Centro Cultural Vila Flor dá as boas-vindas à nova temporada cultural

Centro Cultural Vila Flor dá as boas-vindas à nova temporada cultural
Fotografia: D.R.

O Centro Cultural Vila Flor volta a convidar-nos a entrar pelos seus jardins e auditórios como convidados especiais no mês de setembro, recarregados de vontade para sermos surpreendidos pela potência que as artes transportam e nos oferecem. A música entrará primeiro em ação com a 15ª edição do Manta a refrescar com leveza e criatividade os jardins do CCVF a 9 e 10 de setembro: Rodrigo Leão, Noiserv, Sean Riley com The Legendary Tigerman, Meta_ e Tranglomango são os artistas que encabeçam os projetos que se irão apresentar em vários concertos com entrada gratuita ao longo destes dias.  

Com a passadeira já estendida pela música, a dança contemporânea entra em cena com a metáfora de um iceberg gigante em processo de descongelamento – “Larsen C” – do coreógrafo grego Christos Papadopoulos, a ser apresentado no palco maior desta casa a 17 de setembro, data que assinala o aniversário deste espaço cultural que desde 2005 nos convida e nos acolhe em momentos de fruição artística. Associada a esta celebração, irá realizar-se uma iniciativa de plantação de uma árvore por cada espectador, numa colaboração com o Laboratório da Paisagem e o projeto “Guimarães mais Floresta”. 

Em 2022, o Manta apresenta um alinhamento inteiramente nacional marcado pela originalidade de quatro projetos que atravessam estéticas e gerações diversas. No dia 9 setembro (sexta-feira), as primeiras notas ressoam no relvado com Mariana Bragada sob nome artístico Meta_ (21h30) que, depois de ter participado nas residências do Westway LAB, regressa a Guimarães para apresentar material de composição original com o qual tem conquistado um significativo número de seguidores, explorando a essência das raízes (de Trás-os-Montes, de onde é natural, e da América do Sul, a partir de viagens) para criar caminhos sem fronteiras entre histórias e fantasias com a partilha de uma conexão com a memória ancestral e a música eletrónica. Fazendo uso da sua voz, loopstation, drum machine e adufe, Meta_ traz consigo Sara Grenha e Sara Brandão para este concerto para unir vozes sobre as memórias que dançam entre o passado e o futuro.  

Às 22h30 entrará em cena um artista que já dispensa apresentações. Rodrigo Leão surgirá no palco do Manta para plantar outro momento de contemplação nestes jardins com o seu “Cinema Project”, trabalho que conta com a participação de um coro juvenil, acompanhado pela sua banda habitual. Rodrigo Leão Cinema Project reúne repertório dos três discos editados em 2020 e 2021 (“O Método”, “Avis 2020” e “A Estranha Beleza da Vida”), assim como uma seleção de temas clássicos do compositor, prevendo-se um concerto extremamente eclético, com uma grande abrangência de estilos musicais, que vão do neoclássico à valsa. Com uma forte componente visual, o espetáculo conta ainda com a projeção vídeo de imagens de Gonçalo Santos, que integram desenhos da autoria do próprio Rodrigo Leão, que assume aqui as rédeas de um sintetizador e piano e coros. O final da noite estará entregue a Jubilee que nos conduzirá até ao planalto destes jardins para um DJ set que terá início às 23h30 e perdurará até às 02h00. 

Preservando a tradição recente de dedicar uma parte do seu programa a um público mais jovem, o dia 10 de setembro (sábado) começará bem iluminado de luz natural com o concerto dos “Tranglomango” a ser apresentado às 15h30. Com uma formação instrumental clássica do rock à qual se junta um acordeão, este grupo deixa-se influenciar pela música tradicional portuguesa como mote para a prática de um som que funde estilos contrastantes. “Virgínia” (2018), o seu último álbum, espelha a viagem que fizeram desde o seu primeiro trabalho em 2015, revestidos pelo imaginário popular e a tradição como ponto de partida. Fatores que não lhes pesam nas asas, antes servem de catapulta aos temas de estilos muito diversos, naturalmente agregados no rock.  

