Invadir o lar de Neptuno
Vestir o colete de aquecimento, o fato semisseco de 7 milímetros, as meias e as botas. Entrar no barco, fazer-se ao mar. Peniche fica para trás e as Berlengas começam a ganhar forma. Já na Flandres, é hora de pôr o gorro, as luvas, o cinto de lastro, as barbatanas e a garrafa às costas. O mar do arquipélago é um dos locais onde podemos praticar mergulho, um momento de lazer e, ao mesmo tempo, de contemplação da biodiversidade marinha portuguesa. Em meia hora, a 15 metros de profundidade, dá para ver muito, mesmo que não consigamos identificar todos os que vivem no lar de Neptuno. Por vezes a rota é mal calculada e só quando os mergulhadores chegam à superfície da água vêem que o barco está longe. Têm que nadar até ele e esperar mais trinta minutos até nova imersão.
A biodiversidade marinha pode ser uma importante área de negócios turísticos. Só nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, a observação de cetáceos rende, por ano, 15 milhões de euros, segundo um estudo publicado em 2009 pelo Fundo Internacional para o Bem-estar Animal (IFAW,). Quem for aos Açores pode ver cachalotes adultos, jovens, crias e recém-nascidos, não só a alimentar-se, mas também em sociabilização e descanso. No entanto, não é possível mergulhar com eles, apenas admirá-los a partir de plataformas flutuantes como barcos semi-rígidos, lanchas e catamarans, propriedade de diversas em presas especializadas que seguem um código de conduta que impede a perturbação dos animais.
Bem diferente é o cenário no Zoomarine, em Albufeira, onde é possível nadar com golfinhos. O programa Dolphin Emotions, inaugurado em 2000, é a grande atracção do parque temático e tem crescido de ano para ano, atraindo mesmo turistas de outros países. O Zoomarine é também um espaço de reprodução destes mamíferos. Anualmente nascem aqui, em média, um a dois golfinhos. "É sinal de que estão felizes e gostam dos cuidados que têm", sublinha Hugo Brites, coordenador de marketing do espaço. Em 2006, a fêmea Cher deu à luz o primeiro golfinho pro veta em Portugal, de nome Alfa, que foi também o primeiro do mundo gerado através de sémen congelado, proveniente do macho Sparky, dos Estados Unidos.
A raia-focinho-de-vaca é a mais brincalhona das espécies que habitam o Sea Life, no Porto. Parece que responde ao nosso comportamento. Os dois lóbulos frontais, na cabeça, tornam-na parecida com um bovino. Gosta de repousar e esconder-se em fundos arenosos, onde desenterra moluscos e ostras, o seu petisco favorito. O aquário, inaugurado em 2009, é um dos mais de 30 que o grupo Merlin Entertainments tem espalhados pelo mundo, cada qual adaptado à respectiva cultura. Neste, os visitantes podem atravessar o maior túnel subaquático do país, com 500 mil litros de água, que começa no Douro, representado pela sua nascente e pelas vinhas, e vai em direcção ao mar, até às águas quentes do Pacífico, onde vive o tubarão-viola, o de-pontas-negras, a zebra e o enfermeiro, assim como medusas, cavalos-marinhos, caranguejos-eremitas ou peixes-Picasso. Além de poder alimentar raias ou tubarões, o público tem ainda oportunidade de apadrinhar estes e outros seres e assim ajudar o Sea Life a desenvolver condições para a reprodução e salvamento de animais.