Nova exposição "O Voo da Águia" revela o diálogo entre pintura e literatura na obra de António Carneiro

O Ateliê António Carneiro acolhe, entre Julho de 2025 e Fevereiro de 2026, a segunda parte do ciclo expositivo dedicado a António Carneiro, com curadoria de Bernardo Pinto de Almeida. Intitulada O Voo da Águia II: António Carneiro e a Literatura, a exposição revela a dimensão literária da obra do pintor, poeta e pensador, sublinhando a sua relevância cultural e intelectual no contexto português e europeu e propõe um diálogo com a contemporaneidade, através da presença de obras do artista João Queiroz, que espelham aproximações formais e conceptuais à paisagem e à introspecção presentes na pintura de Carneiro.
A inauguração da exposição “O Voo da Águia II” marca a reabertura do Ateliê. Está agendada para as 18 horas do dia 17 de Julho, quinta-feira, e contará com a presença do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira. Fica patente de terça a domingo, das 10 horas às 17h30.
Um pintor entre livros e poetas
Esta segunda parte do ciclo, que sucede a uma primeira mostra centrada na formação, passagem por Paris e afirmação simbolista do artista, aborda a profunda relação de António Carneiro com a literatura. Foi ele próprio autor de um livro de sonetos e detentor de uma biblioteca marcada por grandes obras do simbolismo francês, como as de Mallarmé. Em Paris, onde completou a sua formação, desenvolveu uma consciência artística marcada por uma forte componente literária.
O diálogo com escritores prolongar-se-ia por toda a sua vida, reflectido nas relações de amizade com figuras como Teixeira de Pascoaes, com quem dirigiu a revista A Águia, Guerra Junqueiro, cujo retracto realizou, e Antero de Quental, também representado num retracto notável. Esta ligação íntima entre palavra e imagem tornou-se uma assinatura de Carneiro e conferiu à sua obra uma dimensão espiritual e simbólica de rara intensidade.
Obras emblemáticas em exposição
A exposição apresenta um conjunto significativo de obras e estudos dedicados a figuras literárias e ao universo simbólico da literatura. Destacam-se as pinturas da série Camões Lendo Os Lusíadas aos Frades de São Domingos, as ilustrações para O Inferno de Dante, e os retractos de escritores portugueses criados para a obra Os Grandes de Portugal, publicada em 1916. Inclui-se também um núcleo dedicado à relação com Teixeira de Pascoaes, com a apresentação de obras que reforçam a afinidade espiritual entre ambos.
Um espaço com história viva
O Ateliê António Carneiro, reabilitado em 2024 num projecto do arquitecto Camilo Rebelo, adquire novo protagonismo enquanto espaço museológico e cultural. Foi neste local que Carneiro desenvolveu projectos de grande fôlego, como as séries religiosas, os retractos e as ilustrações literárias. Depois da sua morte, em 1930, o ateliê manteve-se activo com os seus filhos Cláudio e Carlos Carneiro, e viria a transformar-se, a partir da década de 1970, num espaço museológico dedicado à sua obra.
Programação paralela: arte, literatura e comunidade
O ciclo expositivo é complementado por uma programação que se inicia no fim de semana após a inauguração, com oficinas para famílias, visitas orientadas no jardim do Ateliê, proporcionando ao público um contacto directo e diversificado com a obra e com o espaço.
A programação prolonga-se até ao início de 2026, em dois grandes ciclos temáticos: o literário (Setembro a Novembro), com actividades em torno da relação de Carneiro com Camões, Dante e Teixeira de Pascoaes, através de oficinas, conversas e leituras encenadas e um ciclo espiritual e contemplativo (Dezembro a Fevereiro), com visitas, mediações e concertos que exploram a dimensão mais introspectiva e mística da obra do artista.
Paralelamente, integra oficinas criativas, sessões de mediação, inventários artísticos e percursos urbanos que aprofundam a ligação entre arte, literatura e comunidade.
Entre tradição e contemporaneidade
O “Voo da Águia II” encerra um ciclo que reafirma António Carneiro como um dos grandes pintores portugueses do século XX, destacando a actualidade do seu pensamento estético, a profundidade dos seus vínculos literários e a sua capacidade de criar pontes entre linguagens artísticas. Através deste percurso, o Ateliê convida o público a reencontrar uma obra que continua a inspirar e a interpelar gerações.
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