Nova criação do Teatro Oficina, “Crocodile Club”, no CCVF

Nova criação do Teatro Oficina, “Crocodile Club”, no CCVF
Foto: (c) Bruno Simão

A estreia absoluta da nova criação do Teatro Oficina – que, em 2024, celebra 30 anos –, escrita e dirigida por Mickaël de Oliveira, é apresentada a 18 e 19 de Outubro no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Depois de “Ensaio Técnico” (2023), “Crocodile Club” é o novo espectáculo da companhia vimaranense, que procura abordar o novo espectro político português e a sua recente radicalização à direita, seguindo a tendência mundial de crescimento da extrema-direita e de novos populismos que procuram manipular a insatisfação e acicatar o medo. A partir de um retiro de fim de semana entre amigos (Afonso Santos, Bárbara Branco, Beatriz Wellenkamp Carretas, Fábio Coelho, Gabriela Cavaz, Luís Araújo e Inês Castel-Branco), “Crocodile Club” é uma peça sobre os limites da democracia, que convoca uma revisão de imaginários próprios da tradição do cinema de terror.

 

Com estreia marcada no Grande Auditório Francisca Abreu do Centro Cultural Vila Flor, sempre às 21h30, “Crocodile Club” é sobre o novo (antigo) espectro político que assombra a Europa e o mundo – a extrema-direita ou a direita nacionalista e populista. É também sobre a nova imagem dessa extrema-direita, que se autodefine muitas vezes como ‘direita descomplexada’, e sobre as maneiras de nos libertarmos da sua palavra vil e violenta. A proposta de Mickaël de Oliveira – que assume actualmente a direcção artística do Teatro Oficina – é tratar esse novo (antigo) espectro, via uma história de amizade, em que se confronta a dimensão do afecto com a ideológica, focando aspetos literários e dramatúrgicos que tentam perceber como esta fala ‘vil’ se pode desenvolver, e os modos de a enunciar e – de certa forma – denunciar.

 

O criador de “Crocodile Club” está certo de que esta ficção – que decorre em Portugal – podia acontecer em qualquer parte do mundo. Num contexto em que os países e as suas populações estão tão íntima e digitalmente interligados, é sabido que modelos e ideias políticas migram rapidamente de geografias (agora e desde sempre). O próprio partilha que neste espectáculo “Fala-se de efeito espelho e dominó. A extrema-direita portuguesa é um decalque de tantas outras. Os ideários ou ideologias perpassam países. É próprio desse espectro o não conhecer fronteiras.” Nesta peça, Mickaël de Oliveira pretende convocar a linguagem cinematográfica e, com esse recurso, compor, destacar e detalhar a narração e o discurso para efeitos de real (verosimilhança) – como o cinema tão bem consegue produzir. Para isso, explora os códigos revisitados do cinema e do terror, até porque “a extrema-direita é dada a fantasmagorias”. 

 

Os contornos desta ficção levam a uma narrativa que retrata um encontro de um grupo de amigos de longa data, reunidos na casa de campo da anfitriã, líder de um partido de extrema-direita e candidata às eleições legislativas (estando bem posicionada nas sondagens). O fim de semana serve a humanização da candidata de extrema-direita, através da realização de um minidocumentário com testemunhos dos amigos. Neste espetáculo, a ficção decorre em palco e também numa tela de cinema. Mickaël de Oliveira afirma que a estrutura é bastante clássica e propôs-se – sem grande pudor – a desenvolver várias linhas narrativas e a tornar a construção de personagem mais complexa e detalhada. A ficção de “Crocodile Club” relaciona ainda muitos tópicos e linhas temáticas, como a cultura de massas, o conservadorismo moral, o racismo, a indústria do espectáculo e o papel da comunicação social. 

 

A cenografia desta nova produção é um elemento importante do espetáculo e oferece um território para o jogo entre os intérpretes e o realizador-operador de câmara em cena. “A ideia é construir uma casa em palco. Metade da casa é visível pelo espectador, a outra só se revela mediada pelos ecrãs.” Existe uma relação formal e técnica interdependente entre os dispositivos cenográfico, luminotécnico, sonoro, sonoplástico e vídeo, sendo esta relação um dos desafios do espetáculo. Não sendo a primeira vez que trabalha o género do terror e gore, com recurso à câmara e vídeo em livestreaming, Mickaël procura com esta opção “voltar àquilo que nos faz arrepiar, ao que nos assusta. De forma primordial, até. A figura do fantasma é poderosa porque nos abre as portas do invisível e das crenças religiosas, culturais e políticas que assentam nele. 

 

Continuando um caminho traçado por anteriores criações da sua autoria, como é exemplo “Festa de 15 Anos” (2020, TNSJ) em que explora essa ideia de fantasma e de sobrenatural numa história de vingança pós-colonial, “Crocodile Club” dá continuidade, de certa maneira, a esse universo fantasmagórico, desta vez através de uma história que versa também sobre o racismo como arma eleitoral. 

 

A nova criação do Teatro Oficina é uma produção do Teatro Oficina e do Colectivo 84, resultado de uma parceria entre as equipas para a conceção e execução de um projeto exigente em muitos aspetos de produção, técnicos e artísticos, contando com um elenco talentoso de actores formado por Afonso Santos, Bárbara Branco, Beatriz Wellenkamp Carretas, Fábio Coelho, Gabriela Cavaz, Luís Araújo e Inês Castel-Branco. 

 

No dia 18 de Outubro, a estreia absoluta de “Crocodile Club” no Centro Cultural Vila Flor terá uma conversa pós-espectáculo e a sessão de 19 de Outubro conta com interpretação em Língua Gestual Portuguesa. Os bilhetes têm o valor de 10 euros ou 7,50 euros com desconto, podendo ser adquiridos online em aoficina.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) e a Loja Oficina (LO)

 

Texto e encenação Mickaël de Oliveira

 

Interpretação Afonso Santos, Bárbara Branco, Beatriz Wellenkamp Carretas, Fábio Coelho, Gabriela Cavaz, Luís Araújo, Inês Castel-Branco

 

Participação especial Francisco Ferreira e João Tarrafa

 

Desenho de vídeo e cinematografia Fábio Coelho

 

Cenografia e figurinos Pedro Azevedo

 

Desenho de luz Rui Monteiro

 

Apoio coreográfico Cristina Planas Leitão

 

Sonoplastia e composição Sérgio Vilhena e Rui Lima

 

Caracterização Catarina Santos

 

Direcção de produção Gabriela Cavaz e Susana Pinheiro

 

Produção Hugo Dias e Héloïse Rego

 

Direcção de cena Ana Fernandes

 

Direcção técnica Carlos Ribeiro

 

Direcção de comunicação Marta Ferreira

 

Comunicação Bruno Borges Barreto (Assessoria Imprensa), Pedro Magalhães e Rui Costa (Redes Sociais), Eduarda Fontes e Susana Sousa (Design gráfico)

 

Fotografias Bruno Simão e Ana Brígida

 

Produção Teatro Oficina e Colectivo 84

 

Coprodução Teatro Nacional São João, Teatro Aveirense

 

Parceria de criação e apresentação Fábrica ASA e Centro Cultural Vila Flor, Teatro Académico de Gil Vicente

 

Parceiro de design de interiores Angelourenzzo

 

Apoios à produção GrETUA, CIM do Ave, Belbrisa

 

Agradecimentos Teatro da Garagem, Pólo Cultural das Gaivotas, Leonor Figueiredo

 

Apoio Direcção Geral das Artes - Ministério da Cultura