“O futuro da comunicação – oportunidades e ameaças” foi o tema da conversa que assinalou o 8º aniversário da Cápsula do Tempo – Guarda 2050. A Drª. Rita Figueiras, docente na Universidade Católica, doutorada em Ciências da Comunicação e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, abordou o tema numa altura em que a digitalização do mundo afecta todos os aspectos das relações humanas.
Na cidade da Guarda, as celebrações arrancaram com o cinzelar de um novo ano no monumento da Cápsula do Tempo, ali, no ponto mais alto da cidade mais alta de Portugal Continental. A honra coube a António José Teixeira, Director de Informação da RTP, ilustre egitaniense, que aproveitou a passagem pela Encosta do Tempo para recordar os seus tempos de juventude na cidade da Guarda, ali bem perto das escolas onde estudou: “Quase quarenta anos ditam o meu afastamento físico da cidade da Guarda, uma terra que guardo ser de homens fortes. Uma terra de gentes moldadas pelas dificuldades, mas que sempre se soube reinventar e procurar outros caminhos e lutar por aquilo que vale a pena. Voltar aqui ajuda-me a reconciliar-me com a vida.”
António José Teixeira debruçou-se sobre o projecto da Cápsula do Tempo e sobre o que este significa para a cidade: “A Guarda não precisa de pedir licença para estar no mapa, e são também iniciativas como a Cápsula do Tempo que lhe dão esse estatuto.”, acrescentando que “O tempo é a medida da nossa memória e a preservação da memória é vital, é o que em tempos mais difíceis nos deixa continuar agarrados à vida.”
Após o registo deste momento solene, seguiu-se a plantação de mais uma árvore no Jardim do Tempo, este ano um plátano, e a comitiva de ilustres presentes desceu a encosta até ao Solar dos Vinhos da Beira Interior, palco da habitual conferência que assinala este dia de aniversário.
No auditório ao ar livre, a Drª. Rita Figueiras discursou para uma plateia ainda limitada pela pandemia, abordando apenas “uma parcela, de uma parcela de uma parcela do tema comunicação e do seu futuro.” Para a investigadora “a principal questão é lidar com o presente, porque se não se lidar com o presente não estamos a preparar o futuro”.
Apesar de afirmar que “as tecnologias são cada vez mais humanas no seu desempenho, cada vez mais invisíveis, fundem-se com todos os elementos da vida”, contrapõe que “as vantagens sociais percebidas da tecnologia coincidem com sentimentos de ansiedade, por exemplo nas linhas que demarcam a vida pessoal da vida profissional.”
A comentadora residente no programa “A Espantosa Realidade das Coisas” da TSF, disse ainda que “para um algoritmo, mesmo a ausência de informação, é uma fonte de dados. Mesmo aqueles que não estão ligados à rede, contribuem para a criação de dados. A capacidade de rastrear também está a crescer, o que significa que o uso diário de objectos tecnológicos promove mecanismos de vigilância algorítmicas que deram lugar a um modelo de negócios baseado em dados. As informações pessoais tornaram-se um bem para ser comercializado. Isto abre caminho para um conjunto enorme de novas vulnerabilidades.”
Em jeito de análise final, Rita Figueiras diz que “a evolução da tecnologia, ao mesmo tempo que nos dá poder, tira-nos direitos. Quais são os critérios dos algoritmos? Quem guarda estes dados? Durante quanto tempo? Quem os pode usar? Estes são alguns exemplos dos múltiplos desafios que a vida digital coloca à vida humana. Desafios que o presente está a lançar ao futuro.”
Após a palestra, tempo para um animado debate entre todos os presentes, com alguns notáveis da audiência a trocar ideias sobre o tema. Na plateia, figuras como Carlos Chaves Monteiro, Presidente da Câmara da Guarda e o cientista Carvalho Rodrigues, fizeram questão de se juntar à conversa, ponderando sobre este problema, que a oradora principal afirma que “não deixa de ser um paradoxo, pois não é um problema para ser resolvido. É um problema para ser gerido.”
Após o debate, o programa continuou com a apresentação da chávena 2021 da colecção Cápsula do Tempo, por António Saraiva, este ano uma peça dedicada à tecnologia que faz girar o mundo. A chávena representa a cabeça humana e, no pires, as ligações tecnológicas que funcionam como um megafone do que se passa no nosso cérebro. A nova chávena pode ser adquirida junto do Clube Escape Livre.
As celebrações terminaram com com uma prova de vinhos da Beira Interior que permitiu a oradores e plateia um momento de convívio e troca de ideias.