Nesta noite de sábado, o relvado e as mantas voltarão a estender-se para duas das mais bem-sucedidas propostas na arte de escrever canções. Noiserv (21h30) abrirá a viagem sonora da segunda noite, com um imaginário gerado por uma criatividade sem limites. Criado pelo músico David Santos, Noiserv é considerado um dos mais criativos e estimulantes projetos musicais surgidos em Portugal na última década. O seu percurso tem sido marcado pela criação de canções capazes de atingir cada indivíduo na sua intimidade, relembrando-lhe vivências, momentos e memórias intrincadas entre a realidade e o sonho. 2020 marcou o seu regresso às edições discográficas com um trabalho escrito inteiramente em português. “Uma Palavra Começada Por N” assume um tom mais confessional que os registos anteriores e aproxima-se ainda mais do ouvinte através da sonoridade que sempre o caracterizou, aliada à sua língua materna.   


A jornada encantatória desta noite prossegue o seu caminho com a dupla Sean Riley e The Legendary Tigerman (22h30) que, a partir de uma viagem com rota inicial inspirada na beat generation cujo destino seria Tanger, acabaria por rumar ao sul de Espanha e escrever um disco juntos, esse mesmo que vêm apresentar no jardim do Centro Cultural Vila Flor. Partindo de onde tinham ficado em 2018 com “California” – álbum gravado em motéis durante uma road trip no estado norte americano – voltam agora aos discos com “Andaluzia”. Apaixonados pela fotografia de uma antiga cabana de pescadores, rumaram até à costa espanhola e lá encontraram o abrigo onde, mais uma vez, improvisaram um estúdio num espaço inusitado. Durante três noites e três dias, gravaram este EP de olhos postos no mar. Registado de forma simples e despida, “Andaluzia” é uma homenagem à amizade e ao amor à música. A viagem a realizar no Manta 2022 será conduzida pela voz e guitarra de Afonso Rodrigues (Sean Riley) na companhia de Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) com modular synthesizers, mellotron e guitarra, juntamente com as teclas de Filipe Costa. À semelhança do dia anterior, a relva do jardim irá erguer-se e vibrar ao som de um DJ set às mãos de Isidro Lisboa entre as 23h30 e as 02h00. 

Uma semana depois, a 17 de setembro, a celebração prossegue com a dança contemporânea a fazer-se sentir no Grande Auditório Francisca Abreu para assinalar o 17º aniversário do CCVF com a estreia nacional de “Larsen C”, de Christos Papadopoulos. Neste dia, às 21h30, receberemos um dos mais inovadores coreógrafos da dança contemporânea, que faz parte de uma nova geração de criadores notáveis que surgiu, na última década, na cidade de Atenas. Através das suas peças hipnóticas, Papadopoulos tem o poder de questionar a nossa perceção da realidade. 


Em “Larsen C”, a metáfora de um iceberg gigante em processo de descongelamento ressoa nos corpos dos bailarinos num movimento sugestivo e fluido como vibrações orgânicas e cinéticas, numa sequência onírica e interminável de ondulações do corpo no espaço, como ondas que pulsam juntamente com todos os elementos envolventes, desde a luz ao cenário e aos sons. Mas o movimento não acontece apenas no palco. É um convite ao público. Não tanto para nos levar para um lugar diferente, mas para um novo estado. Uma metáfora da vida que avança, de forma invencível, intrigando ou mesmo perturbando com a fatalidade presente. Paisagens, corpos e sons vêm e vão, aproximam-se e retiram-se. A transformação acontece gradualmente, apanhando-nos desprevenidos várias vezes, fingindo que nada acontece enquanto tudo gira. Uma experiência contemplativa que convida à reflexão sobre a nossa posição enquanto seres humanos em tempos de mudança. Habituado a apresentar os seus espetáculos nos maiores palcos da Europa, Christos Papadopoulos vem a Portugal exclusivamente para celebrar o 17º aniversário do CCVF, fazendo uma apresentação única e imperdível de "Larsen C".

Este dia brinda-nos também com uma anti-leitura especial promovida pelo Teatro Oficina. Realizando-se habitualmente na base de operações da companhia – o Espaço Oficina –, as anti-leituras viajarão até ao jardim do CCVF, às 18h00, para nos fazer também viajar em conjunto e de forma descontraída através das páginas de um livro. As anti-leituras fazem parte do projeto artístico para o Teatro Oficina em 2022, com Sara Barros Leitão como diretora artística convidada da companhia. Nestes momentos, sempre de entrada gratuita e abertos a todas as idades, é dada uma cópia do texto de teatro a cada pessoa, que terá a liberdade de escolha para ler ou não. Nada é obrigatório e é tão simples como isto: pessoas que se juntam para ler teatro, e falar do mundo a partir do teatro.