Ano Europeu do Património Cultural: um alerta e uma oportunidade

Ano Europeu do Património Cultural: um alerta e uma oportunidade
Fotografia: Lino Ramos

Em 2018, o Parlamento Europeu promove a iniciativa pela primeira vez.

 

“Ano Europeu do Património Cultural”. À primeira vista, parece uma expressão demasiado vaga, apenas mais uma iniciativa da União Europeia (UE) para ocupar a agenda cultural dos cidadãos comunitários e seus responsáveis políticos. Na verdade, é muito mais do que isso. A iniciativa parte da UE, sim, mas tem um objectivo ambicioso: promover a diversidade cultural, o diálogo intercultural e a coesão social. Com isso, a Europa espera chamar a atenção para o papel da cultura e do património no desenvolvimento social e económico no “velho continente” e nas suas relações externas, e motivar as pessoas para os valores comuns europeus.

Mas, como fazê-lo? O mais difícil nestas acções, normalmente, é envolver os cidadãos, mobilizá-los para os eventos. Em Portugal, conhecemos, cuidamos e valorizamos o património, mas mobilizamo-nos pouco para as iniciativas – é o que diz o Eurobarómetro num estudo recente.

Se os portugueses vão ou não participar activamente no Ano Europeu do Património Cultural (AEPC), só o tempo o dirá. Alguns eventos já aconteceram, outros estão em andamento e há os que ainda não começaram. Entre concertos, exposições, visitas guiadas, concursos ou actividades recreativas ao ar livre, há de tudo um pouco no programa desenvolvido pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) em colaboração com diversas entidades públicas e privadas.

Em 2019 poderá fazer-se um primeiro balanço, com a certeza de que esta iniciativa não se fica por aqui. Com efeito, esta é uma oportunidade de olharmos com mais atenção para o património, o construído – apostar mais na conservação de monumentos, por exemplo – e o imaterial (o fado, o cante alentejano ou os bonecos de Estremoz), reforçando a ligação das pessoas com os seus saberes e tradições.

 

Adoptar um monumento?

No caso português, parece faltar, sobretudo, mobilização. É importante acabar com “uma ideia estática e passadista do património”, como alertava o comissário nacional do AEPC, Guilherme d’Oliveira Martins, em Janeiro deste ano, em entrevista à Renascença. A juntar a esse desafio nacional, há outros mais gerais – a globalização, o desenvolvimento acelerado no uso de novas tecnologias de informação e comunicação, as crises de valores e identidade, as alterações climáticas, os conflitos, as pressões e contradições geradas pela cada vez maior mobilidade humana por todo o planeta.

As novas gerações têm aqui um papel decisivo, daí que o programa seja muito direccionado para elas. As escolas portuguesas, por exemplo, podem adoptar um monumento, conhecê-lo e cuidar dele, através de uma aplicação móvel. O mundo digital e as novas tecnologias são essenciais neste trabalho de conservação e valorização do património, pois permitem novos olhares sobre ele e ligam a outras culturas e mentalidades.

O balanço final, esse, será feito daqui a alguns anos. Se o Eurobarómetro concluir, então, que o AEPC ajudou os cidadãos europeus a viver melhor, o principal objectivo terá sido alcançado.