No pulmão Transmontano
Macedo de Cavaleiros é a definição de museu ao ar livre: todo o concelho abrange o geoparque.
São 700 km2 em pleno Nordeste Transmontano que fazem do concelho Macedo de Cavaleiros um geoparque em si mesmo. Coroado em 2015, o Geopark Terras de Cavaleiros é o último dos parques portugueses a juntar-se à lista da UNESCO. Mas a vivência do território é bem mais antiga: nele, encontram-se vestígios geográficos de 540 milhões de anos.
O geoparque encontra-se no planalto de Trás os Montes, sendo abraçado pelas Serra de Nogueira, Serra de Ala, Serra do Cubo, e a Serra de Bornes. A limitá-lo a Este está o Monte de Morais, que perfaz a transição da Terra Fria planáltica para a Terra Quente do Tua e Douro Superior.
Estas altitudes desafiam o olhar: nem por menos, um dos geossítios classificados do parque é o miradouro Panorâmica Bornes Sul, que permite vislumbrar o grande vale da depressão da Vilariça. O vale constituiu uma falha geográfica que se estende por 250 quilómetros, desde Portelo até ao maciço central da Serra da Estrela. A par com as imensas serras, esta zona do país distingue-se pelo clima agreste. Quem não conhece a expressão popular “Nove meses de Inverno e três de Inferno”? É assim que a gíria popular retrata a esmagadora diferença de temperaturas entre as estações do ano. Se, porventura, esta austeridade de paisagem pode não parece muito convidativa, a verdade é que estas particularidades da fisionomia geográfica fazem de Trás-os-Montes um destino único.
Geossítios
Quando os técnicos da Rede Europeia de Geoparks visitaram o parque Terras de Cavaleiros para auscultar a candidatura à UNESCO, foram levados a visitar geossítios como os Gnaisses de Lagoa e o Poço dos Paus. Claramente o charme resultou, pois até hoje são pontos muito procurados. Os Gnaisses de Lagoa são de uma imensa importância geográfica, pois calcula-se que possuam entre 500 a 1000 milhões de anos. São, portanto, um testemunho do supercontinente primitivo que esteve na origem dos continentes actuais.
Outro caso que que prova isso mesmo é o Maciço de Morais, apelidado de "umbigo do mundo" pelos geólogos. Isto porque apresenta vestígios de dois continentes e de um oceano desaparecidos e envolvidos na formação daquela cadeia de montanhas, há mais de 280 milhões de anos, quando continentes chocaram e empurraram a placa do fundo do mar que os separava.
Do Poço dos Paus diz-se que é um autêntico oceano… à superfície da terra. Isto porque o Poço resulta de uma expansão dum fundo oceânico que originou rochas com características próprias (diques máficos e gabros) após uma colisão e subducção; tal deu azo a que uma cordilheira montanhosa irrompesse e depois fosse erodida.
Fora de água, o geoparque possui minas a céu aberto - assim é o Complexo Mineiro de Murçós. Constituído por diversas frentes de exploração, o complexo remonta ao ano de 1940, altura em que se começaram a extrair volfrâmio de Murçós.
Estes são apenas alguns dos 42 geossítios que constam na lista do Geopark Terras de Cavaleiros.
Mil e Um Planos
Aventurar-se ou relaxar: a escolha fica difícil em Terras de Cavaleiros, já que no geoparque tanto pode-se praticar BTT, canoagem, asa-delta, escalada, motocross ou equitação. Para quem for fã de desportos na água, há remo, canoagem, vela e windsurf à escolha.
Se preferir aventurar-se intelectualmente, o parque dinamiza os cursos de identificação e conservação de Cogumelos Silvestres e de Orquídeas Selvagens. E, com o programa “Ciência Viva”, os interessados em Geologia, Biologia e Astronomia podem saciar a sua curiosidade com passeios guiados por técnicos especializados. A alternativa mais simples e descontraída é descansar na Praia Fluvial da Fraga da Pegada ou na Praia Fluvial da Ribeira, esta última eleita em 2012 uma das 7 Maravilhas de Portugal…
Terra de um Cavaleiro Heróico
O nome “Terras de Cavaleiros” advém de Martim Gonçalves de Macedo, o cavaleiro que impediu um desferimento fatal a D. João I, Mestre de Avis, durante a Batalha de Aljubarrota de 1385. Foi por isso considerado um herói salvador da pátria, e a ele deve-se a designação da região.
Texto original de Mariana Rodrigues.