E não me digam que é pecado capital esta paixão lisboeta e verdadeira

E não me digam que é pecado capital esta paixão lisboeta e verdadeira
Fotografia: José Frade

Começou junho, cheira a festa em Lisboa. Há um travo que os alfacinhas detetam facilmente mas que os de fora demoram a reconhecer. É o cheiro da folia, dos arraiais e bailaricos, das flores e das marchas que se preparam para sair à rua, são os vestidos das noivas acabados de comprar, a identidade de uma outra capital, a mais pitoresca. A melhor, dizem alguns. Come-se sardinha e fazem-se obras de arte com ela.

O humorista Bruno Nogueira e a cantora Manuela Azevedo vão desconstruir a portugalidade com humor, reinventando algumas das canções mais populares no dia de Portugal, 10 de junho, “o que já é dizer muito sobre o estado do país”, brinca Nogueira, citado pela Empresa municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultura (EGEAC), que organiza as Festas. No Terreiro do Paço, os dois vão ter a companhia da Orquestra Metropolitana de Lisboa e alguns convidados, como Jorge Palma, Sara Tavares e Trovante, o que, segundo o artista, “já é dizer muito sobre o estado de desespero dos mesmos”.

Num tom mais sério, Bruno Nogueira garante que vai saber-lhe bem cada minuto que estiver em palco com a orquestra. “Se isso vos acontecer também, temos tudo o que precisamos para uma noite feliz”. O problema é que nesse dia se realiza igualmente o primeiro jogo do Euro 2016, “pelo que também é possível que levemos com uma caneca na cara e o concerto dure dois minutos. Mas se isso não acontecer, vai ser um belo serão”, garante o humorista, que apesar de andar em digressão com “Deixem o Pimba em Paz” desde 2013, confessa que nunca teve um “enquadramento tão bonito”. A entrada é livre, a partir das 22:00 horas.

A “visão irreverente” das Festas chega pela mão de Rafael Bordalo Pinheiro no ano em que se assinalam os 170 anos do seu nascimento e o centenário do museu que lhe presta homenagem, o primeiro em Portugal dedicado à obra de um só artista, o homem que aliou o humor ao talento para comentar os podres da vida política e denunciar as injustiças sociais, o criador do Zé Povinho, retrato do povo português atento às negociatas políticas mas incapaz de reagir. “Ter Rafael Bordalo Pinheiro como tema das Marchas Populares neste ano tão especial de 2016 vai ser com certeza um motivo para aumentar a alegria das Festas de Lisboa e um convite a ir até ao Campo Grande, visitar o seu museu”, sublinha o coordenador desse espaço, João Alpuim Botelho.