Bragança: Festa dos Rapazes

Bragança: Festa dos Rapazes
Fotografia: DR

Texto por Ana Margarida Gomes e Lino Lopes Ramos 

Os  mancebos  vestem  fatos  coloridos  cobertos  de  fitas,  campainhas  e  choca­ lhos e envergam uma expressiva máscara  de  pau,  couro,  cortiça  ou  lata  que  lhes protege a identidade. É no conforto  desse  secretismo  que,  pela  alvorada,  percorrem  as  ruas  da  aldeia  aos  gritos,  lançando  impropérios,  saltando,  dançando  ao  som  da  gaita  de  foles  e  “chocalhando” as mulheres, no que pode ser  interpretado  como  um  ritual  de  fertilidade.  Entram nas  casas  muitas  vezes  sem  permissão  para  roubar  o  fumeiro, mas também são convidados a provar o  vinho  novo  na  adega.  À tarde,  expõem  na  praça  pública  os  comportamentos  reprováveis que ocorreram na comunidade  durante  o  ano.  As  raparigas  solteiras  são  as  principais  visadas,  em  especial  pelos  namoricos.  Designado  por  “comédias”,  “loas”  ou  “colóquios”,  o ritual tem como objectivo purificar ou  absolver  os  autores  desses  comporta­ mentos e prevenir a sua repetição, preparando-se  a  comunidade  para  a  entrada no novo ano.

A Festa dos Rapazes acontecem maioritariamente  nos  dias  25  e  26  de  Dezembro e são uma das celebrações mais  características do nordeste transmonta­ no. Estão integradas no ciclo de festividades do  Solstício  de  Inverno  e  assinalam  a  passagem  à  idade  adulta.  As  tropelias  que  cometem  e  a  ideia  de  impunidade  de  que  gozam  elevam­nos  a uma espécie de seres superiores, mágicos,  proféticos  e  transcendentes.  Os  mordomos,  eleitos  entre  os  mais  velhos, fazem cumprir as normas instituídas, aplicando penas mais ou menos se­ veras,  consoante  a  gravidade  dos  “delitos”: multas em dinheiro, castigos físicos  (mergulhos  no  rio  ou  nos  tanques  de  água gelada) ou trabalhos a executar (no  contexto da festa). Com raízes no tempo  dos Celtas, estas festividades chegaram a  ser  proibidas  pelo  Cristianismo,  por  se­ rem  contrárias  à  celebração  do  Nascimento  de  Cristo,  dos  Santos,  do  Ano  Novo ou dos Reis. Além dos rapazes, em algumas aldeias já se admitem raparigas  e homens casados.