A modéstia de Passos de Silgueiros

A modéstia de Passos de Silgueiros
Fotografia: António Lopes Pires

O Rancho Folclórico de Passos de Silgueiros nasceu em 1978 na sequência da riqueza folclórica da sua terra.

Desde a primeira hora que o grupo pesquisou, recolheu e estudou todos os aspectos da herança cultural popular da região de Viseu, zona planáltica situada entre as serras da Estrela e do Caramulo, limites do seu horizonte visual.

“Os milhares de documentos obtidos constituem o património do seu museu, o mais rico da Beira Alta e um dos mais importantes de Portugal, no seu género”, refere o presidente do grupo António Lopes Pires. As danças e os seus cantares têm beleza, a par da simplicidade quase ingénua do povo simples e bom que no passado assim cantou e dançou, alegria de quem põe entusiasmo e doação em tudo quanto faz, ao lado de uma certa nostalgia dos portugueses, enfim, a marca da autenticidade  rigorosamente perseguida.

Uma comunidade rural do passado e diversificada

Os trajes do Rancho folclórico de Passos de Silgueiros foram reconstituídos segundo a documentação arquivada, respeitando os pormenores, desde os óculos aos botões. Com a maior dignidade, o grupo folclórico tem levado o nome da região aos quatro cantos de Portugal e, no estrangeiro, tem sido um verdadeiro embaixador das tradições populares nacionais e membro da Federação do Folclore Português.

António Lopes Pires caracteriza um grupo etnográfico ou de Folclore como “aquele que recolhe, estuda e divulga todos os aspectos da cultura tradicional e popular dos portugueses”.

Quando se fala deste grupo em específico, pensa-se, muitas vezes, que apenas estamos a falar de danças, cantares, trajes e tocatas. Longe disso, o Folclore de Passos de Silgueiros é definido como o saber ou sabedoria do povo, referindo-se a procedimentos, comportamentos, formas de agir, de pensar e de viver das comunidades.

Aquilo que o grupo recolhe e reproduz possui características próprias que ajudam a identificá-las como populares, passando de geração em geração pela via oral e não outra, sendo aceites por toda a comunidade e não apenas por alguns, de autor anónimo e possuindo um sentido utilitário.

Por isso, quando se fala de danças, cantares, trajes, instrumentos musicais, artesanato, medicina tradicional, culinária e todo o mundo da literatura popular de tradição oral, referimo-nos a adivinhas, adágios, rezas, orações, trava-línguas, lengalengas, etc.

Uma “Política do espírito”

A criação de ranchos folclóricos remete-nos à chamada “Política de espírito” introduzida por António Ferro, a partir dos anos de 1930.

António Lopes Pires considera a Europeade “uma manifestação cultural de âmbito europeu que, anualmente, se realiza em diversos países, com a participação de diversos grupos, sem a exigência de serem obrigatoriamente defensores e praticantes dos princípios que definem os verdadeiros grupos etnográficos”. Segundo o responsável, participar num acontecimento deste cariz depende dos conceitos e objectivos defendidos pelos participantes.

 

Texto: Carolina Brilhante