da Dança que levam Gaya de Medeiros e Henrique Amoedo até às escolas e no sentido inverso promovem o contacto do público escolar com os espectáculos, e ainda com a exposição “Dança” – ilustrações realizadas para o livro com o mesmo título, escrito por Inês Fonseca Santos e ilustrado por André Letria – e uma oficina para famílias a cargo da editora Pato Lógico, e também a exibição do registo integral do espectáculo “Endless” (que esteve em cena no CCVF em Abril de 2022), realizado por Eva Ângelo, acompanhada por uma conversa com Henrique Amoedo (Dançando com a Diferença).
Os bilhetes para os espectáculos encontram-se disponíveis por valores entre os 5 e os 10 euros, podendo ser adquiridos online em aoficina.pt e presencialmente nas bilheteiras de equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) ou a Loja Oficina (LO), bem como nas lojas Fnac, Worten e El Corte Inglés. Esta edição contempla também a possibilidade de aquisição de assinaturas que garantem acesso a 2, 3 ou 4 espectáculos à escolha, com descontos de 20%, 30% e 40% respectivamente, disponíveis em oficina.bol.pt.