A Rainha da Fronteira

A Rainha da Fronteira
Fotografia: C.M Elvas

Elvas. Que imponência e respeito sentimos ao entrar na cidade. A guerra moldou a fisionomia deste lugar, defendido por quatro muralhas, dois fortes e três fortins, que fazem dele a maior fortaleza abaluartada terrestre de todo o mundo. As duas primeiras muralhas foram construídas pelos árabes, assim como o bonito castelo, palco de importantes acontecimentos da história do país, como tratados de paz, trocas de princesas e banquetes de casamentos reais.

Afonso Henriques tentou conquistar a vila, mas apenas o seu bisneto D. Sancho II haveria de o conseguir, em 1230. Elvas tornava-se, então, na mais importante povoação portuguesa na fronteira.

A terceira muralha é do século XV, do tempo das guerras fernandinas – com um perímetro de 2.200 metros, envolvendo uma área de 30 hectares com casario e campos, tinha 22 torres e 11 portas. Foi precisamente na fronteira de Elvas que se assinou o Tratado de Paz, após alguns dias de cerco à vila. D. Manuel tornou-a cidade e 1570, longe de saber o papel que esta viria a desempenhar quase um século depois, durante as guerras da Restauração: Elvas tornou-se numa verdadeira arma de guerra, com uma nova muralha, um forte e outras construções que a tornam invencível.

A muralha de que se fala tem sete baluartes, quatro meios baluartes e um redente ligados entre si por cortinas, constituindo no total doze frentes de muralha. Para a construir foi preciso demolir a anterior quase na totalidade. A fortaleza, única no mundo e muito bem conservada, é um símbolo do período em que a engenharia militar assumiu um papel determinante na arte das guerras de fogo. A algumas centenas de metros, o Forte de Santa Luzia, no cimo de um monte, possui quatro baluartes, várias casernas e duas cisternas, que abasteceriam 300 a 400 homens durante dois a três meses. A vitória das Linhas de Elvas, em 1659, impediu os espanhóis de marcharem até Lisboa e garantiu a independência de Portugal.

No século seguinte foi construído o belo e grandioso Forte da Graça, que aumentou ainda mais o poderio militar da cidade, a qual chegou a ter mais de 15 mil militares. A fortaleza situa-se numa colina histórica: aqui ficava a ermida de Santa Maria da Graça, cuja reedificação se deveu à bisavó de Vasco da Gama. As obras começaram em 1763 e só terminaram em 1792. O sistema defensivo ficou completo com os três fortins, erguidos no início do século XIX, aquando das invasões napoleónicas. Acabaram as guerras, ficaram estes monumentos únicos, guardiões da memória colectiva. Há que saber preservá-los. Em 2002 a Unesco reconheceu a Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações como património mundial. Mesmo que não tivesse nada disto, a cidade seria sempre lembrada pelo enorme Aqueduto da Amoreira, que chega a superar os 30 metros de altura e tem mais de cinco quilómetros e meio de extensão…