Barro Negro de Molelos mais perto de ser património imaterial

Barro Negro de Molelos mais perto de ser património imaterial
Fotografia: D.R.

A Câmara Municipal de Tondela vai submeter o processo de fabrico do Barro Negro de Molelos ao Inventário Nacional de Património Imaterial. O anúncio da apresentação da candidatura foi feito esta sexta-feira (21 de Abril) pela presidente da autarquia, Carla Antunes Borges, durante as comemorações do quinto aniversário da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica (APTCVC), que este ano se comemorou em Tondela.

“Já iniciámos o trabalho de preparação da candidatura, a conclusão e a aprovação não depende só de nós, depende também das entidades que o vão apreciar. O que desejamos é que seja um processo célere, mas não podemos apontar datas para a sua conclusão. Aquilo que podemos dizer é que é nosso compromisso e que estaremos próximos, atentos e motivados para que este processo se conclua o mais rapidamente possível”, afirmou.

Segundo a autarca, após a certificação do Barro Negro de Molelos este processo de classificação como património imaterial será “a cereja no topo do bolo” num dos produtos mais característicos do concelho.

“Tenho poucas dúvidas que isto não vai ser concretizado. Pode não ser no próximo mês, daqui a dois, três meses, mas seguramente vai ser concretizado e naquilo que depender de nós seguramente vai acontecer”, sustentou.

Carla Antunes Borges explicou ainda que o caracteriza o Barro Negro “não é só a argila”, mas “forma como ele é confeccionado, como é cozido, e o processo da cozedura, a Soenga, assim como o conhecimento que foi transportado ao longo dos séculos, ao longo de gerações de família em família”.

Já a coordenadora da candidatura ao Inventário Nacional de Património Imaterial, Celeste Afonso, adiantou que o processo de classificação do processo de fabrico do Barro Negro iniciou-se há um ano com a inventariação, estando agora o projecto “na fase de submissão da candidatura”.

“Acreditamos que daqui a seis meses estaremos a celebrar a entrada do Barro Negro de Molelos no Inventário Nacional”.

Para preservar, proteger, promover e valorizar o Barro Negro, a candidatura ao Inventário Nacional, apresentada pelo Município de Tondela, propõe-se a levar a louça preta de Molelos a seminários internacionais, para este saber fazer ser partilhado. É também defendida a criação de um curso de cerâmica e do barro negro e a construção um espaço que conte a história deste produto secular, entre outras medidas.

Presente na cerimónia, a directora Regional do Centro, Susana Menezes, garantiu que o organismo que lidera tem procurado “dar apoio às candidaturas ao Inventário Nacional” que têm surgido na região.

“Somos um parceiro activo e privilegiado das comunidades na defesa das culturas, artes e património”, afirmou.

A responsável disse ainda que estas “candidaturas e a entrada destas manifestações no Inventário Nacional de Património Imaterial são já um primeiro e muito necessário ato de preservação e de valorização do património cultural imaterial e, consequentemente, também uma valorização e preservação das múltiplas memórias e identidades que formam os territórios e que nos distinguem enquanto comunidades”. 

 

Duas mulheres entre os sete oleiros

Molelos tem ainda sete oleiros, entre eles estão duas mulheres. A presidente da Câmara de Tondela, Carla Antunes Borges, agradeceu publicamente aos artesãos a sua “capacidade de resistência ao longo dos tempos, motivação, dedicação, dinamismo e modernidade”.

“Dar aqui uma nota muito importante e que é diferenciadora da tradição ancestral, que é o facto de termos mulheres oleiras e aqui uma palavra para a Xana e Fernanda pela diferenciação e cunho que trazem a esta forma de fabrico que deixou de ter o cunho mais masculino e que quebraram tradições e trouxeram a modernidade dos tempos para a olaria”, referiu a autarca. 

Celeste Afonso acrescentou que “o barro negro está mais do que vivo, é contemporâneo e preserva o saber fazer ancestral” e afastou a ideia de os sete oleiros de Molelos viverem com dificuldades, dado que se dedicam em regime de exclusividade a este ofício.

As celebrações do quinto aniversário da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica arrancaram a meio da manhã, com uma Assembleia Geral da colectividade, que decorreu no Mercado Velho de Tondela.

Seguiu-se a sessão solene no salão nobre da Câmara Municipal, onde a APTCVC atribuiu, pela primeira vez, quatro distinções honoríficas. Foram entregues medalhas de cerâmica a representantes do mestre Manuel Cargaleiro e da ceramista Rosa Ramalho (a título póstumo). Ao técnico e investigador natural de Tondela Hélder Abraços e à empresa CS Coelho da Silva, SA foram atribuídas Menções Honrosas.

Depois do almoço, seguiu-se a apresentação da candidatura do Barro Negro de Molelos ao Inventário Nacional de Património Imaterial, que teve lugar no Mercado Velho de Tondela. As celebrações continuaram com uma visita ao Museu Municipal Terras de Besteiros e terminaram com uma merenda. A chuva, que caiu no período da tarde, levou a uma alteração do programa festivo.