Chaves, a Eterna Disputa
De Chaves quase se pode dizer que foi berço de todas as nacionalidades que moldaram “a” nacionalidade. Romanos, mouros e cristãos: todos insistiram em tomar a cidade como sua.
É a Roma que Chaves deve muito da sua originalidade. Não que esta cidade transmontana seja em tudo igual à capital italiana, mas certamente que ambas partilham algumas semelhanças na sua história. Se a comparação parece desfasada, passamos a explicar: é que Chaves conheceu um período glorioso na sua existência durante o Império Romano que até hoje se faz notar nos encantos do concelho. Os romanos instalaram-se no vale do Rio Tâmega, e logo ergueram muralhas e a famosa ponte de Trajano - que fazia parte do caminho que ligava Braga (Bracara Augusta, naquele tempo) a Astorga (Asturica Augusta).
Tal foi a marca que deixaram, que Chaves (contrariando a tendência nacional de assinalar feiras medievais) prefere fazer um festival dedicado aos romanos: a Festa dos Povos ocupa a agenda do concelho há já vários verões, e nela os gladiadores voltam a aparecer…
Mas, nem só os romanos fizeram questão de deixar as suas pegadas por estes lados. Mouros e cristãos viveram em constante desafio até ao século IX, altura em que D. Afonso a conquistou… não sem Chaves voltar a ser moura mais uma vez. Valeu a reconquista de D. Afonso III, que não só a resgatou como a cercou de muralhas. Foi em 1160 que Chaves se integrou oficialmente no país, mas isso não impediu os forasteiros de a tentar trespassar.
O MUSEU MILITAR
É na Torre de Menagem de Chaves que está instalado o Núcleo Militar, criado em 1978 aquando das “Comemorações dos XIX Séculos do Município de Chaves”. O Núcleo Militar tem em exposição permanente material militar, armas, espadas, uniformes, bandeiras, peças de artilharia, assim como diversas outras peças, que ao longo dos tempos, foram sendo utilizadas pelo exército português. Cada piso está consagrado a um tema: logo no primeiro, temos a Sala D. João I, dedicada à época da Reconquista. Nela, encontra-se uma réplica do elmo e espada de D. João I, uma bandeira da fundação de Portugal e da Ordem de Avis, bem como uma armadura e espadas do séc. XVII, para além de miniaturas de guerreiros dos distintos povos que passaram por Chaves até ao século XIV.
O 2.º piso surge ligado ao tema das Guerras Peninsulares (1808-1815), ao qual a cidade de Chaves se encontra fortemente ligada, uma vez que foi através desta cidade que a Segunda Invasão Francesa, liderada pelo Marechal Soult, penetrou em Portugal, bem como outras peças de campanha do século XVIII.
A Sala da Primeira Guerra Mundial ocupa o 3º piso, onde se pode contemplar o espólio do General José Celestino da Silva, um capacete das tropas alemãs, alguns modelos de espingardas, uniformes de infantaria e várias peças de artilharia. Por último, o 4º piso recebe espólio da Guerra Colonial: canhangulos, uma espada gentílica, uma metralhadora ligeira, uma espingarda de repetição, uma pistola-metralhadora de tambor, azagaias, catanas e mocas gentílicas.
Texto original de Mariana Rodrigues.