100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago - A melhor francesinha

100 anos após o seu nascimento, recordemos Saramago  - A melhor francesinha
Francesinha no Porto | Fotografia: Lino Ramos

Para quem é do interior não é fácil entrar no espírito e mentalidade desta terra de pescadores, uma das mais im­portantes do país. O que será quando um homem de famí­lia sai para o mar? Quando a tempestade abana as ondas e acelera os corações? Como é a despedida? E o regresso? Desde os primórdios da nacionalidade que a indústria pesqueira e os terrenos férteis fizeram da Póvoa uma zona fortemente disputada entre senhores e reis. Já no início do século XVI os seus pescadores andavam na Terra Nova e os carpinteiros eram procurados pelos estaleiros da Ribei­ra das Naus devido aos seus altos conhecimentos técnicos. Cerca de 200 anos depois, os monges beneditinos percor­riam longas distâncias para tomar os "banhos da Póboa", ricos em iodo, e curar problemas de pele e ossos.

A cidade possui nada menos do que 12 quilómetros inin­terruptos de praias de areia dourada. Entre a Redonda e a Salgueira, duas das mais conhecidas, fica a icónica Aveni­da dos Banhos, com várias discotecas, bares e esplanadas. É uma terra de erudições, berço de Eça de Queiroz, que se descreveu como "um pobre homem da Póvoa de Varzim".

Camilo Castelo Branco redigiu parte da sua obra no extin­to Hotel Luso-Brazileiro, José Régio preferiu o Diana Bar, onde se encontrava com Agustina Bessa-Luís, para quem este foi "um lugar mágico no princípio da minha adoles­cência". Outrora espaço de tertúlias e ponto de encontro de escritores e intelectuais de várias cidades, hoje funcio­na como biblioteca de praia.

Mafalda, esposa de D. Afonso Henriques, passou pelas obras da ponte que mandara construir e, cheia de sede, pe­diu água aos pedreiros. Como o acesso ao rio era muito di­fícil, um deles ofereceu uma cana para que a rainha bebesse diretamente do rio. Ao devolvê-la, terá dito "guardai-a por­ que a cana é boa às vezes". A lenda acompanha o nome desta cidade que, por estar próxima do Grande Porto, serve de residência a muitos que procuram uma alternativa tran­quila à agitação da Invicta. O concelho é atravessado por dos mais belos rios portugueses, Douro e Tâmega, e as al­bufeiras que os acompanham são ideais para desportos e passatempos náuticos, como a pesca desportiva, a vela, a canoagem ou o windsurf. Da povoação romana de Tongo­ briga restam o fórum, as zonas de habitação, uma necrópo­le e as termas, que têm o único balneário conhecido totalmente escavado na rocha. Recentemente foi inaugura­do o centro interpretativo destas ruínas, que há 36 anos os arqueólogos vêm pondo a descoberto.

Cá está o Porto, Gaia, duas cidades que parecem uma só - e talvez devessem ser -, partilhando o rio que é de ouro, pelo menos é o que diz a lenda. Quem chega à ribeira sente que chegou a casa, tal é a calma que respira. O cenário ins­pirou pintores e cantores e atrai milhares de turistas, espe­cialmente no verão, quando enchem esplanadas e passeios. Sentem a brisa, entram no barco, visitam as caves, espaços emblemáticos desse vinho que continua a conquistar mun­dos. Diz quem sabe que as melhores francesinhas são as do Porto, e é provável que assim seja. Quem não gostar, pode sempre comer tripas. No Porto, sê portuense.