Vamos ouvir o outro e a nós com “Eu Cá, Tu Lá” em Guimarães

Vamos ouvir o outro e a nós com “Eu Cá, Tu Lá” em Guimarães
Fotografia: José Frade

O final da semana vai ser um tempo para escutarmos e sermos escutados (e aprender), ancorados na criação de Nuno Lucas, num convite a todos e às famílias em particular, com ponto de encontro no espetáculo apresentado no próximo sábado 15 de outubro, às 16h00, na Black Box do CIAJG. Criado por Nuno Lucas, “Eu Cá, Tu Lá” parte do universo de entrevistas feitas a crianças em diferentes lugares em Portugal Continental e nas Ilhas, interessando-se no processo de criação de identidade e dando-nos a oportunidade de escutar o que miúdos têm a dizer, mas também de nos fazer pensar sobre as dificuldades em nos expressarmos e nos fazermos entender. 

Com Joana Brandão e Paulo Quedas como intérpretes desta peça, aqui se aborda a necessidade de reaprender tudo o que achamos já conhecer, numa criação teatral que coloca o foco na linguagem, nos modos de falar e também em como nos definimos em relação ao outro através daquilo que dizemos. Programação de Educação e Mediação Cultural (EMC) d’A Oficina, “Eu Cá, Tu Lá” apresenta-se também nos dias 13 (10h30 e 15h00) e 14 (10h30) deste mês para três sessões dirigidas a Escolas e Instituições de Guimarães. 

“Eu Cá, Tu Lá” é uma peça de iniciação à escuta. Uma escuta do outro. Partindo de gravações sonoras de palavras tiradas de diversos contextos, como por exemplo de discursos motivacionais, anúncio de um prémio de lotaria, tutoriais de YouTube ou de entrevistas feitas a crianças em diferentes pontos de Portugal, esta peça explora a beleza e o poder da oralidade. Não só nos modos de falar de cada um, mas também na forma como se dizem as coisas. E é precisamente nessa fronteira que existe entre o espaço íntimo do (eu, cá) e no contacto com o outro (tu, lá) que esta peça nasce. Por detrás de uma “palavra” há sempre alguém, que usa esse mecanismo linguístico, como um gesto de aproximação. 

Quando aprendemos a nossa língua materna, construímos uma matriz que nos fica para sempre, que nos ajuda a estruturar o nosso pensamento e o modo como nos expressamos com o mundo que nos rodeia. Uma nova língua representa assim um novo lugar, é uma oportunidade para pôr tudo em causa. Os novos sons e novas emoções de outras línguas e de outras culturas obrigam-nos a reaprender a escutar. Por isso aprender uma nova língua é aumentar a nossa capacidade de ver o mundo. 

Usando como ponto de partida a aprendizagem de uma nova língua, Nuno Lucas acredita que, nesse gesto, todas as dificuldades inerentes – o engasgar, a dificuldade em articular, o embaraço, a frustração do quer falar sem se saber, o saber o que se quer dizer mas não como o dizer, a alegria de se fazer entender – expressam muitas das questões que quis trabalhar. Numa fase de investigação, Nuno Lucas pensou a linguagem dos mais jovens e integrou as especificidades linguísticas regionais para refletir sobre o significado da mesma na sua peça final. 

Produzido por O Rumo do Fumo, em parceria com A Oficina, Lu.Ca - Teatro Luís de Camões, Teatro Municipal do Porto, “Eu Cá, Tu Lá” é dirigido a maiores de 12 anos de idade e apresenta-se no CIAJG a 15 de outubro (16h), estando os ingressos disponíveis por 2 euros em aoficina.pt ou presencialmente nas bilheteiras de espaços geridos pel’A Oficina como o Centro Internacional das Artes José de Guimarães, o Centro Cultural Vila Flor, a Casa da Memória de Guimarães ou a Loja Oficina, bem como nas Lojas Fnac, El Corte Inglés, Worten. 

Associada a este espetáculo, decorre uma Formação para Professores no dia 14 de outubro (sexta), entre as 18h e as 21h, na Sala de Conferências do CIAJG (Centro Internacional das Artes José de Guimarães). 

O criador Nuno Lucas vive entre Paris, Lisboa e Seoul, trabalhando como coreógrafo, performer e professor. Licenciado em economia pela Universidade Nova de Lisboa, estudou música no conservatório e é formado em pastelaria pela École Nationale Supérieure de Pâtisserie - Alain Ducasse. No seu percurso, já colaborou com vários artistas, nomeadamente Miguel Pereira, Joris Lacoste, Philippe Quesne, Rita Nunes, Ivana Müller, João Fiadeiro.