David Revés leva à Fidelidade Arte um território entre o transcendente e o telúrico
Afirmando a profanação enquanto gesto especulativo que possibilite a criação de novos horizontes para pensar e fazer-mundo, o terceiro momento do ciclo Território conta com a curadoria de David Revés e reúne obras de diferentes naturezas e origens associadas à ideia de profano.
Profanar os corpos, profanar o Tempo, profanar a História. Profanações dá nome ao terceiro momento do ciclo Território, que conta com a curadoria de David Revés e inaugura a 26 de Maio, às 22:00, na Fidelidade Arte, em Lisboa, podendo ser visitada até 1 de Setembro, e estará de 30 de Setembro a 14 de Janeiro, na Culturgest Porto. Numa apropriação do título do livro homónimo de Giorgio Agamben, Profanações pretende avaliar criticamente os ideais racionalistas de Progresso e sua maquinaria de mobilização cinética sob os quais as sociedades ocidentais se têm orientado.
A exposição conta com obras de: Albrecht Dürer, Annie Sprinkle & Beth Stephens, António da Silva, Christine Henry, Francisca Sousa, Igor Jesus, Isabel Cordovil, Jol Thoms, Mariana Gomes, Odete, Paulo Serra, Pedreira, Pedro Moreira, Plastique Fantastique, Rasmus Myrup, Sonja Alhäuser.
A inauguração terá uma performance inédita de Pedreira. O colectivo portuense fará uma apropriação e releitura da prática ritual e ancestral da queimada galega. Inicialmente ligada a uma tentativa de afastamento dos espíritos e bruxas, a queimada de Pedreira activará um ritual performático em torno da desconstrução do esconjúrio original da queimada galega, num tom subversivo, feminista e ecológico.
Profanações é o ensaio de Agamben que orienta o pensamento na prática curatorial de Revés nesta exposição. Filósofo com uma matriz de pensamento judaico-cristã, refere que a profanação vai além da ideia de destruir algo da ordem do sagrado e do religioso. Ainda que o possa ser, Agamben indica que o que é sagrado ou religioso está em diversas esferas da vida que podem não ser tão benéficas quanto julgamos serem e o que a profanação faz, como nos indica David Revés "é abri-las, reconstitui-las, reconfigurá-las, reordená-las numa espécie de poder de uso sobre as coisas. Não é um poder de propriedade, mas das coisas existirem num espaço de liberdade e troca incessante com tudo e com todos".
Afirmando a profanação enquanto gesto especulativo que possibilita a criação de novos horizontes para pensar e fazer-mundo, esta exposição reúne obras de diferentes origens, propondo distintas modalidades de pressionar a História e suas expectativas normalizadoras, assim como procurando exaltar todas as materialidades — esquecidas, presentes e futuras — que existem no seu interior.
Profanações propõe conduzir quem a vê por territórios estéticos situados entre o transcendente e o telúrico, convocando produções oriundas da religião, bruxaria, sexualidade, adivinhação, entre outras, que se afirmam como formas de contrariar dispositivos de controlo, rigidificação e previsão da experiência.
A exposição tem entrada gratuita e pode ser visitada de segunda a sexta, das 11:00 às 19:00.