“Ruralidades” de Jorge Bacelar levam meio Portugal ao Ateneu do Porto
Corpos castigados pelas jornadas de trabalho no campo, do nascer ao pôr do sol. Jogos de luz que funcionam como torneiras que agitam as águas das nossas almas, aqui e ali candidamente perscrutadas pelos olhares e pelas mãos dos retractos. Rugas, resignadas, mas também, por entre a penumbra, iris inundadas de um azul – ou verde - cristalino onde parecem caber infindáveis horizontes ainda por descobrir, cheios de perguntas…
Assim é a fotografia de Jorge Bacelar, com a sua gente, como o próprio costuma dizer. Que é a nossa gente. De meio Portugal. Marcado pelas “Ruralidades” – título da mostra fotográfica com que preencherá durante um mês o Ateneu Comercial do Porto. E que é vista como a primeira grande exposição dos trabalhos (em grande formato) que têm conquistado inúmeros prémios internacionais. Ao ponto de atirar o autor para a ribalta mundial, bem para lá da Ria (Aveiro) onde nasceu a paixão pela imagem e dos campos onde cultivou o estilo.
Num mundo em que cada vez mais custa evitar contactos, por causa da pandemia que grassa, as “pinturas da vida real” de Jorge Bacelar assumem uma importância ainda maior, porque, se há linha condutora na sua arte fotográfica, ela é feita de proximidade, de cumplicidade, de amor pelas gentes. E não há maior homenagem do que essa.
Foi também isso que muitos júris nacionais e internacionais, e amantes da fotografia, viram nas capturas do autor, que venceu em 2021 o prémio do Público no Travel Photographer of the Year, uma das maiores competições de fotografia de viagens do mundo.
No ano anterior havia ficado entre os 50 finalistas mundiais no concurso "Best Photo of 2020", mas o palmarés é extenso (ver resumo em anexo), não obstante ter começado a fotografar, de forma autodidacta, apenas a partir de 2013.
Nascido em 12 de Junho de 1966, em Figueira de Castelo Rodrigo, Jorge Bacelar continua a exercer a profissão que aprendeu na faculdade: veterinária. O culto pela fotografia continua a ser feito por entre a naturalidade de partos a gado e o tratamento de maleitas de outros animais, em currais ou em campo aberto.
As gentes de Estarreja e Murtosa permanecem a sua grande fonte de inspiração, vertida para fotografias de qualidade crua, como que pintadas, que mostram a relação próxima que o fotógrafo tem com as pessoas retractadas.
A exposição “Ruralidades”, de Jorge Bacelar, é o primeiro de muitos eventos na agenda próxima do Ateneu Comercial do Porto. Em Março, por exemplo, está programada uma visita imersiva multimédia para contar a história da instituição. No mesmo mês, a 12, comemorar-se-á os 450 anos da 1.ª edição dos Lusíadas, de que o Ateneu do Porto detém um exemplar original.