"Stringing the disconnection" de Rui Soares Costa, em Salgadeiras Arte Contemporânea

"Stringing the disconnection" de Rui Soares Costa, em Salgadeiras Arte Contemporânea
Vista de sala © Bruno Lopes

«STRINGING THE DISCONNECTION» — RUI SOARES COSTA

De 25 de Novembro de 2023 a 24 de Fevereiro de 2024.

Qua-Sáb 14h30/19h30. Salgadeiras Arte Contemporânea.

Rui Soares Costa apresenta obras recentes de diversas séries que se encontram no seu pensamento político e social enquanto artista e ser cognitivo. «Stringing the disconnection» parte dessa premissa na qual se assume por um lado, a implicação do Homem na transformação significativa do planeta, naquilo que se denomina de era do Antropoceno, e por outro, a percepção da complexidade do mundo contemporâneo na qual concorrem diversos sistemas e paradigmas. Ou seja, para resolvermos os problemas actuais do mundo, tangíveis, imediatos ou (co) existenciais, necessitamos recorrer à nossa cognição, considerando o(s) Outro(s) nesta complexa equação onde o tempo desempenha um papel fundamental.

Desde «Rising», em 2021, que Rui Soares Costa tem vindo a integrar na prática artística de forma mais explícita e profunda o seu pensamento e posicionamento sobre o mundo e o Homem contemporâneos. Desde logo, reflectindo sobre o que é singular na nossa espécie como seja o facto de termos na nossa herança antropológica o culto dos mortos, o que nos permite perspectivar e representar o que já não existe. De igual modo, a Rui Soares Costa muito lhe tem interessado a tese dos hiperobjectos de Timothy Morton na qual se enuncia que, dada a enorme complexidade de certos fenómenos, há como que uma impossibilidade de o Homem conseguir lidar com os mesmos, de que são exemplo as alterações climáticas.

 

É neste contexto que surge «Stringing the disconnection», composta por obras recentes de diversas séries que se encontram no seu pensamento político e social enquanto artista e ser cognitivo. Esta exposição, que inaugura o novo espaço das Salgadeiras e celebra o seu vigésimo aniversário, encontra-se profundamente alinhada com o nosso programa no qual se defende a Galeria, em sentido lato, como um lugar de conhecimento e reflexão. O conceito expositivo parte dessa premissa na qual se assume por um lado, a implicação do Homem na transformação substancial e significativa do planeta, e que esteve na base da nova era do Antropoceno, e por outro, a percepção e aceitação da complexidade do mundo contemporâneo na qual concorrem diversos sistemas e paradigmas. Ou seja, para resolvermos os problemas actuais do mundo, tangíveis, imediatos ou (co) existenciais, necessitamos recorrer à nossa cognição, à conexão com o real, considerando o(s) Outro(s) nesta complexa equação onde o tempo desempenha um papel fundamental.

 

O tempo, a sua representação ou interpretação, o estado de aceleração que vivemos e o quão isso impacta na Natureza, encontram-se concomitantemente nas séries “Paper series”, com múltiplos papéis submersos em resina que desvendam um desenho que se prolonga no tempo; nas “Air series” que explora a ideia de intersecção e de complexidade que reflectem a intervenção do Homem no planeta; a série “not there” que nos traz uma ausência tão ou mais importante que a presença, numa sucessão de linhas paralelas e ininterruptas. O discurso expositivo assenta numa espécie de alegoria: há um Av. Estados Unidos da América 53D (entrada pela Rua Coronel Bento Roma 12) 1700-165 Lisboa (+351) 213 460 881 salgadeiras@sapo.pt salgadeiras.com corredor, uma espécie coluna vertebral, acentuada pela presença de um tronco (ainda, já?) morto que nos conduz de um momento recente de grande incerteza até um futuro cuja realidade se caracteriza por uma grande complexidade. De um lado, uma fotografia de Mehrangarh Fort and Museum, em Jodhpur na Índia, onde Rui Soares Costa se encontrava em residência artística quando, em 2021, foi declarada a pandemia. A árvore trazida pelo Rio Tejo e encontrada perto do atelier do Rui Soares Costa, suspensa a 2,5 metros, o cenário mais radical da subida do nível médio das águas do mar até final do século. Do outro lado, uma instalação composta por uma cantoneira de aço e de luz, colocada à cada vez mais previsível altura, e uma teia de fios de pesca que remetem também para o contexto da sua produção artística. Atravessamos estes fios, e olhamos os telhados de Jodhpur, uma paisagem difusa onde, no primeiro plano, encontramos novamente uma rede. Afinal, a complexidade pode ser entendida como uma sedimentação de coisas simples, à espera de serem decompostas, isoladas e reveladas. Desses múltiplos olhares, cognitivos, sensitivos, filosóficos, encontraremos a resolução do problema, da qual não deveríamos desistir. Tal como números, a complexidade também terá uma parte real e uma imaginária?

Ana Matos
Lisboa, Novembro de 2023

Em anexo:
Descarregar "Untitled", Mehrangarh series
Imagem: «Untitled», Mehrangarh series. Impressão fotográfica em backlit, 150 x 150 x 8,5 cm, 2023.
Descarregar "Untitled", Paper series (IV)
Imagem: «Untitled», Paper series (IV). Fogo, papel e resina sobre contraplacado, 140 x 140 x 5,5 cm, 2023.
Descarregar Nota de imprensa + biografia do artista + Folha de Sala de Ana Matos

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