Sobreira Formosa celebrou atribuição do Foral a Vila Nova há 800 anos
Os 800 anos da atribuição do Foral a Sobreira Formosa foram assinalados no dia 15 de maio, num evento realizado no Edifício dos Fortes e Baterias que contou com a presença de Maria da Graça Vicente, especialista em História Medieval, António Manuel Silva, reitor da Universidade Sénior de Proença-a-Nova, e António Gil Dias, professor de português, que abordaram este documento de diferentes perspetivas. João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, referiu nas boas vindas que, tal como na altura em que este Foral foi emitido, no século XIII, também atualmente estes territórios continuam a sentir a necessidade de fixar população. “Ao longo destes 800 anos, a Sobreira Formosa atravessou muitas mudanças, viu extinto o seu concelho em 1855, distinguiu-se pela sua atividade comercial e hoje em dia ressente-se de um problema que é transversal a todo o país e que tem a ver com a questão da demografia. A história vai-se fazendo a cada capítulo, a cada tempo, e traduz-se também na aprendizagem que, muitas vezes, nos traz para desenharmos o nosso presente e perspetivarmos o futuro”.
Maria da Graça Vicente apresentou uma síntese dos pontos que compõem o texto do Foral, que inclui o estatuto jurídico do território, as sanções por incumprimentos ou o pagamento de portagens: no fundo trata-se de um documento identitário. “Uma carta de foral era também, e antes de mais, uma carta de privilégios. Por isso, era guardada na arca do concelho, juntamente com outros documentos e insígnias, um selo que representava a personalidade jurídica da vila, representava igualmente o garante das liberdades do concelho e seus moradores. Nos ataques do inimigo um dos alvos a eliminar era não raras vezes a arca do concelho que era destruída apagando deste modo a identidade da vila”, referiu. O Foral foi outorgado por D. Constança Sanches, filha ilegítima do Rei D. Sancho I, em 1222, altura em que teria começado a formar-se a antiga Vila Nova, atual Sobreira Formosa, como núcleo populacional e daí a sua primeira designação: uma vila nova.
António Manuel Silva, professor de história, apresentou a evolução administrativa de Sobreira Formosa que chegou a ser concelho e fez parte da Estremadura, antes de integrar a Beira Baixa, ou pertenceu à Comarca de Tomar ou à diocese da Guarda. Em comum o facto de ser vila e por isso apresentar no seu brasão as quatro torres: “ser vila é ser um povoamento, uma localidade, com uma certa dinâmica económica, uma certa dinâmica social, com serviços, com algum desenvolvimento socioeconómico”. António Gil Dias, por sua vez, abordou a dificuldade de adaptar para português corrente o português arcaico. “Esta versão é em língua vernácula do século XIV, e deparou-se com algumas falhas na legibilidade de certos locais que aparecem truncados nas anotações do séc. XV e XVI”, adiantou. João Manso, vice-presidente da autarquia, afirmou que o Município irá investir na revisão do documento, depois de ter contribuído para a sua recuperação, num contacto direto estabelecido com a Torre do Tombo.
A encerrar a iniciativa, o grupo Teatro à Faca apresentou as três formosas da Sobreira, baseando-se numa das lendas sobre a origem do nome, numa produção original exclusiva para o evento realizada no âmbito do projeto Beira Baixa Cultural 2.0, cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional da União Europeia. Apresentaram ainda algumas das passagens do Foral, complementando as informações que foram transmitidas durante a tarde.