CIAJG inicia 2023 a imaginar o futuro, olhando o presente e passado, com várias artes e artistas a gravitar na sua órbita

CIAJG inicia 2023 a imaginar o futuro, olhando o presente e passado, com várias artes e artistas a gravitar na sua órbita
Fotografia: Paulo Pacheco

Num novo ano com forte ignição artística, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) abraça 2023 com um abraço que se expande a todos nós, acompanhado de manifestações artísticas diversas, com as artes visuais a ocupar um lugar nuclear no seu programa. E o cinema surge na Black Box do Centro já a 24 de Janeiro com o filme "Natal 71" pelas mãos e olhar da realizadora Margarida Cardoso. A acompanhar este início de ano, várias exposições – “Atirando Pedras”, “A Exposição da ZDB”, “Heteróclitos: 1128 objectos” – transitam harmoniosamente para o novo calendário e mantêm-se prontas para serem vividas por todos os que abracem o desafio de explorar este centro de arte contemporânea – com vários tempos, latitudes e longitudes no seu interior – localizado em Guimarães.   

Tendo como base do seu projecto cultural a colecção do artista José de Guimarães, composta por arte africana, arte pré-colombiana, arte antiga chinesa, e um conjunto representativo da sua obra, o CIAJG prossegue e reforça –  a partir de formas culturalmente diversas de conhecer o mundo, expressas na colecção – uma programação regular de exposições e programas públicos, sempre com um sentido diverso, inclusivo e plural. 

Já a 24 de Janeiro (22h00), o CIAJG exibe “Natal 71”, da realizadora Margarida Cardoso, num momento cinematográfico aberto a todos, contando com uma conversa no final conduzida por Paulo Cunha (Cineclube de Guimarães) e Marta Mestre (CIAJG). Este documentário de Margarida Cardoso, fala-nos sobre a realidade da altura do regime ditatorial de Salazar. A própria retoma o título do disco produzido pelo Movimento Nacional Feminino, que foi oferecido pelo Natal aos militares portugueses em guerra no Ultramar com mensagens de cantores de fado, actores e jogadores de futebol a exaltar o sentimento nacionalista para lhes levantar a moral. Paralelamente, os soldados portugueses em Moçambique gravam clandestinamente o “Cancioneiro de Niassa”, uma cassete com músicas que exprimem a sua revolta contra o regime. Este é um documentário – produzido por Maria João Mayer, com direcção de fotografia de Lisa Hägstrand, som de António Figueiredo, António Pedro Figueiredo e José Barahona, e montagem de Pedro Ribeiro e Anne Brotons – onde são apresentadas duas realidades distintas: a ficção da propaganda e a realidade da guerra colonial.


E são várias as propostas que convivem no tempo e no espaço com a exposição permanente, “Heteróclitos: 1128 objectos”, prontas para serem contempladas e vividas, para nos continuar a surpreender e, muito provavelmente, fascinar. 

Em “Atirando Pedras”, a primeira exposição da artista hispano-brasileira Sara Ramo em Portugal, patente até 5 de Março no CIAJG, podemos contactar com a ambiguidade da condição humana, a falha e o avesso, as forças que irrompem de vozes silenciadas, a inversão da linguagem que alude ao Carnaval. Tudo isso perpassa os objectos que Sara Ramo (n. Madrid, 1975) cria e as relações que tece, em instalações que capturam os sentidos de quem visita. À semelhança das suas mais recentes exposições, no Museu Reina Sofia, em Madrid, ou na Capela do Morumbi, em São Paulo, cidades onde a artista vive e trabalha, “Atirando Pedras” – com curadoria de Marta Mestre – dá a conhecer, finalmente, uma das artistas mais “desconcertantes” da sua geração. 

Outra mostra que pode ser explorada até 5 de Março no CIAJG é a "A Exposição da ZDB", que apresenta pela primeira vez um conjunto de artistas e trabalhos que são referência para a Galeria Zé dos Bois (ZDB), um dos espaços culturais mais dinâmicos e experimentais em Portugal no campo das artes visuais, performance, música, clubbing. A maioria dos trabalhos apresentados resultam de processos de criação colaborativos nutridos por residências artísticas, viagens e derivas. É esse “processo”, em que o somatório das idiossincrasias e linguagens poéticas potencia a criação do novo, que a exposição apresenta, numa montagem que privilegia a aparição de cada trabalho, mas também os seus diálogos em constelação. 

A diversidade, capitaneada pela experimentação, pelo que ainda não existe, revela-se nesta exposição inédita produzida pelo CIAJG e pela ZDB, com curadoria de Marta Mestre e Natxo Checa, contam-se as participações de um vasto conjunto de artistas que fazem parte da história deste espaço como Gabriel Abrantes, Patrícia Almeida, João Alves, Tiago Baptista, Von Calhau, Maria Capelo, Miguel Carneiro, Francisca Carvalho, Isabel Carvalho, Mattia Denisse, António Júlio Duarte, Alexandre Estrela, Joana Fervença, Marco Franco, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, Pedro Henriques, Igor Jesus, Anne Levebvre, Tomás Maia e André Maranha, João Marçal, Fala Mariam, Mané Pacheco, Gonçalo Pena, António Poppe, Adriana Proganó, Jorge Queiroz, Rigo 23, Yonamine, entre outros.    

Já no que concerne à exposição “Heteróclitos: 1128 objetos”, podemos conhecê-la viajando através das oito salas que ocupam todo o piso 1 do museu num momento inédito em que o público pode ver, pela primeira vez, toda a colecção do CIAJG. Este acervo é assim composto por 1128 objectos de artes africanas, pré-colombianas, chinesas e obras do artista José de Guimarães. Esta é uma exposição-ensaio que mostra a totalidade deste acervo e que reflecte sobre as relações entre linguagem, sujeitos, história e política. A crise dos objectos e das suas representações, que fricciona constantemente com o nosso quotidiano, identidades e heranças, é aqui encenada artisticamente sob um mesmo gesto aglutinador que reúne acervos ditos “extra-europeus” e arte contemporânea, peças artísticas e religiosas, materiais provenientes de várias geografias e culturas do mundo.  

Com curadoria de Marta Mestre e a colaboração dos arquitectos André Tavares e Ivo Poças Martins (Dafne, Porto), esta exposição possui uma montagem deliberadamente experimental, que procura fluidez entre as ‘reservas’ e as salas de exposição, sublinhando o ‘trânsito’ e o ‘tempo’ de objectos tão distintos como os que compõem o acervo reunido por José de Guimarães. 

Diz-se heteróclito do que é excêntrico, irregular, fora do comum, ou seja, diz-se heteróclito de um acervo construído a partir de um gosto estético relacionado com o que é «exótico» e «primitivo». Heteróclito é uma palavra de ordem para imaginar o futuro. Algo que o CIAJG faz em permanência, convidando todos a fazê-lo em conjunto, podendo ser visitado regularmente de terça a sexta entre as 10h00 e as 17h00 e sábado e domingo das 11h00 às 18h00. O valor dos ingressos, que dão acesso a todas as salas expositivas do museu, é de 4 euros ou 3 euros com desconto, sendo a entrada gratuita a crianças até 12 anos de idade e aos domingos de manhã.