Um sítio alegre… mas de muita luta
Portalegre. O nome virá de Portus Alacer, que significa um porto ou ponto de passagem alegre, talvez por ser uma zona verdejante, aprazível, com abundância de água e onde havia casas que davam abrigo e mantimentos a quem por aqui passasse. É incerta a fundação desta cidade. O foral foi atribuído em 1259 por D. Afonso III, que terá mandado construir as primeiras defesas da povoação. Coube ao rei seguinte, D. Dinis, erguer o castelo, que denota a importância estratégica da então vila na defesa da fronteira alto-alentejana. Prova disso é o que o monarca decidiu que o senhorio da vila não seria concedido “nem a infante, nem a homem rico, nem a rica-dona, mas ser d’ el-Rei e de seu filho primeiro herdeiro”.
Na crise de 1383-85, o alcaide desta vila era Pedro Álvares Pereira, partidário de D. Leonor, o que levou a população a revoltar-se, cercando o castelo e obrigando-o a fugir para o Crato, onde era prior. O antigo governador viria a morrer na Batalha de Aljubarrota, onde lutou contra o irmão, D. Nuno, o herói desse dia. O castelo, entretanto muito transformado, mantém a torre de menagem e a torre Norte. Também as muralhas são diferentes, mas nota-se o perímetro arredondado, irregular e longo, que curiosamente envolve o próprio castelo.
A vila tornou-se cada vez mais importante, de tal modo que em 1549 foi criada a Diocese de Portalegre. Um século depois, em 1550, nascia a cidade, que continuou a desenvolver-se com o volume das receitas do imposto sobre as judiarias. Portalegre era também um dos maiores centros da indústria têxtil do país, juntamente com Estremoz e Covilhã. O fabrico de panos de lã data da Idade Média, mas conheceu um grande desenvolvimento a partir do século XVIII, com a fundação da Real Fábrica de Lanifícios, por iniciativa do Marquês de Pombal.
Tais negócios eram detidos, em grande parte, por famílias nobres e burguesas, que mandaram construir residências com uma certa imponência, daí que Portalegre tenha um dos melhores conjuntos de casas solarengas do país. Em 1947 surgiu a Manufactura de Tapeçarias, que pela originalidade e valor artístico dos seus trabalhos depressa se tornou no “ex-líbris“ da cidade. É um dos últimos centros de produção artística contemporânea de tapeçaria mural do mundo. Ao longo de mais de 70 anos trabalhou com mais de 200 artistas portugueses e estrangeiros, entre os quais Almada Negreiros, Vieira da Silva, Júlio Pomar, Burle Marx, Lourdes Castro, Álvaro Siza, Le Corbusier e Joana Vasconcelos. A candidatura a património da humanidade está para breve.
Em 1640, Portalegre foi uma das primeiras localidades do país a reconhecer a independência de Portugal, sofrendo os embates dessa patriótica atitude durante as lutas da restauração. Construíram-se então os fortins de São Cristóvão, São Pedro e da Boavista, adiante das muralhas medievais mas ligando-se a elas, numa tentativa de modernizar e tornar mais eficaz todo o sistema. Seguiram-se conflitos e invasões humilhantes, como a de 1808, quando o general francês Loison, “O Maneta”, obrigou a cidade a pagar um pesado tributo. Como em todo o país, o castelo e as muralhas perderam utilidade, e o crescimento urbanístico levou à destruição e ruína do velho sistema medieval, só parcialmente recuperado no século XX. Ainda assim, restam algumas portas góticas, coladas a residências privadas.