Cendrev e A Escola da Noite apresentam “Floresta de Enganos”
O Cendrev e A Escola da Noite apresentam em Coimbra, a partir de 13 de Janeiro, “Floresta de Enganos”, de Gil Vicente. A terceira co-produção entre as duas companhias tem encenação de José Russo e fica em cena no Teatro da Cerca de São Bernardo até 6 de Fevereiro, de quinta a domingo. Já é possível comprar bilhetes.
Escrita e representada pela primeira vez em Évora em 1536, “Floresta de Enganos” é a última obra de Gil Vicente. Considerada, a muitos títulos, como uma “peça-problema” dentro da obra vicentina, é uma peça de enigmas e mistérios, de subentendidos que deixaram de ter o seu contexto, em que se cruzam os planos de seres mitológicos e terrenais.
Classificada como comédia na Compilação de 1562, esse é o tom em que a peça se desenvolve, com personagens que reciprocamente tentam enganar-se em histórias paralelas e um “gran finale”, com casamento e música. No prólogo, o Filósofo anuncia mesmo uma “fiesta de alegría”, que começa com um Mercador que “pensando d'enganar, / ha de quedar engañado” e ao longo da qual havemos de conhecer a história de Grata Célia, filha do Rei Telebano, vítima dos amores do próprio Cupido e dos sucessivos enganos que este engendra para conquistar o afecto da Princesa.
Ao contrário do resto da peça, e sobrevivendo como “texto autónomo”, este prólogo tem, contudo, acentos trágicos. O Filósofo, com um Parvo atado ao pé, preso e proibido de falar, não deixa de segredar ao público que está a pagar pelo que disse, pelo que criticou, pelos seus “consejos muy sanos”. Escrito no mesmo ano em que a Inquisição haveria de chegar a Portugal e ponto terminal da obra de Gil Vicente, o discurso deste Filósofo parece constituir um testemunho e um testamento das ideias políticas, sociais e religiosas do autor.
Com encenação de José Russo, director artístico do Cendrev, “Floresta de Enganos” é a terceira co-produção entre as duas companhias, depois de “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos (2012) e de “Embarcação do Inferno”, também de Gil Vicente (2016). O texto é representado em português, com a tradução dos versos castelhanos feita por José Bento em 1999, para o Teatro da Cornucópia, publicada pela Assírio & Alvim.