Investigadores da Universidade de Coimbra fazem novas descobertas arqueológicas no Curdistão iraquiano
A equipa do Kani Shaie Archaeological Project, liderado por cientistas do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP) da Universidade de Coimbra (UC), voltou a fazer novas descobertas no Curdistão iraquiano. Os investigadores têm vindo a conduzir várias escavações no sítio arqueológico de Kani Shaie, um lugar habitado em momentos-chave da história da Humanidade, que têm permitido colher novos objectos e informações com vista ao aprofundamento do conhecimento sobre transformações societais ao longo dos milénios.
A mais recente campanha arqueológica – co-dirigida pela docente da Faculdade de Letras da UC e investigadora do CEAACP, Maria da Conceição Lopes, pelo investigador do CEAACP, André Tomé, e pelo investigador da Universidade de Cambridge, Steve Renette, em parceria com as autoridades curdas – decorreu entre 23 de Agosto e 19 de Setembro de 2023. Centrou-se “nos níveis arqueológicos do início da Idade do Bronze, tempo de reestruturação das comunidades, já urbanas, em grandes áreas do Próximo Oriente (depois de uma ainda misteriosa quebra na forma de organização das sociedades), nas materialidades a estas associadas, como a cerâmica e outros objectos”, contextualizam Maria da Conceição Lopes e André Tomé.
Situado entre as montanhas e a planície da Mesopotâmia, a história de Kani Shaie “tem sido escavada com pás e colherins em cinco campanhas desde 2013, e tem revelado ocupações desde o sexto até ao final do terceiro milénio, e reocupação posterior no primeiro milénio antes da nossa era, e de forma continuada até ao período Sassânida (século III a.C. – século VII d.C.) e, espaçadamente, durante o longo período islâmico”, explicam os investigadores.
Entre os diversos dados recolhidos, escavados e interpretados pelos arqueólogos de campo e pelos especialistas em cerâmica, em arqueobotânica (área da arqueologia que estuda os vestígios botânicos) e em microestratigrafia (estudo dos depósitos sedimentários a uma escala reduzida), os cientistas destacam a descoberta de uma conta de lápis-lazuli, com origem no atual Afeganistão, testemunho de contactos de longa distância; e impressões de selos que contam a história de uma comunidade com complexos sistemas administrativos e de organização socioeconómica. “Kani Shaie destaca-se por ser, até ao momento, o sítio arqueológico do Curdistão onde mais impressões de selos – 84 no total – foram encontradas”, acrescentam Maria da Conceição Lopes e André Tomé.
Já na parte mais plana do povoado, a equipa cumpriu mais um objectivo, que “passava por lançar um primeiro olhar para os níveis do primeiro milénio antes e depois da nossa era, alargando a compreensão deste período”, destacam. Durante as quatro semanas de escavações, foi possível perceber “a existência de um grande edifício de época Parta (século III a.C. – século III d.C.), que impressiona pela sua dimensão e pelos materiais recolhidos”, partilham os investigadores.
No âmbito de um projecto complementar às escavações arqueológicas, a equipa do Kani Shaie Archaeological Project “realizou trabalho de campo e levantamento da arquitectura vernacular em aldeias da região, com registo de vários exemplos da arquitectura doméstica, inventariação dos sistemas construtivos tradicionais e recolha de informação oral junto das comunidades locais”, adiantam ainda os cientistas.
Esta campanha de escavação reuniu um grupo de 17 investigadores de várias nacionalidades e contou com a colaboração de especialistas de várias universidades e de arqueólogos curdos, incluindo estudantes de uma universidade local, que tiveram acesso a um programa formativo.
O Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património vai partilhar, nos próximos meses, as descobertas feitas ao longo das últimas escavações no sítio arqueológico de Kani Shaie.