Festival Literário da Madeira
Teoricamente, a figura principal desta edição do FLM seria a escri- tora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2015. Acompanhada pelo jornalista Luís Caetano (Antena 2) constituíam a abertura num debate sobre o que haverá de mais assustador para além do homem. No entanto, devido às condições atmosféricas que se fez sentir no Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo, a participação da Nobel da Literatura foi cancelada.
Assim, o programa disponibilizado pela Eventos Culturais do Atlântico (ECA) sofreu alterações, arrancando apenas no segundo dia do evento. Os pseudónimos angolanos Pepetela (Artur Pestana dos Santos – vencedor do Prémio Camões em 1997) e Ondjaki (Ndalu de Almeida – vencedor do Prémio José Saramago) tiveram como ponto de partida a expressão do autor Yaka: "Queremos transformar o mundo e somos incapazes de nos transformar a nós próprios", para iniciar uma conversa com o jornalista da TSF, Fernando Alves.
No terceiro dia de festival, 16 de março de 2017, a parte da manhã contou com conversas culturais na Calheta e em Machico, com participações especiais de Válter Hugo Mãe, Sandra Nobre, Pepetela e Ondjaki. Na parte da noite novamente uma conversa, seguida da apresentação do livro Nossos Ossos de Marcelino Freire.
O penúltimo dia esteve fortemente marcado pela poesia. Encerrando com um dos primeiros espetáculos de Teresa Salgueiro, O Horizonte, que se repetiu no dia de conclusão do acontecimento, após o encontro de Viriato Soromenho Marques e Frederico Lourenço, onde o tema será a religião.
José Manuel Fajardo, Tatiana Salem Levy, Francesco Benozzo, Barry Wallenstein, Adam Johnson e Yang Lian são alguns dos nomes internacionais que passaram pelo Teatro Municipal Baltazar Dias durante os cinco dias literários. Alguns reconhecidos mundialmente através dos prémios ou mesmo da escrita peculiar que os caracterizam.
Francesco Valentini, diretor do Festival Literário da Madeira, em entrevista ao Diário de Notícias afirma que o festival tem crescido anualmente "principalmente, em termos de público, como se pôde comprovar com as salas quase sempre cheias no ano passado durante as várias mesas e espetáculos".
O FLM é um dos acontecimentos com peso relevante na cultura portuguesa. Foram diversos os autores que deram voz ao festival, como por exemplo Alberto Manguel, Naomi Wolf, Adriana Calcanhotto, Miguel Sousa Tavares, Mia Couto, Richard Zimler, Lídia Jorge e o falecido Zygmunt Bauman.
Para o evento ser um sucesso, Valentini acredita que a mediatização do mesmo ajuda bastante. Não fosse esse um dos pontos essenciais para a sua divulgação, através da internet e da comunicação social. No entanto, reconhece também que a ajuda financeira dos parceiros e apoios públicos é indispensável, pois um evento cultural não vive apenas do pagamento dos bilhetes e que por estar inserido numa ilha, torna as condições mais complicadas. Assim, sente-se realizado com os madeirenses e a potencialidade do festival.
No fim, resta pensar na próxima edição. No meio de tantas palmas, autógrafos e palavras, surgem novas ideias. As mais valiosas serão as que levam os autores a caminhos diferentes, em que se tornam o ponto de partida para mudar a perspetiva de vida. Francesco Valentini, já anunciou o tema do ano de 2018: Literatura e Jornalismo: a Palavra que Prende, a Palavra que Liberta.
Texto original de Edilson Coutinho.