Comércio tradicional - Uma feira com alma
Um mercado “único e diferente”. É assim que Catarina Querido des creve a Feira das Almas, iniciativa que criou em 2012. Na altura, a jovem procurava um espaço onde vender bijuteria, mas não encontrou nenhum projeto à sua medida. Estava dado o mote para a criação da Feira das Almas, um mercado de entrada grátis que decorre no primeiro sábado de cada mês na Taberna das Almas, em Lisboa.
O primeiro evento contou com 20 marcas convidadas. Hoje, os stands de venda são mais de 60. Um sucesso que Catarina Querido estava longe de imaginar. “A primeira edição era para ser um evento de uma única vez”, conta a criadora do mercado alternativo. “Daí a tornar-se um evento mensal, pelas mãos de alguém sem experiência nenhuma em organização de eventos, foi uma evolução natural”.
Após o êxito da primeira edição, os pedidos de participação na Feira das Almas cresceram exponencialmente. A seleção dos vendedores para cada edição é feita online, um processo que nem sempre é fácil. “Chegámos a receber cerca de 300 inscrições para um espaço que pode receber apenas 65 bancas”, explica Catarina Querido. “Custa-nos muito recusar vários pedidos, mas não é possível alargar o espaço”.
Vários produtos, várias oportunidades
A ideia de um mercado deste género não é recente, afirma Catarina Querido. “Os artigos usados sempre foram um negócio”, defende. ”Hoje está mais popular porque temos a internet do nosso lado e também nos assombra a dita crise económica”. Uma crise que, acredita, proporciona o surgimento de novas oportunidades. “Muitos jovens estão a criar alternativas ao emprego que não têm, nem que isso passe por juntar todas as roupas que herdaram dos avós, dar-lhes um novo estilo e ganhar dinheiro assim”.
A área da roupa em segunda mão e de vestuário vintage é, aliás, a que mais sucesso faz junto do público. ”Grupos de adolescentes fazem fila às 11:00 horas da manhã para serem as primeiras a entrar na Feira e encontrar as melhores peças”, revela a jovem.
A organização tem procurado diversificar a oferta, apostando particularmente na área artística, através da exposição de trabalhos, da venda de t-shirts, de serigrafias ou até de retratos rápidos, produzidos no pprio espaço.
“O outro lado do sucesso da Feira das Almas são as bancas de produtos únicos, criados pelos próprios vendedores”, destaca Catarina Querido. A oferta passa por “sabonetes artesanais a joalharia e outras atividades, que estão a incentivar as pessoas a criarem negócios próprios”.
Desde lojas online que procuram um espaço físico temporário, até ideias em fase experimental, passando por vendas de colecionadores, atuações musicais ou desfiles de moda, a Feira das Almas é uma plataforma de projeção para vários tipos de projetos. Este negócio, destaca Catarina Querido, é o único meio de subsistência para a grande maioria dos vendedores que participam no evento.
Um mercado em crescimento
Com alternativas para várias carteiras, a Feira das Almas tem crescido em popularidade junto dos visitantes. O preço é um fator decisivo para o sucesso. “O que mais me preocupa é que aumentem os preços descaradamente, pois as pessoas que procuram artigos usados querem encontrar preços simbólicos”, aponta. Se, inicialmente, a Feira das Almas era orientada maioritariamente para jovens do sexo feminino, entre os 16 e os 24 anos, o projeto começa a atrair um público mais generalizado, em grande parte devido à oferta nas áreas artística, musical e alimentar. A Feira das Almas começa também a fazer-se à estrada. A caminho das duas dezenas de edições, o pro- jeto chegou ao Porto. “Organizámos um autocarro com cerca de 30 vendedores de Lisboa para vender lá, e juntámos mais 20 bancas do Norte”, explica Catarina Querido. Depois de duas viagens à cidade nortenha, o balanço é positivo. “Vale muito a pena, apesar do cansaço”, confessa a jovem.
Mas a Feira das Almas não vai ficar por aqui. As várias solicitações recebidas na página oficial do projeto provam a popularidade do conceito a nível nacional. “Estamos agora a estudar as hipóteses para arrancar para mais pontos do país”. Uma alternativa à crise que, a julgar pelo sucesso, veio para ficar.
Texto original de Cátia Soares.