O Pioneiro

O Pioneiro
Fotografia: Geopark Naturtejo

Foi o Geopark Naturtejo o primeiro geoparque português a ser reconhecido.

Foi ele o precursor. O Geopark Naturtejo da Meseta Meridional juntou-se à Rede Europeia e Global de Geoparques em 2006, fazendo dos seus mais de 5000km2 a primeira zona de interesse geoturístico protegida em Portugal pela alçada da UNESCO.

A área do geoparque estende-se pelos concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor, Proença-a-Nova, Nisa, Oleiros e Vila Velha de Ródão. Aqui, há segredos com 600 milhões de anos banhados pelo Tejo, o maior rio de Portugal. Também o Zêzere pinta a paisagem, com os seus meandros e a garganta - classificados como geomonumentos - que atravessam a região das Aldeias de Xisto.

Do património construído do Naturtejo fazem parte duas aldeias históricas (Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha), o conjunto das aldeias de xisto, castelos, fortificações, igrejas, e vestígios arqueológicos.

 

Duplo Tesouro

O Geopark Naturtejo inclui no seu território o Parque Natural do Tejo Internacional, que por sua vez constitui uma reserva da biosfera transfronteiriça pela UNESCO desde 2016. Assim, a criação do Parque Natural do Tejo Internacional reforça a colaboração com Espanha no sentido de unir forças para resguardar e classificar o legado geomorfológico, geológico, paleontológico e geomineiro. Sem esquecer, claro está, os rastos de culturas que por aqui passaram: pagãos, romanos, árabes, judeus e cristãos deram azo a uma herança multicultural muito própria.

No total, o Naturtejo tem em si 16 geomonumentos, dos quais constam as Portas de Ródão, um dos destinos portugueses mais populares para observação de aves. Consistem numa formação geológica resultante da intersecção do duro relevo quartzítico da Serra das Talhadas com o curso do rio Tejo. Aqui há um estreitamento do vale que faz lembrar duas "portas" - uma em Vila Velha de Ródão e outra em Nisa. Por estes lados costumam habitar grifos, cegonhas pretas e milhafres reais - não é por acaso que o Naturtejo dispõe de variados programas para a observação de aves.

Perto das Portas de Ródão situa-se a Área Arqueológica do Conhal, uma área de mais de 90 hectares com indicadores de uma actividade mineira antiga: sabe-se que aqui houve explorações de jazigos secundários de ouro, cujo auge foi atingido no período romano.

Senhoras Antigas de Verde… 

Um dos tesouros mais bem guardados do Naturtejo são as árvores, algumas centenárias e até quase milenárias. Com a Rota das Árvores Monumentais, é possível aprender-se as curiosidades e lendas associadas a este discreto património verde. É o caso da oliveira de Senhora da Alagada, em Vila Velha de Rodão, a árvore mais “idosa” do Naturtejo – conta já com mais de 700 aniversários! Reza a história que a Senhora da Alagada terá feito uma aparição no interior do tronco da oliveira, e que a sua imagem foi transportada pelo Tejo durante as cheias. Por três vezes a imagem foi levada para a igreja matriz de Vila Velha de Ródão, mas acabava por voltar sempre para a oliveira… Portanto, fez-se a vontade da Senhora de ficar na árvore, e foi precisamente aí que ergueu-se a capela.

Em Idanha-a-Nova encontra-se um freixo com 200 anos de idade, que terá sido plantado para que o visigodo Wamba pudesse ser Rei. Diz a lenda que Wamba andaria a lavrar as terras quando os servos da corte lhe comunicaram que ia ascender ao trono, ao que Wamba terá retorquido que só aceitaria mediante a vontade de Deus, e que para isso a vara que empunhava teria que se transformar em árvore. Dito e feito: a vara transformou-se no freixo e assim Wamba soube que estava destinado a reinar. Apesar de não serem igualmente lendárias, as restantes árvores da Rota são também impressionantes. Disso são exemplo a azinheira com cerca de 400 anos e 20 metros de diâmetro na copa situada à entrada de Perais, em Vila Velha de Ródão, e a oliveira de Montes da Senhora, em Proença-a-Nova (com a mesma idade), considerada uma Árvore de Interesse Público pela Autoridade Florestal Nacional.

Da Rota fazem também parte os troncos fósseis de anoneira, que têm nada mais nada menos do que 5 a 15 milhões de anos. São restos petrificados de árvores, incluindo as suas folhas e frutos, que terão sido fossilizado em terrenos arenosos e postos a descoberto pelo Rio Tejo há quase 1 milhão de anos. Crê-se que os romanos descobriram os fósseis quando exploravam as cascalheiras em busca de ouro.

Ou seja, já há muitos séculos que se sabe que as terras do Naturtejo são uma relíquia por si mesmas…

A Lenda do Rei Wamba e da Maldição de Ródão

A história do Naturtejo não se faz só da paisagem... no parque também habitam mitos da realeza. Foi nas Portas de Ródão que teve lugar o famoso epi- sódio de traição do Rei Wamba. Este rei visigodo, que terá vivido na zona por volta de 672, habitava no castelo juntamente com a sua mulher. Mas a esposa de Wamba tê-lo-á preterido em favor de um rei mouro que habitava do outro lado. O amante construiu um tú- nel por debaixo do Tejo, mas falhou o percurso e acabou por sair acima do nível das águas por um buraco que ainda hoje existe. Ao saber da paixão secreta, o Rei Wamba decidiu entre- gar livremente a esposa ao mouro… atando-a à pedra duma mó e fazendo-a rolar pela encosta abaixo. Diz a lenda que a rainha terá amaldiçoado a terra para nunca mais crescer vegetação na encosta do Tejo. Mas, mitos à parte, o castelo de Ródão continua em pé e da sua torre de menagem pode-se ter uma vista espectacular sobre o rio.

Uma descoberta a Pedalar

No Geopark Naturtejo existem quatro centros BTT e até uma rede de Bikotels, ou seja, hotéis certificados para rece- ber biciclistas. Os fãs da bicicleta de montanha podem ainda lançar-se à Via BTT da Serra do Muradal, integrada na Grande Rota Muradal-Pangea, do Trilho Internacional dos Apalaches.

Texto original de Mariana Rodrigues.