Exposição "A Quem Possa Interessar: Uma Colecção, Uma Carta" no Museu de Serralves

Exposição "A Quem Possa Interessar: Uma Colecção, Uma Carta" no Museu de Serralves
Fotografia: DR

Como o título indica, construiu-se esta mostra como se fosse uma carta, partindo do princípio de que todas as exposições são epístolas cujos destinatários são todos e ninguém em particular. A colecção em questão (a Colecção BPP, do antigo Banco Privado Português) integra muitos trabalhos de artistas que já estão presentes na Colecção de Serralves, contribuindo para que possamos estudar e apresentar em profundidade alguns artistas nacionais e estrangeiros considerados incontornáveis no panorama artístico compreendido entre os anos 1960 e a actualidade. Este conjunto de trabalhos também enriquece a Colecção de Serralves na medida em que contempla artistas que aí não estão presentes, mas que dialogam exemplarmente com os artistas que fomos reunindo.

Enquanto primeira mostra exaustiva da Colecção BPP em Serralves, tentou-se fazer uma “carta” que não excluísse nenhum potencial destinatário. Quis mostrar-se um muito considerável número de obras, em detrimento de perspectivas sobre os trabalhos que porventura afunilassem a sua recepção. De um ponto de vista formal, a inspiração para as paredes repletas de obras veio dos “Salons” de pintura do século XIX. Esta primeira “carta” permite futuras leituras particulares através da apresentação de um (quase) “todo” … e um “todo” que evita as decisões curatoriais normalmente mais imediatas, como subordinar exposições colectivas a temas, ou fazer justiça e dar palco e espaço a artistas e narrativas até aqui negligenciados. Optou-se por agrupar as obras em núcleos que correspondessem a temáticas clássicas, porventura consideradas pouco operativas, arcaicas e académicas, mas que nos permitiram justamente dispensar matérias consideradas mais “contemporâneas”. Assim, conceitos como “retracto”, “paisagem”, “geometria”, “arquitectura” e “narrativas/fábulas”, suficientemente abrangentes e porosos, permitem compor um quadro geral de unidades móveis à espera de serem re-articuladas em novas organizações.

A exposição também testemunha a história comum entre a Colecção BPP e a Colecção de Serralves, já que a primeira direcção artística do Museu de Serralves (Vicente Todolí e João Fernandes) teve com a comissão de compras da Colecção BPP uma relação próxima, sugerindo a incorporação de determinadas obras e assegurando o seu depósito em Serralves —, o que faz da Fundação, regressando ao título da exposição, o “interessado” mais natural, mais evidente.

A exposição, “A Quem Possa Interessar: Uma Colecção, uma Carta” é organizada pela Fundação de Serralves com curadoria de Isabel Braga e de Ricardo Nicolau.