100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago - Nove maravilhas naturais

100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago - Nove maravilhas naturais
Fotografia: Azoresphotos.visitazores ­ Maurício de Abreu, DRT

A viagem aos Açores começa na ilha de Santa Maria, a primeira a ser descoberta e a mais antiga do arquipélago, formada há cerca de dez milhões de anos dos fundos oceânicos envolventes. Chamam­l-he Ilha Amarela ou Ilha do Sol porque aqui chove menos, o que resulta numa maior aridez dos terrenos e secura da vegetação. Mas a tela que nos acompanha ganha outras cores no Barreiro da Faneca, também conhecido por “deserto vermelho”, uma superfície ondulante e suave com tonalidades que variam consoante a hora do dia. Já na costa, é o verde que domina as altas pontas rochosas e as muitas baías que aqui existem são de águas calmas e cristalinas. Terminamos na zona norte da ilha, onde fica a Baía dos Anjos e a capela na qual Cristóvão Colombo mandou celebrar uma missa após o seu regresso da América.

A paisagem natural é a marca dos Açores, ou as nove ilhas que compõem o arquipélago não tivessem origem vulcânica, o que motivou fenómenos impressionantes e levou a que a população que vive ao longo da faixa de 600 quilómetros entre Santa Maria, a ilha mais oriental, e o Corvo, a mais ocidental, criasse lendas e mistérios para explicar quase tudo. Vamos para oeste, e ao fim de 81 quilómetros chegamos a São Miguel, reconhecida pelas lagoas verde e azul das Sete Cidades, que se diz serem da cor das lágrimas derramadas por um pastor e uma princesa que viveram um amor proibido.

A Ilha Verde terá sido descoberta entre 1426 e 1439 e os primeiros povoadores trouxeram consigo gado, aves, sementes de trigo e legumes, entre outros produtos, fundando a primeira “povoação de gente”. Depois, percorreram a costa para norte e encontraram uma planície à beira­mar que lhes agradou e onde decidiram fixar­-se, chamando-­a “do Campo”, mais tarde Vila Franca do Campo, que haveria de ser, nesses primeiros tempos, a capital de São Miguel. Esta terra foi arrasada pelo grande terramoto de 1522, no qual terão morrido cerca de 4 mil pessoas, e os sobreviventes mudaram­se para Ponta Delgada, que se tornou a capital da ilha. Foi também aqui que ocorreu o maior massacre de sempre nos Açores, quando em 1582 os espanhóis enforcaram cerca de 800 prisioneiros portugueses e franceses após vencerem a batalha naval de Vila Franca do Campo.

É nesta localidade que fica a impressionante Lagoa das Furnas, nas margens da qual os habitantes fazem cozidos à portuguesa colocando as panelas debaixo da terra para aproveitarem o calor das águas vulcânicas. Não podemos sair de São Miguel sem visitar o Parque Terra Nostra, um dos mais belos jardins europeus, com piscina de água termal e mais de 2 mil espécies de árvores. Nem a Fábrica de Chá de Porto Formoso, uma das duas únicas plantações de chá da Europa para fins industriais, onde recordamos os primórdios da produção desta bebida nas ilhas açorianas e provamos os chás na belíssima sala que reconstitui uma cozinha típica micaelense, ou então na esplanada com vista sobre as plantações de chá e a vila de Porto Formoso. Todos os anos, na primavera, recria­se a colheita da planta com trajes à moda antiga.