"A matéria de que são feitos os sonhos"

"A matéria de que são feitos os sonhos"
Foto: DR

Inauguração:

"A matéria de que são feitos os sonhos" de Ícaro Pintor

 

Sala de Exposições

Patente até 27.07.2024

 

Em tempos onde o mundo consciente nos coloca um débito sobre o tempo, é nos sonhos que mantemos o gozo do estímulo, do manusear e folhear as emoções e a ver o que, para o simples olho aberto, nos parece cada vez mais inalcançável.

 

Partindo de afectos enquanto motor - que desencadeia as sensações que nos guiam a imaginação - Ícaro Pintor mostra-nos um conjunto de obras manuseáveis em pensamento numa exposição que explora a virgindade do inconsciente no acto de olhar.

 

Ciclo "Impacto Social Mínimo"

 

Depois de “Outros Portos”, o mais recente ciclo de exposições ocupa a sala de exposições do Maus Hábitos num conjunto de exposições e actividades programadas em rede e com foco no acolhimento de artistas e colectivos emergentes do nosso Porto.

 

Ícaro Pintor (Porto)

Iniciou os seus estudos artísticos em Pintura na FBAUP e conclui os estudos em artes plásticas (pintura) Escola Nacional Superior de Belas Artes de Toulouse.

 

Desde 1982 expõe o seu trabalho de pintura com regularidade, quer em Portugal quer no estrangeiro ao mesmo tempo que desenvolve actividades noutras áreas artísticas.

 

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LAVRAR CAMPOS ABERTOS E FECHADOS

texto curatorial de Rui Mascarenhas

 

De onde vêm estas cores, estas figuras, estas imagens, que mostram mais do que dizem?

 

De que falam, o que contam, que murmuram todos estes signos, estes ícones, estas partes de corpos e de coisas, todos estes tons, todas estas matizes que se misturam e se reflectem mutuamente. 

 

Que afectos são estes que se despertam perante a imagem de uma mão estendida ou engolida ou imersa, ou dessas cabeças e dessas pernas ou desses animais desconhecidos, dessas escadas e portas e caixas. 

 

Que enigmas se escondem nesses lugares ou nesses contornos a ouro, nesse encarnado ou nesse azul precioso.

 

Há por ali, talvez, um pedaço de melancolia exposto, aqui, um bocado de angústia, além partes de luxúria. Talvez também raiva em silêncio, ou uma revolta contida. 

 

Há grupos e há solidões como também solidão em grupo. Há posições e reposição dos corpos e das suas partes. 

 

Há um tempo e um lugar de um outro tempo e lugar onde se pode habitar por momentos ou para quase sempre, por partilha mais do que por presença. 

 

Há o que poderíamos chamar, por convenção ainda não fundada, um neo-surrealismo que não se faz do inconsciente deste ou daquele, mas de cores e coisas guardadas na memória de todos, entre hoje e sempre, entre aqui e em todo o lado, feito de terra molhada e de veludos nocturnos como de deuses carnívoros e monstros assustados. 

 

É assim, que por aqui, parecem germinar e brotar mundos de luz e de matéria sólida, arenosa, táctil, que nos remexe por dentro, nos apreende, nos deixa aqui suspeitos como ali encantados. Uma terra composta com tudo isso de que se fazem os sonhos. Porta aberta ao olhar pausado, que pousa e que ousando sentir, não mais se afunila.

 

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