Uma tradição reinventada

Uma tradição reinventada
Fotografia: Tiago Canoso

A tradição já não é o que era: há menos pastores na Serra da Estrela e a transumância (deslocação sazonal dos rebanhos para terrenos com melhores condições) é feita em muito menor escala. Ainda assim, a criação de gado continua a ser um dos pilares da economia regional, com o fabrico de queijo e de produtos à base de lã. Só na pequena vila de Manteigas há duas fábricas dedicadas à produção de burel e que exportam para diversos pontos do globo: a Ecolã e a Burel Factory.

A primeira, fundada em 1925, produz os famosos capotes com lã de ovelha, além de diversos artigos com design contemporâneo, como casacos, mochilas, malas, cobertores, mantas, sacos para bebé ou chapéus. A Burel Factory surgiu apenas em 2010 e desde então tem vindo a reinventar o burel, recorrendo a criativos para elaborar peças originais com cores e texturas ligadas à tradição e à cultura manteiguenses. Entre os grandes projectos da empresa destacam-se o revestimento das paredes da nova sede da Microsoft em Lisboa e dos escritórios da Google em Madrid.

O burel é um material com muitas aplicações e um excelente isolante térmico e acústico, resistente ao fogo, muito flexível, confortável e de fácil manutenção. A história deste tecido, 100% lã de ovelha, começa na Idade Média, associado à Serra da Estrela, à montanha e aos pastores. Inicialmente era associado às camadas mais pobres, sendo vendido a um preço muito baixo, mas pelas suas características também a realeza começou a utilizá-lo, tendo sido D. Leonor de Lencastre (1458- 1525) a primeira rainha a envergar o burel preto como vestimenta de luto.

A sua autenticidade resulta de uma sequência de operações bem definida no processo de fabrico. A lã é tosquiada, lavada, fiada, urdida no órgão e tecida no tear. Depois é pisada numa máquina, o pisão, que a bate e escalda, transformando o tecido em burel e tornando-o mais apertado, resistente e impermeável.