“Como desenhar uma filha nua”, de Jorge Palinhos

“Como desenhar uma filha nua”, de Jorge Palinhos
Foto: DR

Há um espectáculo de palco diferente a acontecer dentro de um livro e que convida a plateia a desnudar um enredo

Um livro no ponto de partida. Uma actriz como cicerone de serviço. Um enredo especial a funcionar como carta de navegação, porém com destino algo incerto. E, ainda por cima, provavelmente diferente para cada um dos 20 a 30 passageiros - privilegiados – dispostos a partir numa viagem de uma hora. Interactiva, diferente. Tudo graças a uma dinâmica de leitura que explora a “palavra como assombração” ou a “criação como problema”. Para convidar a plateia a descobrir, e a reconstruir, não só a obra e o pensamento de um artista, como a verdade da mentira, usando – como se fossem detectives - as informações que são fornecidas ao longo do espectáculo para desvendar o enigma da jornada. Envolvida pela sonoplastia e cenografia criadas pelo colectivo artístico portuense Visões Úteis.

 

Não, não é um escape room. É “Como desenhar uma filha nua”, uma criação que “procura explorar as possibilidades da palavra escrita, da leitura em voz alta e do design gráfico como ferramentas de expressividade performativa”, nas palavras de Carlos Costa, director artístico da companhia, a celebrar 30 anos em prol da cultura nacional.

 

Centrada na análise de uma obra (bio)gráfica de um autor internacional, procura trilhar o tema da relação entre o usufruto da arte e o julgamento do carácter do artista. Ou, de uma outra forma, palmilhar uma “visão linear da vida humana que possa desvendar a sua complexidade multidimensional”. Da luz à sombra, das ideias aos actos. Públicos, conhecidos, privados, desconhecidos.

 

Tudo isto adivinhando que “diferentes plateias fornecerão diferentes dinâmicas”, acredita Jorge Palinhos, autor do texto, e que a criação dessas comunidades, reunidas com um objectivo único, “fornecerá, paradoxalmente, orgânicas distintas”, “entidades repletas de particularidades” entre si. Ou não apontasse a performance do Visões Úteis igualmente os holofotes para a temática da relação entre o usufruto da arte e o julgamento do carácter do artista, como sublinha o mesmo autor.

 

“Como desenhar uma filha nua” arrancou enquanto residência criativa em Sintra (de 16 a 20 de Setembro), por ocasião do Muscarium - Festival de Artes Performativas, da lavra da companhia de teatro sintrense Teatromosca, mas a estreia absoluta acontece em Famalicão (Casa das Artes), a 10 e 11 de Outubro, às 21h30. No Porto, para já, está programada para o espaço MIRA, de 16 a 18 de Outubro, às 19h00, e dia 19, às 17h00. A criação viaja depois para Atenas (Grécia), para um espectáculo no 1927 Art Space, em 22 e 23 de Novembro. A 15 de Março de 2025 chega ao Teatro Municipal de Bragança.

 

“Estaremos perante o que apelidamos de pandramaturgia tipográfica, em que o texto se torna substituto de toda e qualquer imagem, funcionando como antídoto e questionamento do império da imagem”, fundamenta Carlos Costa.

 

A direção de “Como desenhar uma filha nua” pertence a Jorge Palinhos e conta com as colaborações habituais de Ana Vitorino, Inês de Carvalho, Pedro Correia, Sara Allen e Vasco Zentzua, em coprodução com a Casa das Artes de Famalicão e o Teatro Municipal de Bragança.

 

“Quanto de nós fica naquilo que fazemos? Passamos boa parte das nossas vidas angustiados - quase sempre inutilmente - com a forma como os outros vão julgar ou lembrar o que fazemos. Valorizamos quem faz e quem cria, na fé de que o gesto de transformar o mundo está reservado aos heróis e aos santos. Mas numa época em que santos e heróis são cada vez mais suspeitos, o que fazer com o legado de quem já não está cá para se justificar ou defender? O que fazer com as obras de arte de quem viveu noutro tempo, mas construiu também o tempo em que vivemos hoje?”, interpela a sinopse da obra.

 

As (primeiras) respostas começarão a surgir a partir de 10 de Outubro.

 

“Como desenhar uma filha nua” - Ficha artística e técnica:

 

Direção e texto - Jorge Palinhos

Cocriação e interpretação - Ana Vitorino

Espaço cénico e fólico - Inês de Carvalho

Design e ilustração gráfica - Sara Allen

Desenho de Luz - Pedro Correia

Banda sonora - Vasco Zentzua

Coordenação de produção - Cláudia Alfaiate

Contabilidade - Helena Madeira

Apoio à criação em residência - teatromosca/MUSCARIUM

Produção - Visões Úteis, em coprodução com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e Teatro Municipal de Bragança

 

Sobre o Visões Úteis:

 

O Visões Úteis é um projecto artístico sediado no Porto, onde foi fundado em 1994. O teatro foi a raiz de uma actividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas. E em reconhecimento da sua acção artística junto de públicos diversificados, o colectivo recebeu em 2001 a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto. O raio de acção do grupo estende-se a uma panóplia de projectos, paralelos à criação e itinerância de espectáculos, que desde sempre traduziram o desejo de confronto com outras áreas e com públicos distantes da produção artística. O Visões Úteis é membro da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, do IETM – International Network for Contemporary Performing Arts, da APCEN - Associação Portuguesa de Cenografia e da Fundação Anna Lindh.