Coração Dividido

Coração Dividido
Fotografia: C. M. Figueira de Castelo Rodrigo

A história de Figueira de Castelo Rodrigo começa com Espanha: a vila de Castelo Rodrigo começou por ser domínio de Leão e por uma vez quis voltar a ser espanhola…

Nasceu espanhola mas manteve-se portuguesa, não sem incorrer numa infidelidade… Falamos de Castelo Rodrigo, a vila tornada aldeia histórica que integra o concelho guardense de  Figueira  de  Castelo Rodrigo. Esta é uma das 12 Aldeias Históricas cujo património histórico impressiona o olhar; desde que surgiu, Castelo Rodrigo foi sempre alvo de várias tensões. Desde logo pela sua origem: foi fundada por Afonso IX de Leão, que lhe atribuiu o foral em 1209, até passar para as mãos do conde Rodrigo Gonzalez de Girón (a quem deve o seu nome).

Foi preciso chegar a 1297 para D. IV, filho de Sancho IV. Começou assim uma profunda penetração por Castela, avançando desde Ciudad Rodrigo até Valladolid. Com isto D. Dinis conseguiu colocar guarnições Dinis juntar a vila à coroa portuguesa. O rei, ciente da necessidade de fortalecer a presença portuguesa, aproveitou uma fraqueza dinástica de Leão e deslocou-se à Guarda para declarar guerra a Fernando portuguesas em Castelo Rodrigo, Alfaiates, Sabugal, Vilar Maior, Castelo Bom, Almeida e Castelo Melhor. Isto obrigou os Castelhanos a assinar o Tratado de Alcanizes.

Para assegurar a posse das terras conquistadas aos reinos de Leão e Castela, D. Dinis mandou reparar as muralhas em volta da vila. Contudo, não faltaria muito para Castelo Rodrigo quisesse tomar o partido espanhol. Isto porque em 1383, D. Beatriz (filha do controverso casamento entre D. Fernando I e Leonor Teles), contraiu matrimónio com D. João I de Castela.

Aquando do falecimento de D. Fernando, gerou-se um problema na sucessão ao trono, já que a população preteria D. Beatriz em favor de D. João, Mestre de Avis (meio irmão de D. Fernando). Muitas terras do país recusaram-se a celebrar a sua regência – o que não era o caso em Castelo Rodrigo, onde se tomava o partido de D. Beatriz. Contudo, quem viria a ganhar definitivamente o trono português foi o Mestre de Avis, que, assim que venceu os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, ordenou que o brasão de Castelo Rodrigo tivesse as armas reais invertidas. Isto seria o testemunho da deslealdade da vila (aquilo a que se chama um brasão difamado); mas hoje em dia, a freguesia já não ostenta esse famoso símbolo.

Lendas e Mais Lendas

Era inevitável que um local por onde tanta História correu guarde uma colecção enorme de lendas: só no portal da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo estão registadas 35 histórias associadas ao misticismo da região, das quais a mais famosa é a da Serra da Marofa. Conta a lenda que um cavaleiro cristão apaixonou-se pela filha de um rico judeu, chamada Ofa, mas cujo amor era absolutamente proibido. A rapariga, perdidamente apaixonada, viu-se obrigada a refugiar-se em Castelo Rodrigo, uma bonita terra da Beira Alta.

Texto original de Mariana Rodrigues.