Bordado de Tibaldinho - Ponto a ponto a bordar uma história
Entrevista a Cidália Rodrigues, Bordadeira de Tibaldinho
É em Tibaldinho, uma aldeia que pertence a Mangualde que vamos espreitar a Oficina e o Salão de Exposição dos bordados de Cidália Rodrigues, uma distinta Bordadeira de Tibaldinho.
Cidália mostra imediatamente a sua paixão pela sua profissão quando relembra a sua história com um brilho no olhar. Revela que começou muito cedo nesta arte, uma vez que, era um ofício passado de geração em geração e porque se tornou uma ocupação enquanto a sua mãe ia para o campo trabalhar.
Tinha cinco ou seis anos quando teve pela primeira vez um pedaço de pano na mão e uma agulha. “Na rua eu via as senhoras a bordar e como a minha mãe ia trabalhar para o campo, eu ficava com elas. Naquela altura, davam-me um pedaço de uma camisa e um lápis para que eu pudesse desenhar no próprio pano. Ou então as senhoras riscavam, para que depois pudesse começar a dar os primeiros pontos”.
A bordadeira relembra que foram várias tias que a ensinaram a bordar, nomeadamente a irmã da sua mãe, a Tia Hermínia que começou por lhe ensinar o bordado de Tibaldinho, o conhecido bordado regional e tradicional. Naquela época, relembra que ficou assustada com o processo, quando lhe deram uma tesoura enorme, “As tesouras não eram pequeninas como hoje existem e quando eu corto o tecido, porque o bordado é primeiro cortado e depois bordado, faço um buraco enorme”, afirma. Acrescenta ainda que por esse acontecimento, pedia para apenas fazer “pontos de cheio” que era um motivo dos Bordados de Tibaldinho que não necessitavam de corte.
Numa altura em que a sua mãe teve de se ausentar para ir a Lisboa, teve de ficar em casa de uma senhora chamada Carolina e foi esta senhora que ensinou outros pontos do Bordado de Tibaldinho, porque este bordado tem essa característica especial, ser rico em pontos.
Teve de investir muito na sua técnica e precisão. Por isso conta-nos que para puder fazer bordados antigos, aproveitava as réplicas que lhe davam e desmanchava-as para conseguir perceber como eles eram feitos.
Cidália explica-nos que por volta de 1980 as bordadeiras “começaram a fazer os pontos mais simples para venderem mais rápido e para conseguirem ajudar o agregado familiar, porque a aldeia começou a evoluir, as pessoas começaram a construir casa e a vida começou a ficar mais difícil. O dinheiro do marido ia para o banco e o rendimento da mulher ficava para as despesas de casa. As mulheres trabalhavam no campo de dia e à noite sobre a luz de uma candeia faziam o bordado”.
A guardiã desta arte, garante que para além deste bordado possuir inúmeros pontos, o que caracteriza este ofício é a seleção da cor, pois o bordado é feito em apenas duas paletas de cor, o Branco Neve e o Bege Clarinho. Acrescenta ainda, que não pode ser feito em cores.
Quebra-se também o mito de que os mais jovens não procuram estes bordados. A artesã que trabalha há mais de 60 anos com os bordados, afirma que trabalha por encomenda e que tem jovens que procuram o seu trabalho para terem peças especificas “Eu estou a trabalhar para jovens. Acontece que começam por adquirir uma peça e ao verem que essa pequena peça de Tibaldinho enriqueceu o espaço ou se enquadrou na decoração, querem mais. Aliás o mais pedido por jovens, são os marcadores de prato, toalhas individuais ou os centros de mesa”.
Confessa ainda que, uma peça pode levar bastante tempo, dependendo sempre do pedido feito pelo cliente, garantindo que é muito importante a dedicação e o cuidado a bordar, primeiro porque “a agulha não anda sozinha” e porque não pode ser com muita velocidade para ele ficar certinho. Assume que chega a passar entre 14 a 16 horas a bordar, porque tem a possibilidade de conseguir estar a 100% nesta profissão.
Fala-nos sobre o Caderno de Certificações, visto que, o Bordado de Tibaldinho é certificado e é nesse caderno que está a explicação sobre os “Eleios” que são motivos do bordado, tais como, os diversificados pontos existentes como “Ponto de Ilhó”, “Ponto de cheio”, “Borbotos ou nozinhos”, a “Pata de Galinha”, a “Canoa”, entre muitos outros pontos.
A proprietária confidencia que todas as bordadeiras, bordam um coração em qualquer peça que elaborem, embora o desenho escolhido não possua. Mas realça que por mais pequeno que seja borda, que simboliza o coração da bordadeira, que o faz por amor.
A bordadeira para além de praticar esta arte, investe no ofício ao dar formações para os demais interessados, com o objetivo de despertar e ensinar as técnicas e o sentimento de conseguir bordar a história num pano. Acredita que quem começa a bordar, coloca um valor e respeito sobre o Bordado de Tibaldinho. As suas formações são para qualquer pessoa a qualquer idade, desde que tenha a curiosidade ou o gosto de querer aprender este ofício.
Esta guardiã da história dos bordados, exprime a importância de “louvar os nossos antepassados, porque sempre mantiveram o bordado de Tibaldinho e mantiveram o nome do bordado” e que este ofício passará de geração em geração, para dar continuidade ao trabalho de várias vidas.
No fim desta visita, a doce artesã confessa-nos que por vezes, no final do processo de uma peça, ainda se questiona de como foi possível elaborar algo tão perfeito, tão detalhado e delicado. E se atualmente existem mais condições, como é que antigamente à luz de uma candeia, isto acontecia.
Talvez seja magia, talvez seja amor ou talvez seja a dedicação de umas mãos que bordam com o coração, a verdade é que é a história de mulheres que dedicaram a vida e elevaram o nome deste bordado: O Bordado de Tibaldinho.