Apresentada candidatura do Barro Negro de Molelos a património imaterial

Apresentada candidatura do Barro Negro de Molelos a património imaterial
Fotografia: DR

A Câmara Municipal de Tondela acaba de apresentar a candidatura do processo de fabrico do Barro Negro de Molelos ao Inventário Nacional de Património Imaterial.

O processo, há muito desejado por todos os oleiros e poder local, começou a ser preparado pela autarquia em Março de 2022, tendo chegado agora ao fim. Recentemente, e por intermédio do município, a louça preta de Molelos passou a integrar o Registo Nacional de Produções Artesanais Tradicionais Certificadas.

A inscrição do barro negro no Inventário Nacional de Património Imaterial surge integrada na estratégia definida pela Câmara Municipal, liderada por Carla Antunes Borges, que neste mandato assumiu como prioritários, na área da cultura, o conhecimento, a salvaguarda e a valorização do património cultural, natural e humano locais.

“Esta candidatura foi apresentada atendendo à importância que esta actividade tem quer na economia local, quer no factor identitário deste território”, justifica a autarca.

“A inserção da louça preta de Molelos no Inventário Nacional de Património Imaterial é condição essencial para preservar o saber fazer desta arte ancestral, ao mesmo tempo que trabalhamos num plano de salvaguarda a 10 anos, que é fundamental para a sua preservação”, afirma Carla Antunes Borges, lembrando que as criações em barro negro “são cada vez mais apreciadas”.

Molelos constitui, actualmente, a maior comunidade de olaria negra do país e é aquela com maior vitalidade. A freguesia é considerada um centro de tradição oleira desde o século XVIII, mas a cerâmica fez sempre parte do seu território.

A louça preta de Molelos destaca-se pela sua cor negra, resultante da cozedura redutora (Soenga), pela decoração e pelo brilho das peças.

A produção do barro negro na localidade foi sempre uma actividade desenvolvida ao nível familiar.

Em Molelos há ainda em actividade sete oleiros: António Manuel Duarte Simões, António Manuel Matos Marques, Carlos Lima, José Manuel Lourosa, Luís Carlos Lourosa, Maria Fernanda Marques e Alexandra Monteiro. São estes artesãos que ficarão registados, caso a candidatura ao Inventário Nacional de Património Imaterial venha a ser aceite, como os detentores deste saber fazer ancestral.

Os oleiros são responsáveis pela produção das peças cerâmicas, pela sua cozedura e pela sua comercialização. Das suas mãos saem a chamada louça utilitária ou grossa, peças usadas no dia a dia, sobretudo na cozinha, mas também objectos decorativos, apelidados de louça fina ou decorativa.

As olarias estão situadas em diversos pontos da freguesia de Molelos, como Machorro, Vela e Raposeiras. É neste último lugar que a Câmara de Tondela, em parceria com a Junta de Freguesia local, promove, desde 2017, a Soenga, um evento que reconstituiu, durante um fim de semana, o processo artesanal de cozedura da louça preta. Esta mostra já se tornou um marco cultural e turístico de excelência, atraindo à localidade gente de todo o país e até do estrangeiro.

O que torna a Soenga um evento tão concorrido é o facto de os visitantes terem a oportunidade de assistir a todas as fases do processo de cozedura e estas serem dominadas com mestria pelos actuais oleiros que interiorizaram e absorveram o saber-fazer secular.

Além do processo de fabrico do Barro Negro de Molelos, a Câmara de Tondela também apresentou, no mês passado, a candidatura da Festa das Cruzes, ao Inventário Nacional de Património Imaterial.