Inauguração de duas exposições na "Casa do Capitão"

Inauguração de duas exposições na "Casa do Capitão"
Fotografia: D.R.

A vereadora da educação do município de Montalegre, Fátima Fernandes, inaugurou duas exposições que estão abertas ao público, até meados de janeiro do próximo ano, no Ecomuseu de Barroso - Casa do Capitão, na vila de Salto. Trata-se de duas apostas com os nomes "Serrinhas e Serranchins" (coleção do Ecomuseu de Barroso) e "Trabalhos do Campo", da autoria da artista galega Mercedes Vázquez Saavedra.

A arte de cortar a madeira traduz-se num dos ofícios paradoxalmente mais importantes na finalidade a que reporta, contudo num dos trabalhos mais desvalorizados do ponto de vista da análise sociocultural dos povos. Com efeito, em Trás-os-Montes, o Serrador desempenha um papel secundário no rol de ofícios tradicionais vulgarmente tratados quer pela museologia quer, inclusive, na investigação antropológica e histórica. Este facto é comprovado não só pela ausência de trabalhos científicos alusivos à sua arte mas também, sobretudo no campo da museologia, pelo insipiente estudo e valorização das coleções de artefactos que nos remetem para um tempo onde a serração braçal, mau grado o progresso tecnológico, ainda constituía uma esmagadora percentagem do trabalho de corte e preparação da madeira para o trabalho posterior do carpinteiro.

Com trabalho marcadamente sazonal, executado principalmente por gente de fora às comunidades e, facto de maior relevância, tratando-se de uma tarefa onde a componente lúdica não era de todo contemplada, como no trabalho das segadas, o ofício dos serras permanece ofuscado face aos restantes trabalhos ambulantes e periódicos. A exigência física do trabalho, a sua especificidade técnica, o facto de ser desempenhado exclusivamente por homens e a contingência do corte das madeiras acontecer na serra ou no monte, longe do circuito social da aldeia, são caraterísticas que secundarizam este ofício relativamente ao espetro dos trabalhos clássicos da ruralidade. 

Por outro lado, a cronologia do trabalho dos serradores contribuiu também para o oblívio do seu trabalho. O processo inicia-se no início da primavera com a seleção e marcação das árvores a abater, geralmente efetuada pelo contratante do serviço. O corte propriamente dito realizava-se, grosso modo, entre os meses de outubro e fevereiro, coincidindo com o princípio do outono e o final do inverno quando, nas palavras do Padre Fernando Oliveira “[…] os humores das árvores estão recolhidos e quedos nellas e […] quando o sol está mays apartado dellas”. 

Fiel depositário de uma interessante coleção de ferramentas de corte de madeiras, o Ecomuseu de Barroso – Casa do Capitão, em Salto, tomou em mãos a tarefa de conceber uma exposição temporária alusiva ao trabalho dos serradores. A vontade expressa neste projeto traduz um princípio basilar em museologia que consiste na valorização das coleções à guarda dos museus mediante a conceção de projetos expositivos, mais ou menos experimentais. Com a exposição Serrinhas e Serranchins na coleção do Ecomuseu de Barroso, partilham-se linhas de investigação, ainda em aberto, não só relativamente os objetos em si mesmo, mas também explorando a natureza do ofício que lhes confere sentido e função. 

Com esta exposição damos início a uma renovada linha de trabalho onde as coleções à guarda da Casa do Capitão adquirem maior relevância na programação anual deste polo do Ecomuseu de Barroso. Acreditamos que, com esta política, a instituição no seu todo estará melhor capacitada para corresponder, por um lado, às expectativas em si depositadas pela comunidade, ela própria parceira no projeto museológico do Ecomuseu de Barroso e, por outro, afirmar e justificar os princípios museais pelos quais nos regemos: a valorização da cultura e identidade locais e a investigação científica das nossas coleções.