Carlos Cavallini apresenta disco "O Tamanho do Tempo"
CARLOS CAVALLINI APRESENTA DISCO “O TAMANHO DO TEMPO” EM LISBOA E LANÇA NOVO SINGLE “NEM TODO MUNDO”
Carlos Cavallini mede “O Tamanho do Tempo” em músicas banhadas pelo mar
Medindo, em música, “O Tamanho do Tempo”, o disco é também um exercício introspectivo, pessoal: “As músicas foram todas escolhidas pensando muito nisso, daí a minha demora em fazer o disco. Fala muito de mim e era preciso que eu estivesse muito à vontade para isso.” Em termos de influências musicais, elas vêm muito do já citado triângulo Rio-Minas-Bahia: “Cresci com muito samba e também com muita MPB. A minha família admirava muito os grandes nomes da MPB, Chico Buarque, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, e eu lembro-me de ser uma criança que sabia cantar músicas do Chico, Gal, esses assim, o que não era muito comum entre os meus amigos, que já estavam noutra fase, a do rock brasileiro. Isso me influenciou muito, além do rock alternativo e, mais recentemente, essa nova MPB, geração que foi até o tema da minha tese [título provisório: Pensar a nova MPB no Brasil e a nova música brasileira em Portugal]. É engraçado que eu olhava para o Domenico e o Ricardo de uma perspectiva académica a acabei por gravar com eles.”
Nuno Pacheco, Público
SINGLE “NEM TODO MUNDO”
Já com Lisboa no coração pelos 15 anos de residência na cidade, Carlos Cavallini lançou agora “Nem Todo Mundo”, segundo single de seu disco de estreia "O Tamanho do Tempo", produzido por Ricardo Dias Gomes e Domenico Lancellotti, que foi lançado dia 1 de Março.
Em “Nem Todo Mundo”, o dedilhar com assinatura de Davi Moraes abre espaço para a voz e a letra de Carlos Cavallini, que desforra muito daquilo que construímos utopicamente sobre nós e os outros, discutindo questões sobre convivência e cotidiano – “nem todo mundo entende, nem todo mundo aprende”. Segundo o cantautor, “a canção foi feita durante as gravações e eu tive muita vontade de que ela entrasse para o álbum por estar ligada aos tempos que correm”.
O disco vai ser apresentado ao vivo no dia 22 de Março no Samambaia em Lisboa num concerto partilhado com Sam Nóbrega.
DISCO “O TAMANHO DO TEMPO”
Atento ao que nos faz bem
Em seu disco de estreia “O Tamanho do Tempo”, Carlos Cavallini contempla a imensidão do tempo e do mar com minimalismo do eu, enaltece os horizontes dos infinitos amores e nos oferece amizade por todo o percurso da obra.
Imenso céu e sempre mar.
Infinitos desertos, ondas e caminhos em que estaremos de alguma forma no tempo. A primeira viagem de Carlos Cavallini em disco é muito do mundo, do eu; condensa bastante de experiências dos sons e sentimentos que viveu, afinal o primeiro disco é sempre um apanhado de composições e experiências de épocas diversas que levaram o artista até uni-las em estúdio. Há beleza de muitos momentos e sabores a cada faixa, numa obra que se abre com o mar e sua imensidão. O mar para Carlos começou em Vitória, onde nasceu no Brasil e virou cais em Lisboa, onde resolveu aportar há 15 anos.
Ao longo da obra que nos cria, recria e nos mergulha em mares tranquilos, o tempo é protagonista em um cenário para audição de um disco que nos conecta com tantos abraços. No ar, no espaço, nas pessoas e na natureza. As 12 faixas são 12 elos entre si e entre quem as ouve.
Agradecimento e contemplação à beira de águas intermináveis abrem “O Tamanho do Tempo”. Apresentar-se como chuva, obediente ao vento, e se reconhecer como muito do que parece ao ouvinte, é começar o percurso do disco já a dizer um pouco sobre sua alma. Em “Sempre Mar”, Carlos não esconde o ‘eu’, ao contrário, nos oferece a face mais interior do seu sentimento e criatividade. A doçura de apreço nas palavras namora com os sons enquanto sintetizadores e as guitarras de João Erbetta nos transportam de Lisboa às paisagens sonoras e tranquilas do Ceará.
Referências com sopros suaves nos lindos arranjos de trompete e flugelhorn do talentoso Aquiles Moraes enlaçam “Natureza” (segunda faixa do disco). A sequência sonora doce entre influências do Cidadão Instigado às baladas Soul de Cassiano traz reconexões poéticas entre parte de um todo humano à sua mistura com a natureza. ‘Ser capaz de estocar amor pra depois distribuir’ é promessa da segunda faixa que se cumpre na audição e nas canções subsequentes.
A produção musical e os arranjos de Ricardo Dias Gomes e Domenico Lancellotti são delicados, criativos e multiplicam os significados das canções para seguir o seu enlace. Essa linguagem não-verbal sensível da dupla é fundamental para a compreensão da narrativa de ‘O Tamanho do Tempo’.
Se em muitos momentos a obra se enlaçará com o contemplar da natureza, em outros se mostrará cosmopolita com a doçura poética de estar atento, mesmo nas grandes cidades e suas dinâmicas mais complexas, aos detalhes mais delicados sobre as relações e sentimentos humanos. Isso se reflecte em violões das referências interioranas do Brasil até as baterias e arranjos a la Strokes e Weezer.
