“Génio criativo”
O Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC) foi criado no ano seguinte com o objectivo de gerir, proteger, musealizar e promover a arte rupestre do Vale do Côa – é um território de duzentos quilómetros quadrados que abrange os concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Meda, Pinhel eVila Nova de Foz Côa e que a Unesco classificou como Património Mundial em 1998.
Trata-se do mais importante conjunto de figurações paleolíticas até hoje descoberto, datadas de 25.000 a.C. a 10.000 a.C. e distribuindo-se ao longo de dois grandes eixos fluviais: os rios Côa, numa extensão de quase 30 quilómetros, e Douro, em cerca de 15. Actualmente são conhecidas mais de mil rochas com manifestações rupestres, em mais de 70 sítios, com predomínio para as gravuras paleolíticas, seguidas por motivos da Idade do Ferro, Época histórica e Pré-história recente, respectivamente.
“A Arte Rupestre do Paleolítico Superior do Vale do Côa é uma ilustração excepcional do rápido desenvolvimento do génio criativo do homem/mulher, na alvorada do seu desenvolvimento cultural; […] é uma extraordinária demonstração da vida social, económica e espiritual do primeiro antepassado da humanidade”, sublinhou a Unesco no relatório da 22ª sessão da Comissão do Património Mundial, realizada em Tóquio em 1999.
O PAVC organiza visitas guiadas a três dos principais sítios: Canada do Inferno, Penascosa e Ribeira de Piscos. As viagens são feitas numa carrinha todo-o-terreno com capacidade para oito pessoas, sem contar com o guia, que tem formação especializada em arte rupestre. Muitas vezes usando uma erva comprida com a função de indicador, é ele que vai revelando aos turistas as gravuras de animais feitas na pedra pelos nossos antepassados. Quase todas retratam auroques (touros selvagens), cavalos, veados e cabras montesas.
“Se eles não tivessem conseguido caçar, não tinham sobrevivido e não estaríamos aqui hoje”, sublinha o arqueólogo António Batarda, que tem estudado as gravuras do Côa. Não havendo lápis ou marcadores, essas representações eram feitas com uma pedra. “As rochas são como que folhas de um livro, estão mesmo a pedir que sejam riscadas, desenhadas”. Conscientes ou não, esses homens e mulheres estavam a fazer arte. “Homo sapiens sapiens quer dizer o homem que sabe que sabe, o que lhe permite ter uma coisa que mais nenhum animal tem: cultura”, nota o investigador. No século passado, os moleiros acrescentaram algo a este museu ao ar livre, usando também eles as rochas antigas para desenhar peixes, barcos, comboios, aves, custódias ou o Sol e a Lua antropomorfizados.