Museu do Oriente mostra cinema e fotografia de Ulrike Ottinger
A obra de Ulrike Ottinger está em destaque no DocLisboa 2021, que apresenta a primeira retrospectiva completa da realizadora alemã, incluindo a exibição de dois filmes e uma exposição de fotografia com entrada livre, no Museu do Oriente.
“Ulrike Ottinger. Livros de Imagens” está patente a partir de 21 de Outubro, até 14 de Novembro com entrada livre, e apresenta uma série de fotografias criadas, na sua maioria, em paralelo com a produção dos filmes da autora. Estas variam entre composições teatrais surrealistas e retractos etnográficos, habitando o espaço liminar entre a ficção e o documentário. Os territórios representados são diversos, mas é estabelecida uma especial ligação com a China e a Mongólia, países onde Ottinger realizou diversas incursões, a partir das quais produziu um vasto trabalho fílmico e fotográfico.
O primeiro, Taiga, exibido no dia 24 de Outubro, representa uma nova incursão de Ottinger à Mongólia para captar, em longos planos contínuos, a vida nómada local, dividida em 37 estações/movimentos. Nascido numa altura de reavaliação da própria natureza do filme etnográfico e também um filme de culto xamã, Taiga é uma obra marcante no percurso de Ottinger, que estará presente nesta sessão para a apresentar ao público.
China. The Arts – The People (1985), exibido a 31 de Outubro, marca o início do vasto tema da Ásia na filmografia de Ottinger e é o seu primeiro diário de viagem, cujo género reinventa de acordo com as suas necessidades – neste caso, equiparando-o à pintura chinesa em rolo de papel. O seu olhar penetrante interessa-se por tudo, da ópera de Sichuan e dos estúdios de cinema de Pequim, à produção de doces e aos sons das campainhas de bicicleta.
Foi no início dos anos 1970 que Ottinger começou o seu caminho no cinema, trilhado sempre de mãos dadas com a fotografia. Ao longo das décadas seguintes, viaja pelo mundo, interpretando-o através das suas lentes, numa síntese entre a mitologia, a ilusão e o realismo. Nas suas viagens, prepara “livros” de materiais visuais e textos recolhidos que serviam de guias para as filmagens. Ferramentas que a ajudam a explicar a sua visão àqueles que filma. Fixas ou em movimento, as imagens de Ottinger são um diálogo através de línguas e culturas.
Nascida em 1942, a cineasta pertence à mesma geração dos realizadores Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) e Werner Schroeter (1945-2010), dois dos principais expoentes do cinema alemão do Pós-Guerra, com os quais a sua filmografia costuma ser associada.
Ulrike Ottinger é autora de uma obra extremamente original, que a colocou entre os realizadores de vanguarda no seu país. Desde os seus primeiros filmes, ainda no formato de curta-metragem, Ottinger atraiu a atenção da crítica pela sua peculiar visão de mundo, pela profusão de referências eruditas e pela sua extravagante direcção de arte.
Ao longo da sua carreira, Ulrike Ottinger já mereceu retrospectivas em instituições de prestígio como a Cinemateca Francesa, em Paris, e o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Além disso, é presença frequente no circuito de arte contemporânea, tendo apresentado os seus trabalhos na Bienal de Veneza, na Documenta de Kassel e na Bienal de Berlim.