Em “Nem Todo Mundo”, o dedilhar com assinatura de Davi Moraes abre espaço para a voz de Carlos visivelmente influenciada por Calcanhotto e Caetano. O compositor desforra muito daquilo que construímos utopicamente sobre nós e os outros, discutindo questões sobre convivência e cotidiano – “nem todo mundo entende, nem todo mundo aprende”.
“Na Pele de Nós Dois” é canção de união da parte para o todo, da entrega do ser ao mundo que colore o universo do existir. Versos dentro do amor que apontam para a beleza de nos examinarmos como um pedaço de tudo que vemos, vivemos e sonhamos; uma pele de amor para dois ou para dez milhões – “Eu nasci tela sem nada, fui pintado por tanta gente que me amou”.
Em “Abraço-Canção”, o mundo que há em cada um de nós se reconhece nos seus versos. A música e suas palavras tanto nos afagam quanto nos fortalecem; um abraço que é recíproco. Como a abraçamos e como sentimos seu afecto, é um lugar que “existe um sol pra cada um”.
“O Que Me Faz Bem” é a faixa que, pelo título e pelas vozes, sintetiza o sentimento do disco. O bem de partilhar os lugares, os sons. É música que anuncia o que nos faz sentir. Nos faz “ter os pés na areia e a cabeça no lugar” e nos dá “paz nos finais de tarde junto ao mar”. O aconchego do acordéon e da voz de Celina da Piedade pousam no disco como gaivotas sensíveis nas praias portuguesas. A suavidade do canto multiplica o encanto trazido por ela em temperos sonoros portugueses e outras referências melódicas do mundo ibérico. O mesmo acontece com o delicado e assertivo violino de Ana Santos.
Amizade é um tema transversal na obra de Cavallini. “Querido Amigo” é um remanso e um cuidado em forma de balada cadenciada como um café de fim de tarde. A atmosfera sonora de solidariedade e carinho é desenhada cuidadosamente, mais uma vez, por Aquiles Moraes. É impossível não ouvir a canção e não sentir conforto e abrigo “que eu quero levar comigo, para sempre guardar”.
E se tempo e amizade são matéria-prima para a criação sonora do disco, a arte delicada e profunda de Tonho Quinta-feira captura e amplia os sentidos dessas canções nas ilustrações. Poucas capas e projectos visuais conseguem representar tão bem o universo de uma obra como os traços feitos para a arte de “O Tamanho do Tempo”. Das cores aos riscos, o despertar visual do disco é diálogo preciso entre olhar, ouvir e sentir.
“A Grande Beleza” é uma balada entre o samba e o soul. É possível sentir as palavras degustando seu ritmo recheado de referências de Tim Maia, Cassiano e, em alguma medida, Sandra de Sá. É outra canção que costura ao álbum um ponto poético referenciado pela simplicidade do poeta Manoel de Barros – “eu gosto do que é simples (...) a grande beleza está aqui nas pequenas coisas, no grão de areia”
“Casa É Onde O Corpo Está” é a mais cosmopolita das canções. Traz uma paisagem sonora e versos que nos transportam para cenários do romance de Mário Vargas Llosa, “Travessuras da Menina Má”, e assenta que mesmo longe de pessoas e lugares, estamos perto de nós. A referência à Lygia Clark sobre casa e corpo evidencia essa condição e um bonito equilíbrio entre casa, corpo e mundo.
Caminhos e lugares desfilam no disco mesmo sem precisarem ser reconhecidos. Sentimos vibrações de espaços com carinho sem precisar saber exactamente onde estamos. Esse é um recurso transcendental da arte que, em “Eu Sou Daqui”, Carlos finca seu lugar em sonhos, abraços e manhãs. É de onde ele e nós escolhemos ser.
“Palavra” é canção pelo e para o verso. A palavra que vai e vem, oferece e constrói sortes. A metalinguagem nas sílabas e na criação sonora com distorções de uma guitarra sensibiliza o ouvinte para recurso da criação pelo verbo e pelo som. Pedro Sá tem dedos encantados para construir arranjos e improvisos que enlaçam o som à atmosfera da palavra. É como se sentíssemos em som aquilo que acabamos de ler. É uma bonita troca entre idas e vindas da palavra pelos solos e dos solos pela palavra.
“O Tamanho do Tempo” tem canção homónima como a escolhida para ser a derradeira. Seus versos discorrem sobre o inevitável amanhecer e a melodia nos balança nas redes do destino. Referências sonoras de orações ao tempo de Caetano Veloso, traços dos violões doces específicos em “Quanta” de Gilberto Gil, e o embalar de cantos do paulistano Renato Braz são visíveis na despedida física do disco.
O mundo nos oferece mais do que merecemos? O título prenuncia o tamanho da obra e a última canção ratifica o alerta. Quem se atreve a dizer onde começa e termina o tempo? Quem dirá como começa e termina um disco como esse de remanso, embalo, abraço e infinitos?
Isso é a arte, e nesse caso, produssumo do coração de Cavallini, nascido no tempo e oferecido ao mundo como passagem e abraço-canção.
Ivan Lima
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