Uma imagem vale mais do que mil palavras?
A pergunta é legítima, tendo em conta o projecto Fifty-Fifty, da autoria de Lília Reis, que tirou 77 fotografias e pediu a outras tantas pessoas para escreverem algo sobre as mesmas.
“Habitualmente, olha-se para uma fotografia – raramente se olha para dentro da fotografia”. As palavras são do fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902-1984) e dizem-nos algo tão simples quão complexo: uma imagem é mais do que isso e cada qual a vê de modo distinto. Ninguém é igual, e cada um se impressiona de modo diferente com uma imagem, interpreta-a à sua maneira. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, mas o que vale aquilo que ela nos diz, o que nos provoca, o que nos faz pensar? Aquilo que pode dizer-se e escrever-se sobre ela?
Foi este o ponto de partida de Lília Reis, enfermeira apaixonada pela fotografia a preto e branco. No ano passado atravessou um período difícil devido a problemas de saúde, mas não deixou de clicar, registar momentos e emoções, captar vidas. Depois, escolheu várias pessoas, a cada qual mostrou uma imagem, e pediu que escrevessem algo sobre ela. O resultado é o projecto “Fifty-Fifty”, que reúne 77 fotografias e outras tantas legendas.
Manteve-se o nome, cresceu a ambição: eram para ser 50 fotos e 50 textos, mas os testemunhos cativaram tanto que assim foi necessário. Há prosa e poesia, uma pintura, há palavras que são verdadeiros rasgos criativos de desportistas, músicos, bombeiros, médicos, barmans ou cakedesigners, entre muitos outros profissionais que aceitaram o desafio. “O critério foi escolher pessoas diferentes, extractos sociais/culturais diferentes e de alguma forma transmitir que todas são capazes de interpretações únicas, muito dignas, especiais”, conta Lídia Reis.
O objectivo da autora foi precisamente esse: estimular a criatividade, o sonho, despertar o lado mais espiritual e criativo de cada pessoa. Quis que cada uma, ao olhar para a imagem, se colocasse no lugar de quem a tirou e de quem foi captado, vivesse o mesmo processo de descoberta, de contacto com o desconhecido, e a partir daí fizesse a sua interpretação. Tentou – e continua a tentar – que as pessoas não encarem o mundo de forma tão individual. Nenhum participante teve acesso prévio à imagem ou texto de nenhum outro, e também por isso o projecto é tão rico. “Todos os convidados (dos mais conhecidos aos menos) foram excelentes e aos mesmos agradeço o resultado deste trabalho”, confessa. As 77 obras de arte podem ser vistas na página de facebook Portugueselily e no blogue com o mesmo nome. O objectivo de Lília Reis é que Fifty-Fifty resulte numa exposição “com música agradável” e cujos textos estejam também em braile.