Município de Vouzela vai estudar a formação da paisagem da Serra do Caramulo
MONS Vouzela é o nome do projecto que pretende estudar a formação da paisagem da Serra do Caramulo, desde que a montanha começou a ser modificada pelas actividades do Homem, há cerca de 6 mil anos, até aos dias de hoje.
Centrando-se nas freguesias de montanha de Cambra, Carvalhal de Vermilhas, Fornelo do Monte e Ventosa, o projecto MONS Vouzela é dirigido pela Prof. Doutora Catarina Tente, da Universidade Nova de Lisboa, e conta com a colaboração de diversos investigadores de outras instituições universitárias e com o apoio da Câmara Municipal de Vouzela e da Vouzelar – Associação de Promoção de Vouzela.
A equipa de investigadores vai estudar a forma como os povoados se distribuíram no espaço e se relacionaram uns com os outros ao longo dos tempos, os caminhos e os trajectos antigos que ligavam as povoações entre si e com os terrenos dedicados à agricultura e pastoreio, a origem dos baldios e dos costumes e práticas tradicionais de pastoreio e as marcas e construções deixadas pelo Homem na paisagem da montanha.
O estudo destes temas vai ser feito através da análise dos documentos históricos escritos; de inquéritos e entrevistas gravadas a membros das comunidades locais que mantenham práticas tradicionais e/ou memórias dos costumes antigos; da elaboração de mapas que permitam perceber os modos de uso da terra ao longo dos tempos e de trabalhos arqueológicos de prospecção e escavação em alguns sítios escolhidos.
Trata-se de um estudo inovador em Portugal, na medida em que será o primeiro a combinar os métodos da etnografia (o estudo da cultura e tradições das comunidades) com a arqueologia (o estudo do passado dessas comunidades através dos seus restos materiais).
Rui Ladeira, presidente da Câmara Municipal de Vouzela, considera que é uma necessidade cada vez mais urgente recolher e registar o saber e a memória das comunidades rurais. “Esta urgência é ditada pela transformação brusca que o mundo rural e a paisagem de montanha tem sofrido nas últimas décadas, com a substituição dos modos tradicionais de pastoreio e agricultura por uma exploração intensiva e mecanizada da floresta”, adianta.
“Ainda existe toda uma geração de antigos proprietários, de pastores e de agricultores que são uma fonte de informação única, mas que está em vias de desaparecer e cujo saber é fundamental registar antes que se perca para sempre”, considera Rui Ladeira.