Ciclo “Sabores da Escrita” regressa com influência da cultura alimentar judaica no património gastronómico português
O mês de novembro marca, entre múltiplas e únicas experiências culturais na cidade de Coimbra, o regresso do ciclo de conferências e jantares temáticos “Sabores da Escrita”. A penúltima rubrica do ano lança o convite para a descoberta de aspetos da presença da cultura alimentar judaica na paisagem alimentar portuguesa na conferência: “O que não se deve comer: presença da cultura alimentar judaica na cultura gastronómica portuguesa”, conduzida por Paula Barata Dias. O evento decorre na próxima sexta-feira, dia 25 de novembro, na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, pelas 20h00. A conferência tem entrada livre e a participação no jantar (com custos associados) requer marcação prévia, através do e-mail dct@cm-coimbra.pt ou do telefone 239 702 630 (Casa Municipal da Cultura).
Na próxima sexta-feira, dia 25 de novembro, a partir das 20h00, na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, decorre a terceira conferência e jantar temático que integram o ciclo “Sabores da Escrita”. “O que não se deve comer: presença da cultura alimentar judaica na cultura gastronómica portuguesa” vai traçar um interessante percurso pelo laço secular que une as culturas judaica e portuguesa, orientado por Paula Barata Dias, professora auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra. Com esta apresentação, pretende dar-se alguns exemplos da conservação de determinados hábitos alimentares judaicos na cultura portuguesa, mas também exemplos de surpreendentes desaparecimentos.
Já a ementa do jantar, confecionado e servido pelos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra, segue algumas inspirações bíblicas: “Eu sou o pão da vida…” (pão escuro, pão ázimo, azeite, manteiga, preparado de pescado); “Apanhe a carne e os pães sem fermento, ponha-os sobre esta rocha e derrame o Caldo...” (empada de frango com legumes e caldo de legumes com pão); “Nós nos lembramos do peixe que comíamos de graça no Egito…” (perca com molho de manteiga em ervas aromáticas com açorda); “Estes são os animais que comereis…” (borrego estufado com lentilhas e esmagada de grão); “Coma mel, meu filho porque é bom…” (bolo de mel e maçã assada em mel e vinho doce); “O vinho, que alegra o coração do homem…” (vinho branco e tinto, água).
O jantar temático conta ainda com a colaboração cénica da companhia Almanach e da Cooperativa Bonifrates, através de apontamentos cénicos com base em textos bíblicos do Antigo Testamento e nos Autos de Gil Vicente (referentes ao universo judaico), tais como: “Auto da Barca do Inferno”, “Diálogo de uns Judeus sobre a Ressurreição”, “Farsa de Inês Pereira”, “Auto da Lusitânia e “Diálogo da Ressurreição”.
O acesso à conferência é livre. Já os interessados em aderir ao jantar, a que estão associados custos (22,50€/pessoa) e com lotação limitada, devem proceder a uma inscrição, através do e-mail dct@cm-coimbra.pt ou do número de telefone 239 702 630 (Casa Municipal da Cultura).
A iniciativa tem como parceiros da Câmara Municipal de Coimbra, sob o ponto de vista científico, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/ Direção do DIAITA – Património Alimentar da Lusofonia e do Doutoramento em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades, bem como os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra e a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra.
Anterior à fundação de Portugal, a presença de comunidades judaicas no país pautou-se pela discrição, estabilidade, minoria e tolerância em períodos distintos, tanto de dominação árabe, como durante os reinados cristãos. No entanto, a sua existência nos reinos ibéricos foi ameaçada a partir dos séculos XV e XVI, resultando em conversões forçadas, expulsões, vigilância e perseguição destas comunidades nos três séculos seguintes.
Nestas circunstâncias, o que há a esperar da conservação de algumas tradições alimentares judaicas na gastronomia atual? A cultura gastronómica tem uma grande capacidade de resiliência face às adversidades e constitui um vínculo para a coesão de identidades, particularmente quando estas se sentem ameaçadas. Garantir a especificidade alimentar enquanto segredo, transformar os hábitos originais para permitir a ocultação ou, ainda - fruto das ruturas familiares e da adesão forçada ao cristianismo - esquecer a origem judaica de determinadas práticas alimentares, foram estratégias de controlo da mesa que explicam certos pormenores de alguma da nossa gastronomia regional e popular.
Integrada no programa de Natal, a última conferência do projeto “Sabores da Escrita” de 2022 prevê, a 16 de dezembro, uma conferência e jantar temático que irão explorar o universo da comensalidade na literatura natalícia.