Cidades do Futuro - Parte 3
Entrevista ao Presidente da Camâra Municipal de Viseu Dr. Almeida Henriques:
O Portugal 2020 não tem propriamente instrumentos de apoio a projectos como a smart cities. Porque é que isto acontece? O que é preciso mudar?
Acho que o Portugal 2020 foi mal desenhado desse ponto de vista, porque, tirando a vertente da mobilidade, onde pode encontrar-se algum apoio, falta aqui uma visão integrada. Há muitas componentes da inteligência urbana que têm que estar presentes. Hoje, quando olhamos para uma cidade, temos de perceber onde é que a tecnologia pode ser útil para os cidadãos. Já falámos nalgumas áreas, mas falta-nos falar da segurança, na promoção do empreendedorismo, numa base de dados interactiva onde os cidadãos possam procurar informação e interagir com o município e que permita medir níveis de satisfação dos mesmos. Deveria haver uma porta de entrada para as cidades que lhes permitisse ter uma gestão integrada no domínio da inteligência urbana, porque isso significa utilização dos recursos e satisfação dos nossos munícipes. Acho que isso deveria ser um dos pontos centrais daquilo que é a política de desenvolvimento urbano. A ANMP apresentou essa sugestão, tenho a expectativa de que na reprogramação do Portugal 2020 a inteligência urbana venha a ter um papel central.
No ano passado desafiou a Altice a criar uma base de dados nacional e pública que juntasse informações do Estado, das autarquias, das empresas e de outras entidades. De que modo isso poderia ser bom para as smart cities?
Temos um projecto pioneiro, com a Altice. Estamos a criar a primeira data base aqui em Viseu, mas o objectivo é muito mais ambicioso: é podermos evoluir no sentido de criar uma base de dados nacional onde todos os municípios estejam envolvidos. Isto contribuiria para a melhoria no acesso aos serviços e para a transparência, porque os munícipes acabam por ter ali um acesso não só à informação do município mas de todas as entidades que inveterarem com ele, desde o sistema de ensino às empresas, à segurança. Enfim, todas as entidades que constituem a cidade teriam as suas bases de dados disponíveis, acessíveis não aos cidadãos mas também, por exemplo, ao sistema científico: as escolas poderem, com essas bases de dados, estudar fenómenos das cidades como a mobilidade, a eficiência energética, os comportamentos sociais, etc.
A secção de smart cities da Associação Nacional de Municípios tem actualmente 124 membros. O que falta para convencer os restantes 184 a aderirem?
Penso que este vai ser um processo muito natural. Enquanto no início o conceito de smart city aparecia muito associado a grandes cidades e havia muito a ideia de íamos polvilhar as cidades de chips, retirando até as flores, eventualmente, hoje já está a ser mais interiorizado. Penso que o Portugal Smart Cities Summit [de 11 a 13 de Abril] vai ser um momento de democratização do conceito de inteligência urbana. Vamos fazer um tour pelas sete regiões, que depois de traduzirá numa cimeira de autarcas, no dia 11 de Abril. Nesse evento vai ser possível mostrar a cidade nas suas diferentes componentes da inovação urbana, e o envolvimento dos estudantes do ensino secundário e superior vai ajudar a desmistificar muito o conceito, para que as pesso- as percebam que quando falamos de smart cities não estamos a falar de futurologia, mas de algo em que Portugal tem competências muito fortes que podem ser exportadas. Porque ao aplicarmos nas nossas cidades médias estes novos conceitos, esta nova tecnologia, não estamos só a servir melhor os munícipes e a permitir uma eficiência maior na gestão dos municípios, mas também a vender tecnologia portuguesa. Todos os municípios vão acabar por actuar no domínio da eficiência energéticas, da mobilidade, da sustentabilidade ambiental, porque isso também tem muito a ver com o futuro e com a optimização do próprio orçamento de cada um. Acho quês esta adesão já maciça dos municípios à secção de smart cities é o embrião de algo que vai contaminar positivamente todos os outros.