Centro de Portugal, um destino turístico para todos

Centro de Portugal, um destino turístico para todos
Fotografia: Pedro Machado

O projecto Brendait procura fazer da região Oeste, no Centro de Portugal, um destino turístico acessí- vel e inclusivo.
 

 
Um dos grandes problemas quando se fala de turismo acessível prende-se com a falta de “oferta qualificada” e em rede. Os turistas com algum tipo de necessidade especial têm à disposição um número cada vez maior de hotéis, restaurantes, transportes ou monumentos adaptados, mas, de uma forma geral, ainda há pouca qualificação – por exemplo a nível dos profissionais do sector – e esta gama de serviços quase nunca funciona em rede, o que acaba por afastar muitos potenciais clientes.
O projecto Brendait (Building a Regional Network for the Developement of Accessible and Inclusive Tourism) foi lançado no início de 2016 para resolver esse problema na região Centro de Portugal, mais precisamente no Litoral Oeste. O objectivo foi criar um destino turístico acessível a todos.
A ideia tinha sido lançada pela empresa Perfil, de consultoria e formação especialista na área do turismo acessível e inclusivo, e teve a adesão do Turismo do Centro, da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), Escola Superior de Hotelaria e Turismo e European Network for Accessible Tourism (ENAT). O projecto iniciou-se em Março de 2016 em oito municípios – Alcobaça, Batalha, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche e Torres Vedras –, envolvendo 44 entidades ligadas ao sector do turismo, entre alojamento, restauração, animação turística ou património cultural.

Um dos primeiros desafios foi mudar mentalidades, motivar os agentes turísticos locais a desenvolverem uma “oferta de turismo acessível e inclusivo”, recorda o presidente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado. Um dos problemas apontados ao sector da hotelaria, por exemplo, é o facto de geralmente as unidades disporem de apenas um quarto adaptado, o que à partida afasta potenciais clientes com necessidades especiais, dado que muitos viajam em grupo ou família.

Esses agentes teriam, depois, de criar uma parceria regional, “já que cada um, por si só, não constitui um destino”. Como qualquer outro turista, aquele que tem necessidades especiais não procura apenas um quarto e um restaurante: precisa também de saber o que pode fazer durante a sua estadia, a que praia ir, que museus visitar ou que transportes usar. O terceiro passo seria “qualificar o território”, isto é, qualificar os prestadores de serviços turísticos para proporcionar experiências de “elevada qualidade”. Neste ponto, um dos aspectos mais importantes é evitar lidar de modo diferente com esses clientes, para que não sintam ainda mais discriminação. O projecto Brendait promoveu, por isso, acções de formação para os profissionais do sector, de forma a alterar a mentalidade, o atendimento, a postura. A última etapa é a promoção desta oferta. “É fundamental criar “produtos”, construir uma rede de serviços, comunicar com a “procura”, promover o destino, conquistar clientes”, sublinha Pedro Machado.

 

140 milhões de potenciais clientes

Estes e outros obstáculos ao turismo acessível já haviam sido identificados por diversas entidades, entre as quais a Comissão Europeia. De resto, a própria União Europeia concedeu apoio à concretização do Brendait através do programa COSME, para a Competitividade das Empresas e PME’s. A escolha da região Oeste deveu-se ao facto de ser uma zona com um conjunto de produtos turísticos e condições que à partida são mais indicadas para este tipo de segmento. “Tem não só a parte de turismo de lazer, de praia acessível, e depois também a parte de cultura, de património. Temos o Mosteiro da Batalha, o de Alcobaça, uma série de património arqueológico e arquitectónico”, explica a Associação de Hote- laria de Portugal (AHP).

Durante o ano de 2016, 54 entidades e 148 participantes integraram acções de formação, no quadro dos seus processos de qualificação para o turismo acessível e inclusivo (autodiagnóstico, atendimento, gestão). Um ano depois de ser lançado, o projecto envolvia já 68 entidades. O Brendait ficou concluído no final do primeiro trimestre,  mas  o  presidente do Turismo Centro de Portugal quer dar-lhe continuidade, “apoiando e estimulando as entidades interessadas, não deixando “esfriar” a motivação dos que já estão a trabalhar neste campo, consolidando a dinâmica iniciada no território do Oeste”.

Pedro Machado fala mesmo em aplicar o projecto noutros territórios, algo que é bem visto pelas diversas entidades nacionais ligadas ao sector, que apontam duas grandes vantagens ao negócio do turismo acessível: permite aumentar a taxa de ocupação, dado que estes clientes ficam, em média, mais tempo, e combater a sazonalidade, dado que é frequente viajarem fora da época alta.

O Brendait segue a linha de um programa mais vasto, o “All for All”, do Turismo de Portugal, que tenta promover o país como “destino acessível”. O mercado é imenso: de acordo com Ivor Ambrose, director geral da European Network for Accessible Tourism (ENAT), “há três milhões de operações turísticas na Europa e só 300.000 dizem ser acessíveis para todos – apenas dez por cento! E a procura é grande: há 140 milhões de pessoas na Europa com necessidades especiais quando viajam. É uma oportunidade óbvia”.