Festival Terras sem Sombra recebe etapa final do projecto europeu Sonotomia

Festival Terras sem Sombra recebe etapa final do projecto europeu Sonotomia
Fotografia: D.R.

O Festival Terras sem Sombra é a entidade anfitriã do último evento do projecto Sonotomia (Cineteatro Camacho Costa, 5 de Novembro, 21h30), no âmbito do qual foram captadas e recriadas artisticamente paisagens sonoras únicas da Europa. No concerto em Odemira estreia-se a peça Outrenoir V [Água da Vida], da compositora Jamie Man, com a participação da soprano Inês Simões e o desenho sonoro de Marijn Cinjee. Reveste-se ainda de grande interesse a presença do compositor e inventor Paul Oomen, figura cimeira na investigação e desenvolvimento de tecnologias de áudio espacial e ambientes sonoros imersivos. No evento, este guru das novas gerações de artistas propõe uma reflexão sobre o espaço, o som e a percepção, bem como sobre as intersecções da arte e tecnologia que o sistema desenvolvido no projecto faculta. 

A propósito de Outrenoir V [Água da Vida], Jamie Man partilha a sua reflexão “Durante a noite, os oceanos balançam, presos à Lua, causando marés, enquanto a Terra gira continuamente em torno no seu próprio eixo. A água traz vida e morte.” E acrescenta, com redobrado vigor: “É uma força centrífuga, que liga distintas geografias, representa um elemento de contenção, mas também de reflexão, no centro da grande crise existencial e humanitária que a mudança climática impõe.”

Outro destaque, é a apresentação, pela primeira vez no nosso país, do inovador sistema sonoro espacial, que revela a quarta dimensão do som e permite explorar diferentes perspectivas das sensações auditivas no âmbito da criação musical. Toda uma nova experiência, do ponto de vista da arte e da tecnologia, que o projecto Sonotomia aprofundou à escala europeia, permitindo compreender melhor o funcionamento das vibrações mecânicas de frequência compreendida entre determinados valores (20 e 20 000 vibrações por segundo, em média), e a sua aplicação em modalidades tão distintas como a ópera ou a música electrónica.

Nas residências artísticas no Alentejo Litoral, Albarracín e Budapeste – realizadas no âmbito do projecto –, foi registado e recriado de forma inovadora o património sonoro da Europa. Foram considerados de extrema relevância os registos levados a cabo dentro e fora de água, incluindo com o uso de sofisticados sonares, no Alentejo, com especial atenção para o Atlântico, os rios Mira, Sado, Guadiana e Tejo, as lagoas de Santo André, Sancha e Melides e as barragens de Alqueva (Mourão), Pego do Altar e Charruadas (Alcácer do Sal). Dos trabalhos resultou um arquivo sonoro (Sound Library) representativo de três dimensões fundamentais da Europa – a marítimo-fluvial, a rural e a urbana. Simultaneamente, lançaram-se as bases para o cimentar de uma nova comunidade virtual de artistas sonoros (Digital Hub), estabeleceu-se uma metodologia pedagógica e artística que pode ser reproduzida noutras residências artísticas e criaram-se obras e instalações acústicas com a tecnologia 4DSound.

Sonotomia reúne instituições de quatro países – Pedra Angular (Portugal), entidade promotora do Festival Terras sem Sombra, Spatial Sound Institute (Budapeste, Hungria), 4DSOUND (Amesterdão, Países Baixos) e Fundación Santa María de Albarracín (Teruel, Espanha) – e integrou o programa Europa Criativa de apoio aos sectores cultural e criativo, que congrega algumas das mais inovadoras acções na União Europeia.  O culminar do projecto é momento, também, para a apresentação e avaliação dos resultados obtidos, com a presença de representantes de todas as instituições envolvidas.