Gonçalo Tavares, ciclista de Proença-a-Nova
Gonçalo Tavares, jovem de 17 anos de idade, natural de Proença-a-Nova, alcançou o mais alto patamar do ciclismo internacional ao representar as cores da selecção nacional portuguesa nos Europeus e Mundiais de juniores, consumando honrosas prestações. Apesar do sucesso em cima da bicicleta, não deixou de se focar nos estudos. Exemplo de como conciliar o sucesso desportivo com o sucesso escolar, frequenta o 12º ano em Ciências e Tecnologias, considera-se “não de excelência, mas um bom aluno”, tendo já delineados planos para o futuro, embora reticente quanto à possibilidade em conseguir conciliar os estudos no Ensino Superior com o desporto que o apaixona.
O ciclismo é talvez das modalidades mais exigentes no que concerne a horas dispensadas, o que não parece ser problema: “tento gerir bem e arranjar forma de juntar a escola e o desporto, tenho de abdicar de algumas coisas, mas faz parte. Tento orientar o tempo que me sobra além da escola da melhor maneira possível, definir bem as minhas prioridades: treinar, estudar e só depois os amigos.”
O actual treinador tem também alguns cuidados de forma a não sobrecarregar os treinos: “passo mais ao menos entre duas a duas horas e meia por dia a treinar. Por enquanto chega, para o próximo ano talvez sejam mais, porque vou ter mais tempo livre. Entrego sempre os meus horários ao treinador e ele tenta ajustar. Se ele me desse sempre treinos de três horas quando eu saio às 17h00 da escola seria muito complicado... por agora está equilibrado, mas nas férias faço sempre mais horas, porque tenho mais tempo para descansar, agora nesta fase em que não tenho provas também não é preciso grandes cargas.”
Na escola, os professores e colegas parecem também compreender a situação. “Agora tenho sentido mais o apoio das pessoas, se calhar há uns anos quando comecei não tinham tanta noção, mas vão começando a perceber. Mesmo os professores apoiam-me e às vezes facilitam”. Gonçalo tenta retribuir o apoio demonstrado. “Até agora tenho conseguido estar presente, excepto nesta semana que tive de ir às provas, mas normalmente costumo conseguir conciliar. Só as aulas de Educação Física é que por vezes peço para não fazer por causa das provas”.
O 12º ano costuma ser o ano lectivo em que os alunos começam a pensar no futuro. Para o jovem ciclista não é diferente: “o que eu gostava mesmo de seguir era o ciclismo, claro, mas talvez ir para a Universidade, como todos os outros seja a melhor opção. Já pensei sobre isto e vai ser muito difícil conciliar. Gostava de seguir Engenharia e Gestão Industrial, mas nem sei muito bem como vai ser, se consigo tirar o curso ou não”.
No que ao ciclismo diz respeito, Gonçalo refere que tudo começou de ‘forma gradual’. “Aconteceu tudo aos poucos, comecei no BTT, em regionais e na primeira prova que fiz consegui logo pódio, sai de lá todo contente e acho que foi isso que me foi dando motivação. Depois comecei a perceber que conseguia estar a correr de forma competitiva, sempre em BTT, que foi onde passei o primeiro ano… tracei objectivos e fui subindo. No início falei com os meus pais e fui correr por uma equipa de Abrantes, mas como era o único cadete basicamente corria sozinho. A corrida de estrada entrou na altura da Volta a Portugal, para a qual tive de procurar uma equipa, porque não a podia fazer sozinho. Acabei por participar por uma equipa das Caldas da Rainha. Foi lá que conheci um senhor que me disse que eu tinha ‘jeito para isto’ e me recomendou ir para outra equipa, onde comecei, como cadete, mais a sério na estrada, com treinador e tudo mais”.
Gonçalo continuou o seu progresso e foi recentemente convocado pela Federação Portuguesa de Ciclismo para representar o país nos Europeus e nos Mundiais de juniores. “Representar Portugal era um dos objectivos deste ano, depois aos poucos percebi que as provas me estavam a correr bem e comecei a ter cada vez mais esperança. Tinha noção que era um dos melhores do país. Um dia à noite recebo um e-mail da federação com a convocatória. Acho que nem estava bem ciente da realidade que era representar a selecção. É uma experiência muito especial, é algo que não se explica. Estamos a representar o nosso país, ainda que o nosso seleccionador não nos ponha grande pressão ao nível dos resultados, queremos dar o nosso melhor. É extraordinário chegar ao aeroporto e estar ali o João Almeida e todos os outros ciclistas profissionais que admiramos, estar no mesmo hotel que eles, falar e jantar ao lado deles… pessoas que estamos habituados a ver pela televisão”. O ídolo no desporto, não esconde, “é o João Almeida, sem dúvida alguma, é o que mais admiro”. Quanto aqueles que sejam mais parecidos comigo, o Tadej Pogačar, mas o Pogačar é quem é, talvez o Bernal, porque sou mais levezinho e subo melhor, não sou tão pesado como os outros para rolar, referiu entre risos.
Por fim. Traçou objectivos para a próxima temporada, mas sempre com os pés bem assentes no chão. “Para já vou continuar na mesma equipa, fazer as mesmas provas, cá e no estrangeiro e tentar melhorar os resultados. Daqui a um ano gostava de estar num campeonato da europa, campeonato do mundo, quem sabe disputar umas medalhas, mas tem de ser com calma, para ver se consigo evoluir”, frisou.